SÉRIE Desafios 2026. Ordine: "A economia só vai ter sucesso quando estiver na mão da livre iniciativa"

Uma image de notas de 20 reais
Há 45 anos na ACSP e na presidência desde 2023, Ordine tem a retomada do Centro como marca da gestão
(Andre Lessa/Agência DC News)
  • Presidente da ACSP reforça as principais bandeiras da entidade: defesa da livre iniciativa e do empreendedorismo. "Não deve haver restrição"
  • Ele também defende parcerias entre setor público e poder privado, como aconteceu no processo de recuperação da região central de São Paulo
Por Vitor Nuzzi

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Esta reportagem abre a série especial Desafios 2026. Iniciativa da Agência DC NEWS, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), ela propõe a partir de dez entrevistas colocar no centro da agenda as discussões que travam o desenvolvimento econômico pleno do país, como um todo, e da cidade de São Paulo, em particular. Farão parte desta primeira frente o presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine, o presidente do Conselho Superior da instituição, Rogerio Amato, e os oito integrantes da Diretoria Executiva da ACSP. Nesta conversa com Ordine, a mensagem foi clara: “A economia só vai ter sucesso quando estiver na mão da livre iniciativa”.  Para ele, mesmo governos bem-intencionados não conseguem substituir o faro e a sensibilidade do empreendedor. Essa perspectiva reforça a tradição da ACSP de defender a liberdade econômica e estimular políticas que facilitem a vida dos empresários, de todos os portes e segmentos, sem burocracia excessiva e com segurança jurídica mínima.

Com 84 anos e mais de quatro décadas de atuação na ACSP, Ordine também projeta o futuro político e econômico do país. Para ele, a defesa do empreendedorismo, da liberdade econômica e da segurança é prioridade em qualquer governo. “O governo, independentemente de seriedade, não tem a mesma presença que o dono do negócio”, afirmou. Em um cenário de polarização política, ele afirma o compromisso da ACSP em manter a tradição de ouvir todos os lados, mas reforça que sua posição é clara: o desenvolvimento do país depende da valorização da iniciativa privada e do estímulo à atividade empresarial, que continua sendo a verdadeira locomotiva da economia brasileira. “A gente não tem partido, mas tem lado.”

A trajetória de Ordine se mistura à própria história do Centro de São Paulo. Desde os primeiros trabalhos na região central, passando pela fundação da Associação Viva o Centro e sua participação em projetos de revitalização urbana, ele testemunhou como a colaboração entre setor privado e poder público pode transformar cidades. Mas, para o presidente da ACSP, o papel do governo deve ser de facilitador: segurança, iluminação, zeladoria e infraestrutura. Cabe aos empresários a sensibilidade para identificar oportunidades, inovar e gerar crescimento econômico sustentável. Confira a entrevista

Escolhas do Editor

AGÊNCIA DC NEWS – Como foi que o senhor chegou à Associação Comercial?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Em 1980, comecei a participar através da Distrital Centro, que havia sido fundada. Aí meu mundo entrou para a Associação, comecei a fazer parte do conselho jurídico, das discussões da área tributária.

AGÊNCIA DE NEWS – Foi convidado por alguém?
ROBERTO MATEUS ORDINE –
Numa conversa, o Nelson de Abreu Pinto [ex-presidente da Confederação Nacional do Turismo e do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de São Paulo, que morreu em junho deste ano] me convidou para conhecer. Eu vim, e aqui conheci a grande figura, líder querido, chamado Guilherme Afif Domingos [ex-presidente da ACSP, ex-deputado e atual secretário estadual de Projetos Estratégicos]. Sob a inspiração dele, fiz a carreira até chegar à presidência. São 45 anos de Associação Comercial.

