BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O adversário do ditador Nicolás Maduro nas eleições presidenciais da Venezuela, Edmundo González, foi intimado pelo Ministério Público do país para depor na segunda-feira (26) numa investigação criminal aberta após a oposição afirmar que as eleições de 28 de julho foram fraudadas.
González, segundo o Ministério Público alinhado ao regime de Maduro, é investigado por supostamente ter fraudado documento público, instigado a desobediência às leis, e cometido delitos informáticos, além de associação criminosa e conspiração.
O órgão venezuelano afirmou em seu perfil no Instagram que o depoimento será realizado às 10h, e que o González terá que explicar a publicação e manutenção de um site da oposição que divulgou atas eleitorais que provariam a derrota de Maduro.
As atas eleitorais são documentos que, como os boletins de urna brasileiros, permitiriam comprovar a lisura do processo eleitoral de forma independente e que a ditadura se recusa a divulgar a despeito da pressão internacional.
Nesta sexta-feira (23), o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, saudou a homologação da reeleição do ditador Nicolás Maduro, anunciada pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) na véspera e contestada por diversos países e organizações independentes.
Na TV estatal, ele anunciou que iria convocar González a depor. “Ele vai ter que dar as caras”, disse Saab sobre González.
O opositor havia se recusado a comparecer em uma audiência do TSJ no início do mês e, por temor de represálias, não aparece em público desde 30 de julho, quando participou de uma manifestação. Desde então, vem limitando sua atuação às redes sociais.
Em 5 de agosto, o Ministério Público anunciou a abertura da investigação contra González e contra a líder da oposição a Maduro impedida de disputar a Presidência, María Corina Machado, por suspeitas de “instigação à insurreição” e outras irregularidades.
“Terá que ir a esta convocação para falar sobre a sua responsabilidade antes, durante e depois do 28 de julho [data das eleições presidenciais] por sua contumácia e desobediência às autoridades legitimamente constituídas”, afirmou Saab.
Saab disse que, ao publicar as atas em um site aberto ao público, González usurpou “poderes que só cabem ao Poder Eleitoral”. Uma checagem dos papéis realizada por um projeto independente colombiano constatou, porém, que há “sérios indícios” da integridade das cópias virtuais divulgadas.
Ainda durante o pronunciamento, o chefe do Ministério Público venezuelano pediu pena de prisão para González e María Corina Machado.
Ele os acusa de incitar a violência e o crime nos protestos contra a ditadura que tomaram as ruas após o anúncio da reeleição pelo regime. Duramente reprimidas pelas forças de segurança, as manifestações deixaram ao menos 27 mortos e quase 200 feridos, além de resultarem na prisão de mais de 2.400 pessoas.
A oposição afirma que o opositor venceu com 67% dos votos, uma conclusão amparada por mais de um estudo independente. O regime, por sua vez, declarou o ditador presidente eleito com 52% dos votos, mas não demonstrou evidências disso.