Por que a Casa dos Ventos quer instalar placas solares em seus parques de energia eólica

Uma image de notas de 20 reais

Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Casa dos Ventos, uma das líderes no mercado de energia renovável, tem planos de instalar placas solares em vários de seus parques eólicos. A empresa enxerga que este é um bom momento para implementar a estratégia, já que o crescimento da oferta e a diminuição da demanda por painéis solares fizeram com que o preço do equipamento caísse de forma brusca nos últimos meses.

Em agosto, por exemplo, uma placa solar chegou a custar US$ 0,10 por watt em alguns mercados internacionais, segundo a BloombergNEF. Há um ano, esse valor era quase o dobro.

O primeiro caso de hibridização dos parques eólicos da Casa dos Ventos -como o processo é chamado no mercado- começará a ganhar forma nos próximos dias, quando a empresa iniciará obras em um de seus complexos na Bahia. Outras empresas já adotam o modelo, como Enel, Qair e Auren.

Serão instalados painéis com capacidade de gerar 227 MW (megawatts) de energia. Como a geração oscila devido à variação de luz solar ao longo do dia, a previsão é de que os dispositivos possam gerar 44 MWm (megawatts-médio). O projeto, de R$ 700 milhões, é uma parceria com a ArcelorMittal, que terá direito a 55% da energia gerada e comprará quase todo o restante da Casa dos Ventos.

No ano passado, as duas empresas fecharam outra parceria, de R$ 4,2 bilhões, para instalar turbinas eólicas capazes de gerar 550 MW de energia eólica (267 Mwm).Será justamente neste parque, em Morro do Chapéu e Várzea Nova, que a Casa dos Ventos instalará também os painéis solares.

A hibridização dos parques eólicos é vantajosa, porque em algumas regiões do Nordeste (onde está a maioria dos complexos no Brasil) os ventos são mais fortes durante a noite, o que impede a geração constante de energia nas manhãs e tardes. A instalação das usinas solares, portanto, aumenta a produção de energia ao longo do dia, além de utilizar as linhas de transmissão nos momentos ociosos.

Por produzir energia renovável e vendê-la no mercado livre, a Casa dos Ventos tem desconto de 50% na tarifa paga às transmissoras. O desconto é custeado pelos consumidores em geral de energia elétrica do país, inclusive os residenciais.

“Essas plantas solares híbridas são muito competitivas, porque você já tem toda a infraestrutura pronta. Já há subestação e transmissão, então é como se a solar se subsidiasse por meio daquele investimento já feito pela eólica”, afirma Lucas Araripe, diretor-executivo da Casa dos Ventos.

Ao todo, a empresa tem 1,8 GW de energia eólica instalados no Brasil; a companhia não revela lucro nem receita anuais.

Até por isso, a empresa quer transformar seus outros parques eólicos em também solares. A quantidade de painéis fotovoltaicos instalados, porém, depende da região. Naqueles locais, por exemplo, onde a força do vento é constante ao longo do dia, a ideia é que sejam instaladas menos placas –caso contrário, haveria conflito de injeção na rede entre energia eólica e solar.

“Na Bahia, Piauí e Ceará, o perfil é muito noturno, então se consegue dimensionar uma planta solar maior em proporção à eólica. Agora, no Rio Grande do Norte, por exemplo, o vento é constante, então tem que botar menos placas”, diz Araripe.

Segundo ele, porém, é improvável que o barateamento dos painéis faça com que a Casa dos Ventos se direcione exclusivamente para o mercado de energia solar. “O painel está no menor preço histórico, e até que ponto isso é sustentável? O preço está tão baixo que as empresas começaram a quebrar”, diz. Ele acredita que o desaparecimento de algumas fabricantes na China fará com que os preços voltem a subir.

CRÍTICAS DE MORADORES

Como a Folha de S.Paulo mostrou em agosto, movimentos sociais e alguns moradores de áreas próximas a parques eólicos têm se incomodado com o barulho das turbinas. Em alguns casos, essas pessoas precisam colocar papel higiênico no ouvido para conseguir dormir. As críticas são referentes a parques de várias empresas no Nordeste.

Questionado sobre o assunto, Araripe disse que a empresa leva impacto social positivo às regiões. “A gente arrenda os imóveis e começa a pagar muito antes de termos receita. Além disso, ao longo da construção, a gente emprega uma série de pessoas na obra e traz muita arrecadação para os municípios, inclusive uma cadeia de serviços”, diz.

“Eu não tenho dúvida que aqui [São Paulo] tem muito mais ruído. Eu moro perto do Aeroporto de Congonhas e convivo com mais ruído, com certeza.”

RAIO-X DA CASA DOS VENTOS

**Sócios**

Mário Araripe

TotalEnergies

**Empregados**

Cerca de 800

**Parques eólicos em operação**

4, todos no Nordeste

**Capacidade em operação**

1,8 GW

**Capacidade em construção**

1,3 GW

**Principais concorrentes**

Enel, AES e Engie

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