AGÊNCIA DC NEWS – O senhor pode falar sobre a relevância da entidade, não só como representante de classe, mas também o peso político? O Simples Nacional e outras iniciativas nasceram aqui.
ROBERTO MATEUS ORDINE
– O primeiro cargo que eu tive em 1982, participando do conselho diretor da Distrital Centro…

Aspas

A Associação Comercial tem lado, mas não tem partido. Ouvimos todas as partes, e vamos continuar porque é uma tradição da casa

Aspas
Roberto Mateus Ordine, presidente da ACSP

AGÊNCIA DC NEWS – Vem daí a sua paixão pelo Centro?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Exatamente! Aí nasceu, naquela época, um trabalho que fizemos, já formamos um grupo, fizemos um trabalho que o Diário do Comércio na época acompanhou, que era sobre a recuperação do Centro. Aí surgiu uma entidade, chamada Viva o Centro, que até hoje existe, e eu fui representar a Associação Comercial, assumindo a vice-presidência. Que reunia a paixão pelo Centro e a manutenção do comércio. 

AGÊNCIA DC NEWS – Era possível mudar o cenário?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Sempre achei, e acho ainda. Já está começando a ser revitalizada, com muitos comerciantes voltando para o Centro, e percebendo que daqui pra frente nós vamos ter um movimento maior. É preciso que se deixe claro que hoje temos um trânsito de aproximadamente 600 mil pessoas transitando pelo Centro.

AGÊNCIA DC NEWS – Em algum momento dessa militância, o senhor achou que se tratava de uma situação irreversível?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Teve alguns momentos de desânimo, principalmente quando as autoridades não davam o devido valor. Tivemos um período em que o Centro foi interrompido, Anhangabaú fechado, as obras não andavam, o Anhangabaú tinha um movimento muito importante e ficou totalmente parado no governo da Erundina [Luiza Erundina, prefeita da capital de 1989 a 1992], por circunstâncias que não vale a pena lembrar. E houve uma invasão de mercado ambulante na Praça da Sé, virou um verdadeiro mercado persa, se vendia de tudo, pequena parte legalizada. Foi um período muito difícil para nós. Ali, quase desanimei do Centro. Mas a partir do período do [Celso] Pitta, o próprio período da Marta Suplicy, ela compreendeu a importância, começou a se diminui um pouco daquela maluquice que havia se instalado na Sé, principalmente, e em todas as ruas comerciais. Era um desastre para o comércio regular.

AGÊNCIA DC NEWS – O que feito a partir dali?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Aí se começou a tomar algumas providências, chegou-se a fazer, até com algum sucesso, o chamado Pop Centro, um shopping popular. Um deles foi na antiga Bolsa de Cereais, na frente dos Correios. Os ambulantes de rua passaram a ter um espaço interno, com algum benefício, e com isso houve uma expansão muito valiosa para eles mesmos.

AGÊNCIA DC NEWS – E o que aconteceu depois?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– E aí surgiu, inclusive, a ideia do microempresário individual, que nasceu nesta casa, de autoria do nosso Guilherme Afif Domingos, como principal defensor, que era presidente na época. Fizemos alguns outros Pop Centro, aqui na rua Florêncio de Abreu, para diminuir um pouco a invasão no Largo São Bento. Enfim, começou a se encontrar alguns caminhos, e hoje finalmente nós restabelecemos a regularidade no comércio. Tivemos alguma dificuldade com as pessoas de rua, que ficavam paradas nos pontos turísticos. Aos poucos foi se criando uma ajuda da Associação Comercial, que junto com a prefeitura, se fez o projeto Acolher, onde eles passam noite e dia, então melhorou a situação.

AGÊNCIA DC NEWS – Daqui para a frente, o que é preciso ser feito em relação ao Centro?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Perseverança, em primeiro lugar. E o que está acontecendo hoje: nós temos o governo do estado, a prefeitura e a sociedade civil organizada, aqui representada pela Associação Comercial, na mesma direção. Um auxilia o outro, e nós estamos convidando os comerciantes para vir ao Centro. A prefeitura instalou o Smart Sampa, a polícia trouxe segurança.

