ESPECIAL: 25 DE MARÇO-160 ANOS. As lojas da família de Nelson Kheirallah na 25: tudo começou lá

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"A 25 de Março ainda é o símbolo do comércio, do varejo"
(Andre Lessa/Agência DC News)
  • Avô e pai do vice-presidente da ACSP e coordenador do Conselho do Varejo tiveram lojas na região. A mãe e os oito irmãos moraram numa delas
  • Para ele, apesar das transformações da cidade e do próprio varejo, a rua "ainda é o símbolo do comércio" em São Paulo
Por Vitor Nuzzi

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e coordenador do Conselho do Varejo (CdV) da entidade, Nelson Felipe Kheirallah tem raízes familiares na rua 25 de Março. Desde o final do século 19, quando seu avô materno, o libanês Neme Haddad, chegou ao Brasil. Por volta de 1910, abriu uma loja de tecidos na esquina com a chamada Ladeira da Constituição – na verdade, uma rua que liga a 25 à Florêncio de Abreu. Era uma construção grande. Como lembra Kheirallah, naquela época os comerciantes moravam com suas famílias na parte superior dos estabelecimentos comerciais. “Minha mãe [Yvone Neme Haddad] morou em cima da loja do meu avô. Só precisava descer a escada para trabalhar”, disse Kheirallah, em entrevista que integra uma série de reportagens, que serão publicadas ao longo do mês, para o Especial 25 de Março-160 anos.

Eram nove filhos, tios do atual coordenador do Conselho do Varejo. Foram eles que assumiram a loja quando Neme Haddad morreu, em 1929. “Mais tarde, eles venderam e abriram uma tecelagem.” Não é o único vínculo com a região da 25. Nos anos 1940, o pai de Nelson, Philippe Kheirallah, abriu um depósito de sedas na rua até então chamada Itobi – a atual Cavalheiro Basílio Jafet. Ali foi erguida a primeira igreja ortodoxa do Brasil. Inaugurada em 1904, a Igreja Ortodoxa Antioquina da Anunciação a Nossa Senhora fica no número 115. Já no final dos anos 1930, começou a ser construída a futura Catedral Ortodoxa de São Paulo, inaugurada em janeiro de 1954, na rua Vergueiro. Junto com a Catedral da Sé, aberta durante as comemorações do Quarto Centenário da cidade, ainda sem as torres principais, concluídas cinco anos depois. Mais adiante, lembra Kheirallah, o pai também vendeu o negócio para abrir uma fábrica de meias.

Nelson Kheirallah nasceu em 1947 na região central de São Paulo – em um hospital no Largo Santa Cecília. Mas foi criado na região do Ipiranga. Morou na rua dos Patriotas até os 11 anos. Ali, na esquina da Patriotas com a Bom Pastor, ficam quatro palacetes construídos pela família Jafet, com quem os Kheirallah têm parentesco – ambos são de origem libanesa. Talvez o mais conhecido seja o Palácio dos Cedros, inaugurado em 1923, que hoje é usado para eventos. “Antigamente, os então industriais procuravam morar perto da fábrica”, disse Kheirallah.

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Criado na região fabril do Ipiranga, ele observa que na época em que era criança o comércio ainda se concentrava no Centro. “O primeiro shopping, o Iguatemi, é de 1966.” Depois, foram se desenvolvendo ruas comerciais “temáticas”, como a Santa Ifigênia, “novos tipos de comércio, segmentos diferentes de varejo”. Também houve o deslocamento da população, do Centro para os bairros. “Esse é um grande desafio”, afirmou o vice-presidente da ACSP. Atrair moradores para a região central é parte do processo de recuperação dessa área. Mas já está melhorando de forma significativa, em termos de governança. “A hora que fizer moradias no Centro, apartamentos para a classe média, aí que o Centro vai renascer mesmo.”

Mas, nessa história, uma rua preservou suas características. “A 25 de Março ainda é o símbolo do comércio, do varejo”, afirmou Nelson Kheirallah. Embora não tenha trabalhado ali, como o pai e o avô, ele por pouco não nasceu no mesmo dia em que a rua ganhou seu nome atual: no próximo dia 30, completará 78 anos. Dois dias antes, a 25 chegará aos 160.

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