SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O influenciador Pablo Marçal (PRTB), candidato à Prefeitura de São Paulo, tratou propostas como “sonhos” e afirmou que o programa de governo é apenas um rumo durante sabatina Folha/UOL na manhã desta quarta-feira (4).
Questionado, por exemplo, sobre a viabilidade da promessa de triplicar o efetivo da Guarda Municipal em quatro anos, considerando o alto custo envolvido e a limitada capacidade de treinamento de novos profissionais, Marçal respondeu que “não vai fazer em quatro anos”.
“O problema é que todo mundo quer fazer em quatro anos, vai embora e o outro larga (…) A gente só tem política eleitoreira”, disse. O influenciador afirmou ainda que o plano é um rumo e que está pensando em políticas públicas a longo prazo.
Em outro momento da entrevista, o empresário afirmou também: “Plano é uma coisa, um norte, depois vamos para os projetos técnicos e depois para a prática”.
Fabíola Cidral conduziu a sabatina, com participação dos jornalistas Raquel Landim, do UOL, e Fábio Haddad, editor da Folha de S.Paulo.
Marçal voltou a prometer escolas olímpicas e a adoção de novas disciplinas, como “inteligência socioemocional”, “empresarização” e educação financeira, comprometendo-se a cumprir a base curricular obrigatória. “Se ensinar educação financeira desde pequeno, a pessoa não fica dependente do Estado”, afirmou.
“Vamos ter as crianças treinando. Centro olímpico custa R$ 1,5 milhão. Queremos fazer em todas as escolas. Isso é progressivo, não é no primeiro ano, no segundo”, disse.
O empresário afirmou ainda que é preciso ensinar as profissões do futuro para que o “garoto da favela” possa sonhar desde pequeno. “Hoje eles querem ser jogador de futebol, MC, ou ser do crime. Isso a maior parte das crianças.”
Questionado sobre o ensino de educação sexual nas escolas, Marçal respondeu que a escola não é ambiente de “erotização” e que a disciplina deve se chamar “segurança sexual”. O objetivo, segundo ele, será ensinar a criança a identificar e se proteger de abusos sexuais, além de orientar os pais sobre o assunto.
Marçal também voltou a se referir a si próprio como um professor e a dizer que é dono de uma escola. Afirmou que o primeiro passo é treinar os docentes para evoluir o aprendizado. “Não conheço processo de mudar mentalidade na ponta se não conseguir entrar no coração dos professores (…) Eu não sou coach, mas dou aula, sou mentor de muitos empresários, trabalhadores.”
Perguntado sobre como promete criar 2 milhões de empregos se a cidade tem 499 mil desempregados, Marçal negou ter inflado o número e afirmou que há “desempregados profissionais” envolvidos pelo assistencialismo do governo. Afirmou que o único prefeito que teve mentalidade empreendedora foi João Doria, a quem chamou de “traidor”.
O candidato voltou a mencionar sua proposta de criar um cinturão de empregos na periferia, reduzindo o tempo gasto pelo morador com transporte, melhorando sua qualidade de vida e permitindo que ele tenha horas livres para fazer exercício físico.
Questionado sobre a semelhança de uma de suas propostas com o programa Corujão da Saúde da gestão Doria, que visava reduzir as filas para os exames, Marçal respondeu que no seu caso o projeto dará certo porque haverá parcerias com outros municípios e com o Governo do Estado.
“Doria fez um governo de seis meses, depois empolgou, foi embora para o governo e largou a prefeitura. As coisas que acabou testando e funcionando foram por água abaixo”, disse.
O influenciador também prometeu usar imóveis da prefeitura sem destinação para construir casas de apoio e, assim, desafogar a ocupação de leitos nos hospitais, e para resolver o déficit habitacional a partir de permutas em áreas ocupadas e embargadas pela Justiça.
Além disso, Marçal prometeu a entrega de cheques moradia a habitantes da periferia com renda inferior a R$ 2 mil para a compra de material de construção a ser usado em reformas dos imóveis. “Mas vai ter que usar na sua quebrada para movimentar a economia local”, disse.
O influenciador também afirmou que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) enterra sua carreira política ao citar seu nome para defender o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Em depoimento exibido pela campanha de Nunes, Tarcísio pede voto para o aliado e diz que “Marçal é a porta de entrada para Boulos”.
O governador fez referência à pesquisa da Qaest que mostra que o prefeito teria um desempenho melhor que o influenciador num eventual segundo turno com o candidato do PSOL. “Eu não quero que a esquerda ganhe. Eu não quero o Boulos”, afirma Tarcísio na gravação.
Na sabatina, Marçal disse ainda que havia firmado um acordo de cessar-fogo com o governador. “Sua decisão de tocar no meu nome é errada porque isso vai manchar sua carreira política”, afirmou.
Marçal se referiu ao governador como uma “criatura feita pela transmissão de votos” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e disse que Tarcísio terá “um problema [eleitoral] muito sério” em 2026 se continuar a atacá-lo. “Eu tenho representado essa frente do conservadorismo. Sou um representante forte aqui em São Paulo.”
O influenciador também afirmou que só sairá candidato a presidente em 2026 se o presidente Lula (PT) morrer até lá. Ele disse ainda que acredita que Bolsonaro tem condições de reverter sua inelegibilidade, e que o “plano brilhante” envolve a derrota do petista para o ex-presidente nas próximas eleições presidenciais.
“Bolsonaro presidente de novo, Tarcísio governador reeleito parando de falar essas asneiras, Marçal prefeito de São Paulo. É a tríplice coroa.”
O empresário, porém, afirmou em seguida que, se esse plano não funcionar e Lula morrer, ele será candidato a presidente. “Nem Tarcísio vai dar conta, porque apoiou o cara errado, Bolsonaro vai estar inelegível, e eu quero servir ao Brasil.”
Marçal defendeu ainda que o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), seja investigado por “excessos”, segundo ele, em decisões como a do bloqueio da rede social X (ex-Twitter) no país.
O candidato foi questionado se concorda com o pedido de impeachment de Moraes e afirmou que isso deve ser tratado entre os senadores. “Devem ser cobrados até o último suspiro”, disse.
Marçal também indicou temer consequências de falar sobre o tema. “Vocês sabem que o meu partido é frágil e qualquer coisinha pode derrubar. Eu entrar numa guerra dessa vai destruir minha candidatura.”