AGÊNCIA DC NEWS – Como o senhor vê a situação atual?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Hoje temos zeladoria de boa qualidade, iluminação e segurança, o que se imaginava impossível alguns anos atrás. Agora os comerciantes e investidores também observaram isso, e hoje o Centro já está passando por um novo processo. Acredito que os próximos cinco anos deverão trazer a velha tradição do que representou o comércio, a rua Direita, a rua São Bento, que hoje nós chamamos carinhosamente de shopping a céu aberto.

AGÊNCIA DC NEWS – Quer dizer, é preciso haver essa parceria entre o setor privado e o poder público.
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Só foi possível solucionar problemas de ambulantes, pessoas de rua, de segurança, quando houve uma junção de interesses. Nosso prefeito atual é também um defensor do Centro e trouxe um projeto de segurança que nos estimula bastante, com o apoio do governo do estado. Então, o governador Tarcísio [de Freitas] e o prefeito Ricardo [Nunes] se completam com os interesses que a sociedade deseja, que é segurança, zeladoria, iluminação, todos os benefícios que nós estamos vendo nascer.

AGÊNCIA DC NEWS – E essa ideia de flexibilizar a Lei Cidade Limpa, que, por sinal, também nasceu de um membro da casa [Gilberto Kassab, quando prefeito, em 2006]?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Nós somos defensores da lei. Antes, efetivamente, tínhamos alguma ressalva. Mas quando descobrimos a verdadeira cidade de São Paulo, com sua beleza arquitetônica, que nós não víamos, porque antigamente se colocava um tapume e você não via nada do que estava atrás. Hoje, somos favoráveis à manutenção, claro que com modernização de iluminação LED,  e nem se retire a qualidade dos prédios, que devem ser vistos pelo turista e pelo consumidor de maneira geral.

AGÊNCIA DC NEWS – O senhor, como o frequentador de décadas, tem alguns locais que sempre gostou de ver?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Tem prédios maravilhosos no Centro. Seria até desleal da minha parte selecionar um ou outro. Mas há um prédio na rua Direita, da sapataria Mundial (Mundial Calçados), e eles restauraram a fachada algum tempo atrás, e aquilo trouxe vida para um prédio histórico, tombado, muito bonito. Temos o Martinelli, que é lindo, temos aquele (edifício) Banco de São Paulo, aqui na rua Boa Vista mesmo alguns prédios muito bonitos, que evidentemente hoje estão ainda sem o brilho que tiveram no passado, mas que certamente serão recuperados.

AGÊNCIA DC NEWS – Não falta informação pública sobre logradouros ou prédios?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Isso tudo vai aparecer. Havia a ideia de se criar totens pela cidade, em que se conta a história daquela rua, dos prédios. Como tem na Europa, em outras capitais, para quem a pessoa não só se situe onde está, mas admire a beleza.

AGÊNCIA DC NEWS – Vamos ter aqui?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Vamos ter, vamos ver. E hoje a Associação Comercial, a prefeitura, já reconhece e premia os estabelecimentos históricos. A própria AGÊNCIA DC NEWS criou o Prêmio Comércio Histórico [com duas edições até agora, em março e agosto]. Distribuímos placas e diplomas para empresas com mais de 100 anos que embelezam o Centro da cidade e também fora.

AGÊNCIA DC NEWS – As obras no Centro têm revelado trilhos de bonde. O senhor andou muito de bonde?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Esse bonde não peguei, esse é anterior. Mas eu me lembro de bonde na praça João Mendes, na Vila Mariana, para Santo Amaro. Aliás, se permanecesse a linha Centro-Santo Amaro, nós teríamos hoje o que chamaria de metrô a céu aberto, porque era uma reta só. Infelizmente, por circunstâncias, deixou de ser. Aquela linha passou a ser avenida Ibirapuera, Vereador José Diniz, e isso acabou destruindo aquele centro onde havia os trilhos. Mas andei muito.

