Distrito com maior votação de Nunes tem ressaca de eleição e avalanche de obras

Uma image de notas de 20 reais

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A festa parece ter sido boa na birosca de Everson Andrade, um homem alto, de 45 anos, que gosta de posar para fotos, ladeado por garrafas de cerveja vazias. Do dia seguinte só sobraram uma coxa de frango e um pastel, dois gélidos salgados. Ali no distrito de Pedreira, que fica na zona sul da capital paulista, foi muito comemorada a ida do prefeito Ricardo Nunes (MDB) para o segundo turno das eleições municipais.

“O que mais escutei no meu estabelecimento é que o Nunes era o candidato exemplar para a nossa comunidade”, diz ele, alternando sorrisos a expressões sérias para a câmera.

Pedreira, distrito fronteiriço a Diadema, deu a mais expressiva votação a Nunes entre todos os bairros de São Paulo. O prefeito obteve ali 35% dos votos, seguido por Pablo Marçal (PRTB) e Guilherme Boulos (PSOL), ambos com 25%. De modo geral, os eleitores atribuem o êxito do prefeito à série de obras que foram entregues na região.

Ao mesmo tempo, dizem que Nunes passou a maior parte do mandato sem ir até o distrito, onde há muito a ser feito nas áreas da saúde e do transporte. “Se você não tem nada e, de uma hora para outra, você tem algo, então melhorou um pouco”, explica Andrade.

Descendo a estrada do Alvarenga, onde fica o bar, a ressaca do primeiro turno materializa-se em santinhos com o rosto do prefeito espalhados na calçada. Logo se percebe a movimentação dos trabalhadores, que dão os retoques finais na ampliação da estrada. Os engarrafamentos são um problema histórico na via, por onde um fluxo de automóveis se desloca todos os dias, no ir e vir a Diadema. A obra foi iniciada em abril de 2023, depois que parte da via cedeu. No final daquele ano, Nunes pediu rapidez nos trabalhos.

Ela seria entregue em maio deste ano, com uma ampliação de 10,5 metros de largura na pista. Para tanto, o investimento da prefeitura foi de R$ 65 milhões. No período, o Ministério Público chegou a pedir para a Justiça paralisar a reforma por falta de licença ambiental.

A ampliação da via é uma das várias obras emergenciais, sem licitação, realizadas pelo atual prefeito. Entre o fim da gestão Bruno Covas, morto há três anos, e o primeiro ano do mandato de Nunes, houve um aumento de 1.313% no uso desse expediente, segundo um relatório do Tribunal de Contas do Município (TCM).

Muitas das obras foram parar nos 6 minutos e 30 segundos de propaganda de Nunes na TV durante o primeiro turno, sob o lema “Ricardo fez/ Ricardo faz”. Na televisão, o prefeito se apresentava como “cria da periferia”. Morador de Interlagos, também na zona sul, Nunes já era conhecido dos habitantes de Pedreira.

Para se ter algum serviço de assistência do então diretor da Associação Empresarial da Região Sul, bastava passar a mão no telefone. “Ele está prestando atenção na gente, a nossa vida melhorou com as obras. Nunes é forte aqui”, diz a ambulante Karina Verônica, de 45 anos. Três dias antes do primeiro turno da eleição, o candidato à reeleição esteve no distrito, numa agenda de campanha.

Pedreira ganhou esse nome por causa das formações rochosas da região, às margens da represa Billings, um dos mais importantes reservatórios de água de São Paulo, construído nos anos 1920 pelo engenheiro americano Asa White Kenney Billings. O distrito tem quase 164 mil habitantes, numa área de 19 km². O IDH é de 0,777, um dos piores índices da cidade.

Além do trânsito carregado, a geografia do local, longe do centro, não favorece a mobilidade urbana se não tiver um terminal rodoviário. Não à toa, Nunes inaugurou, também em maio, o primeiro transporte hidroviário da cidade. O Aquático consiste em duas embarcações, que fazem o trajeto entre Pedreira, Cantinho do Céu e Grajaú, numa travessia de 17 minutos.

O transporte hidroviário era um projeto antigo de Nunes, que surgiu em 2014, quando ele ainda era vereador. A realização do Aquático encontrou resistências de quem morava às margens da Billings e teve de deixar o local.

O valor total investido foi de R$ 160 milhões. De início, a Transwolff, empresa investigada sob suspeita de ter elos com o PCC, administraria o transporte. Com as investigações do Ministério Público, o prefeito decidiu afastar a empresa da iniciativa. Na Billings, não é possível encontrar sinais de Guilherme Boulos (PSOL), adversário de Nunes no segundo turno. Só se vê Nunes, em lambe-lambes afixados nas muretas.

“Quando um político passa três anos despercebido, é sinal de que o cara está trabalhando”, afirma o comerciante Francisco de Oliveira, de 77 anos. “A gente não conhece o Boulos, e eu nunca votei na esquerda.”

Oliveira diz ter ficado aliviado com a inauguração, em março, da UPA Parque Doroteia, a poucos metros de sua casa. As pessoas mais velhas de Pedreira sempre sofreram, diz ele, para conseguir atendimento médico.

Ele afirma ainda que o problema da segurança é persistente. Relata que os médicos da UPA têm reclamado dos assaltos na região. O chaveiro Marcelo Moreira, de 61 anos, é mais reticente ao avaliar as obras de Nunes. Afinal, conta, as filas na UPA ainda são longas. “Em época de eleição os políticos aparecem, sempre acontece alguma novidade”, diz.

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