Morre Nelson de Abreu Pinto, dono do Bar Guanabara: “Manteve a tradição, o sabor e a história”
O clássico salão do Guanabara: parmegianas, sanduíches e coxa creme
(Divulgação)
"Foi um verdadeiro mestre. Daqueles que inspiram, com atitude silenciosa, sabedoria e humanidade", diz administrador
Proprietário desde 1968, ele tinha acabado de completar 93 anos. O tradicional bar da São João foi inaugurado em 1910
Por Vitor Nuzzi
[AGÊNCIA DC NEWS]. O 128 da avenida São João tornou-se, desde 1968, uma referência gastronômica paulistana. Foi para onde o Bar Guanabara se mudou, depois de ter que deixar a rua Boa Vista, por causa de obras do Metrô. Nesta segunda-feira (16), o local amanheceu de luto: morreu o empresário Nelson de Abreu Pinto, dono do Guanabara, o bar mais antigo de São Paulo, aberto em 1910. Proprietário justamente desde 1968, ele estava com 93 anos, completados em 8 de maio. “Dedicou sua vida a manter viva a tradição, o sabor e a história deste local tão querido por gerações”, afirmou o Guanabara em nota publicada no Instagram. “Seu legado permanece não apenas nas paredes do bar, mas no coração de todos que foram acolhidos por sua presença, hospitalidade e paixão.” O velório será realizado na terça-feira (17), das 7h às 14h, no Funeral Home (rua São Carlos do Pinhal, 376, Bela Vista).
Paulistano e corintiano fanático, Nelson de Abreu Pinto era advogado e também foi juiz do Trabalho. Presidiu o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Município de São Paulo e a federação estadual do setor (Fhoresp), além da Confederação Nacional do Turismo (CNTur). Em 2010, recebeu o título de cidadão honorário de Minas Gerais. No ano passado, o Sindicato de Bares e Restaurantes de São Paulo (SindResbar) inaugurou estátua em sua homenagem, durante a comemoração de seu 92º aniversário. Wilson Luis Pinto, filho de Nelson e hoje presidente executivo da CNTur à epoca da homenagem, afirmou que o pai havia dedicado a vida ao turismo “muitas vezes nossa família sentiu falta do ‘painho’, mas nós sabíamos que ele estava trabalhando pela nossa categoria”, disse. Nelson e Angela Maria tiveram quatro filhos: além de Wilson, Edson, Nelson e Marilene.
Foto tirada no aniversário de 2024: empresário e corintiano fanático (Divulgação)
Fabio Candido de Almeida, que administra o bar há 20 anos e e se tornou um filho do coração de Nelson, também lamentou sua partida. “É com o coração que eu me despeço de um grande homem.” Para ele, durante os 33 anos que trabalhou no local, o dono do Guanabara, mais que um chefe, foi um verdadeiro mestre. “Daqueles raros, sabe? Daqueles que inspiram, com atitude silenciosa, sabedoria e humanidade”, disse Fabio, que seguirá o exemplo para o resto da vida, segundo contou. “Aprendi muito com ele. Sobre o ofício, sobre dignidade, lealdade e o valor das pequenas coisas feitas com grande coração.”
Fabio e Vavá, símbolos do bar: “Exemplo para toda a vida” (Andre Lessa/Agência DC NEWS)
Outro personagem do Bar Guanabara, Edivalson Ferreira da Silva – ou Vavá do Bixiga –, falou sobre a partida de Nelson. Segundo ele, são 55 anos dedicados ao trabalho no estabelecimento, boa parte em contato direto com o proprietário. Durante a pandemia, inclusive, Vavá contou que ia à residência do proprietário, todos os dias, para levar o almoço. Enquanto a quarentena impedia o funcionamento normal do restaurante, Vavá ia ao Guanabara, checava a operação logo pela manhã, preparava a refeição de Nelson e depois encerrava o expediente. “Foram meses duros, a pandemia não foi fácil para ninguém”, disse, em entrevista recente à Agência DC NEWS.
O Guanabara foi um dos dez locais homenageados na primeira edição do Prêmio Comércio Histórico, criado pela DC NEWS, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). A extensa trajetória do local foi retratada na página Comércio Histórico. Uma trajetória que vai continuar. Inclusive hoje. Segundo Fabio, apesar da tristeza, o Guanabara vai permanecer aberto nesta segunda. “Foi uma decisão difícil que a família teve que tomar”, disse Fabio. “Em vida, ele (Nelson) já falava que quando esse momento chegasse ele queria que continuasse aberto”. Segundo o administrador, sua vontade será feita. “Ele falava sempre: eu vou partir, mas meu trabalho continua.” As parmegianas vão continuar. Os sanduíches, como o Atrapalhado e o Psicodélico. A sempre pedida coxa creme. E as histórias que são servidas junto com cada prato.