AGÊNCIA DC NEWS – Mas o senhor não pulava do bonde andando.
ROBERTO MATEUS ORDINE –
Pulava. Muitas vezes.

AGÊNCIA DC NEWS – É mesmo?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– A garotada era aventureira. A gente saltava antes de ele chegar no ponto, já ia descendo. Algumas vezes tomamos tombo também, e ralamos o joelho.

AGÊNCIA DC NEWS – Em relação à futura sede administrativa do governo estadual, que impacto vocês esperam?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Fundamental. Muito importante. Esse também foi um erro da cidade de São Paulo no passado, em tirar do Centro os prédios do governo. Você imagina, por exemplo, nós, aqui, termos uma reunião com o governador lá no Morumbi [bairro onde se localiza o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista]. Demora duas horas de trânsito para ir, duas para voltar, e às vezes meia hora para despachar com o governador. Isso não tem sentido numa cidade importante como São Paulo. É preciso que haja o adensamento. Isso foi compreendido por esse governo, e o governador Tarcísio – que nós torcemos que permaneça em São Paulo os oito anos –deverá concluir essa obra fundamental para a verdadeira revitalização da região central.

AGÊNCIA DC NEWS – Qual é a sua lembrança mais nítida do início profissional?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Eu comecei a trabalhar realmente em maio de 1960. Até então, eu fazia alguns trabalhos, que hoje se chamaria de bicos, né? Para aprender, seja na área de vendas, seja algum trabalho transitório. Primeiro comecei a trabalhar em banco, era escrituário, fazia acompanhamento de contas correntes, controles, era tudo manual, a gente fazia os lançamentos, foi a primeira experiência profissional que eu tive.

AGÊNCIA DC NEWS – Era aqui no Centro?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Era exatamente na rua Maria Paula. Um banco chamado Lowndes, que hoje não existe mais em São Paulo. Foi meu primeiro trabalho. Trabalhava durante o dia e estudava à noite. Em 1967, eu fui para a faculdade.

“A Reforma Tributária, também necessária, pelo menos ao que se apresenta para nós até o momento não é o ideal”
(Andre Lessa/Agência DC News)

AGÊNCIA DC NEWS – Mas houve uma experiência anterior, não?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Antes, passei por uma experiência de colégio militar. Mas era muito garoto para morar sozinho no Rio de Janeiro, não me adaptei muito bem. Era na rua São Francisco Xavier.

AGÊNCIA DC NEWS – Na Tijuca?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Exatamente, era o colégio militar que tinha na época. Mas longe da família, pouca idade, acabei não me ajustando muito e voltei para São Paulo. Fiz os cursos normais, ginasial, colégio, e fui fazer faculdade [Direito, no Mackenzie]. A esta altura eu já trabalhava na antiga Real Tur, que passou a ser Varig. Na parte hoteleira, no departamento jurídico. Estavam construindo hotéis, e eu ia contatar empresas que queriam fazer investimento por meio de um fundo chamado 157. Era um incentivo fiscal para empresas que se instalavam no Norte, Zona Franca de Manaus, várias regiões. E eu fazia parte, já iniciava a parte jurídica, os contratos, as conversações, toda essa parte. E aí, fui me entrosando usando cada vez mais no trabalho, e acabei saindo como gerente nacional. Mas acontece que eu me casei, e viajava muito, e ficou um pouco incompatível esse trabalho, ainda mais em início de casamento. Me formei e me casei no final do ano [1970].

AGÊNCIA DC NEWS – Foi um dia e tanto. Mas o sr. casou e se formou ao mesmo tempo?
ROBERTO MATEUS ORDINE – Eu já estava terminando e minha mulher, entrando na faculdade. Só tínhamos o fim do ano para realizar o casamento. Nos casamos em 30 de dezembro de 1970. Foi uma lua de mel relâmpago. Fui fazer um trabalho durante um período das férias da faculdade dela no Rio de Janeiro. Tivemos uma lua de mel de poucos dias, e depois me mudei para o Rio, até março de 1971. (…) Era uma miscelânea de trabalhos. E aí, como já estava no jurídico, naquela época era mais fácil encontrar trabalho, não faltava colocação, fui convidado a trabalhar numa editora tributária [Mapa Fiscal]. Acabei me tornando sócio, diretor comercial, e acabei tendo uma experiência muito boa. Depois, por razões também de oportunidade, acabei formando uma editora minha.

AGÊNCIA DC NEWS – Qual?
ROBERTO MATEUS ORDINE –
A Tribuna da Justiça, era um jornal tradicional, com assinatura de jurisprudência. E lá fiquei muitos anos. E aí tinha escritório de advocacia, editora, palestras, cursos, essa maluquice que o Direito obriga a gente a fazer para acompanhar e se atualizar. Depois fui convidado a fazer parte do Instituto Brasileiro de Direito Tributário (IBDT), na época presidido pelo professor Ruy Barbosa Nogueira, que era diretor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Até pouco tempo atrás, participava das reuniões do instituto.

AGÊNCIA DC NEWS – O sr. se especializou nessa área tributária. E teve também uma experiência como juiz, não é?
ROBERTO MATEUS ORDINE –
Em 1991, fui convidado e participei do Tribunal de Impostos e Taxas. Fiquei 20 e poucos anos nessa área, o que me ajudou muito a entender a dificuldade do ICM, que depois passou a se chamar ICMS. Foi um período muito produtivo para mim. Foi muito bom.

AGÊNCIA DC NEWS – Nós acabamos de sair de uma Reforma Tributária, cujos efeitos ainda não se sabe direito e que o sr. já criticou. Quais seriam as prioridades do próximo governo?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Reforma Administrativa. E Política. São fundamentais, deveriam até ter sido precedidas. A nossa Reforma Tributária, também necessária, pelo menos ao que se apresenta para nós até o momento não é o ideal. Vai trazer dificuldades, e aquela simplificação que todos desejaríamos não está muito clara. Acredito que vamos padecer, a começar por manter duas contabilidades, uma pelo novo sistema e a tradicional, e isso me parece em torno de dez anos. Só isso já nos preocupa.

AGÊNCIA DC NEWS – A carga aumenta?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Não obstante esse fato, se você unir todos os tributos percebemos que a alíquota chegou a 28%, que é muito alta. Se juntarmos ainda o imposto de renda e mais as contribuições sociais, vamos ter uma carga tributária das mais altas do mundo, no momento em que os juros estão muito altos, exatamente para evitar uma inflação maior, que é desastrosa para todos nós, principalmente os mais pobres.

AGÊNCIA DC NEWS – No caso da Reforma Política, isso inclui o voto distrital?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Essa é a nossa bandeira, estudada e reestudada, com muita propriedade, para que tenhamos uma melhoria de qualidade no nosso Congresso. Funcionaria parte por lista e parte por distrito. Isso obriga o deputado, vereador, a prestar mais atenção naquele distrito, seja mais cobrado.

AGÊNCIA DC NEWS – Isso aproximaria o eleitor do candidato?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Hoje, muitas vezes, o candidato em que nós votamos é de outra região. Precisamos ter gente que defenda aquela região onde você mora. E os votos em lista seriam nomes consagrados, com experiência, que pudesse também trazer uma melhoria de qualidade. Temos projetos que são aprovados, em dois turnos. em 48 horas. Alguns deputados com quem conversamos confessaram que não tiveram tempo de ler. Não só pelo volume, mas pela pressão de votação, e hoje estão arrependidos.

AGÊNCIA DC NEWS – Por falar na questão política, no ano passado, quando tivemos eleição para prefeito, a Associação trouxe candidatos com linhas de pensamento diferentes.
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Sim, nós sempre ouvimos todos os candidatos. Porque a Associação Comercial tem lado, mas não tem partido. Ouvimos todas as partes, todos os candidatos, para presidente, governador, prefeito, e vamos continuar porque é uma tradição da casa. Evidentemente, temos um lado. Defendemos três bandeiras importantes.

AGÊNCIA DC NEWS – Quais são?
ROBERTO MATEUS ORDINE –
A mais importante é a livre iniciativa.  Nós achamos que a economia do país só terá sucesso quando estiver na mão da livre iniciativa. Porque o governo, independentemente da seriedade dele, por mais dedicado que seja, não tem aquela expertise do empreendedor, do investidor. Aquele faro que o comerciante tem, aquela sensibilidade. Por outro lado, é mau patrão, porque não tem a mesma presença que o dono da empresa, o comerciante, que está à frente de seu negócio.

AGÊNCIA DC NEWS – E a segunda?
ROBERTO MATEUS ORDINE –
É a defesa do empreendedorismo, a liberdade econômica. Nós achamos que não deve ter restrição, desde que seja um negócio lícito, lógico, mas eles têm que ter liberdade, simplicidade, sem burocracia, para que instale os seus negócios. Isso de certa forma vem vindo, vai chegar, mais dia, menos dia. E o terceiro aspecto é a segurança – que, aí sim, o Estado tem que estar muito firme. Precisamos de segurança, zeladoria, iluminação. São bandeiras que defendemos para que a população tenha um comércio seguro e sem suspense.

AGÊNCIA DC NEWS – Pode-se dizer que o Estado, independentemente de quem esteja ocupando o posto, é um inimigo da livre iniciativa?
ROBERTO MATEUS ORDINE –
Já tivemos vários casos. Eu dei o exemplo do governo Erundina. Nada contra ela, a pessoa, sabemos da honestidade, mas a linha de pensamento comercial dela não era ajustada à nossa, e tivemos muita dificuldade. Tivemos algumas prefeituras em que havia dificuldade de diálogo, quanto à mobilidade urbana. Enfim, se o governo não estiver atento às necessidades do comércio, da atividade empresarial, ele pode prejudicar, como de fato houve muito prejuízo. Tanto é que parte da deterioração no Centro das cidades se deveu exatamente a isso, a essa falta de compreensão.

AGÊNCIA DC NEWS – De uns anos para cá, com a chamada polarização, ficou mais difícil promover o diálogo?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Sim, se tornou. Evidentemente aqueles candidatos que buscam a iniciativa privada para desenvolver a economia têm o nosso aplauso. Mas nem sempre é assim. Muitas vezes temos uma situação mais difícil. O atual governo federal ainda disputa, por exemplo, a manutenção de empresas estatais. Parte do comércio, da indústria ou até mesmo doo negócios fica presa por ideologia. Isso é ruim. Para o comércio e para a economia do país.

AGÊNCIA DC NEWS – O sr. já disse que quer a reeleição do governador Tarcísio de Freitas.
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Queremos.

AGÊNCIA DC NEWS – E para a Presidência da República? Quando o ex-presidente Michel Temer veio à Associação Comercial, o sr. ficou empolgado com a presença dele. Agora, tivemos a visita do governador Ratinho Jr., que é um presidenciável. Vocês já pensam em apoios, nomes?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Sem dúvida. Vamos apoiar todo aquele que defenda as nossas bandeiras. Quando você falou no Michel Temer, não sei se você lembra, tivemos uma catástrofe econômica no governo anterior, Dilma, que acabou até com o impeachment dela. Mas no período em que Temer assumiu a Presidência, você veja que nós tivemos uma Reforma Trabalhista, uma Reforma Previdenciária, a economia voltou a crescer e nós chegamos até no governo Bolsonaro com uma condição econômica muito boa. No governo Lula, nó percebemos que o nosso endividamento cresceu, exatamente pela política – nada contra – protecionista. Não é o melhor caminho para a atividade empresarial, para o desenvolvimento da economia. O jovem que tem direito a Bolsa Família não vai aceitar um emprego formal, às vezes nem vai trabalhar porque aquilo pode suprir suas necessidades. Precisamos estimular o trabalho. Esses benefícios, muitas vezes necessários, devem ser transitórios.

AGÊNCIA DC NEWS – Vocês pretendem trazer os candidatos?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Todos eles. Todos eles. Quantos forem, de direita, de esquerda, nós vamos trazê-los. Para ouvir e levar a eles as reivindicações que nós achamos importantes para a economia.

AGÊNCIA DC NEWS – E você tem esperança de que seja um processo eleitoral, se não pacífico, menos violento que os anteriores?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Nós esperamos aqui na Associação Comercial que essa ideologia, e esses dois lados desapareceram. Isso não é bom para ninguém. Nós/eles, direita/esquerda, isso não funciona para o desenvolvimento do país. Então, a entrada de novos governantes, principalmente os jovens, e nós temos jovens que têm se revelado grandes gestores dos bens públicos. Haja visto, por exemplo, o caso do Ratinho, que conseguiu nestes dois mandatos dobrar o PIB do estado, segundo os dados que ele trouxe. E isso graças à visão empresarial, a simplificação do sistema para que os empreendedores se instalassem no estado do Paraná.

AGÊNCIA DC NEWS – É momento de renovação?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Temos vários nomes de jovens que merecem atenção da população e de todos nós. Temos no Rio Grande do Sul [Eduardo Leite], Mato Grosso do Sul, em Minas [Romeu Zema], São Paulo [Tarcísio], o Campos [João Campos, prefeito de Recife], a própria governadora de Pernambuco (Raquel Lyra], que tem mostrado uma percepção boa.

AGÊNCIA DC NEWS – Qual é o cenário?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Uma das perguntas que se faz é: quantos candidatos teremos? Evidentemente, a esquerda deve sair com o próprio presidente para a reeleição. Não me parece que haja outro candidato com a força que ele teria para poder disputar. Do lado da direita, dos que defendem a bandeira do liberalismo, vamos ter uns três ou quatro nomes, e talvez todos saiam candidatos pelos seus partidos. Eu espero que todos estejam unidos no segundo turno, que certamente haverá.

AGÊNCIA DC NEWS – O que o sr. pode dizer sobre sua gestão à frente da Associação Comercial de São Paulo?
ROBERTO MATEUS ORDINE
– Para mim foi uma experiência gratificante, pesada, exigindo muito, não só da nossa presença, mas da participação. Mas como eu gosto daquilo que faço, lamento só não ter feito melhor. Mas é importante em uma entidade, como a nossa a gente dar sequência no que recebemos do nosso antecessor, que também já tinha os mesmos propósitos. Isso facilita. E nós já estamos vindo assim há alguns anos. A entidade se encontra numa posição equilibrada, com bandeiras muito sólidas, e também com trabalho, buscando a melhoria da condição do pequeno empresário, que é a nossa maior preocupação. Acho que estamos buscando cumprir as nossas obrigações estatutárias, e espero que os próximos assim continuem.

AGÊNCIA DC NEWS – Como fazem há mais de 100 anos.
ROBERTO MATEUS ORDINE
–Há 130 anos.

AGENCIA DC NEWS – E as distritais, de onde o sr. saiu?
ROBERTO
MATEUS ORDINE – São os braços, olhos e ouvidos da entidade. São Paulo é uma cidade espalhada, já chegou no limite dos municípios próximos. Isso significa que temos que saber qual é o desejo daquela comunidade. As necessidades locais são diferentes, então elas fazem esse papel de levar nosso conhecimento, nossos serviços, e ouvir das comunidades locais o que podemos melhorar.

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