Em 2012, foram registrados 2,8 milhões de nascimentos no Brasil, segundo o IBGE, número que sofreu quedas sucessivas durante os anos, até chegar a 2,5 milhões em 2022 (redução de quase 11%). Essa baixa tem impactado os negócios de uma empresa criada há 30 anos. Fundada pelo empresário israelense Alexandre Benedek, a Sestini, especializada em malas e bolsas escolares e de viagens, está redirecionando seu negócio, justamente em virtude dessa mudança na fisionomia social do Brasil.
Essa baixa, de acordo com o fundador da Sestini, tem impactado a demanda por mochilas e produtos escolares. Sem revelar números internos, ele disse que a venda desses itens “vem diminuindo gradualmente”. Segundo Benedek, os produtos direcionados ao mercado infanto-juvenil representam cerca de 60% das receitas da companhia. Ele destaca que, além disso, o comportamento do público infantil tem mudado.
“Ao invés de buscar produtos com personagens populares, como o Homem-Aranha, as crianças de hoje, inseridas num mundo globalizado e conectado, preferem designs mais neutros e funcionais, que possam ser usados por mais tempo”, afirmou Benedek. Com isso, a empresa optou por manter uma oferta reduzida de produtos licenciados e mais focados em crianças e adolescentes, adaptando-se às novas tendências do mercado e olhando mais para o potencial de crescimento do mercado de malas de viagens.
INÍCIO – A Sestini começou com o sonho de Alexandre Benedek, um israelense que, aos 21 anos, veio ao Brasil para passar férias e trouxe consigo uma mala. Percebendo o interesse das pessoas pela peça, ele decidiu vendê-la. Era 1990, e o Governo Federal acabara de abrir as portas do Brasil à importação de produtos. “Importei maletas executivas de couro, algo inédito no Brasil na época, e revendi para a Le Postiche”, disse Benedek, hoje aos 55 anos. “Foram algumas vendas, até que, de fato, fundei a Sestini.” De lá para cá, ele expandiu o negócio para o mercado de mochilas infantis com licenciamentos, fabricação própria e foco nas demandas do consumidor.
Com uma expectativa de crescimento de 10% em relação a 2023, Benedek espera faturar R$ 200 milhões este ano e tem a meta de fazer sua marca ser cada vez mais conhecida pelas linhas de malas de viagem e produção própria. De acordo com o empresário, o mercado de malas é fragmentado e o preço do produto desempenha um papel importante na decisão de compra do consumidor. “Nosso objetivo é oferecer ao mercado produtos de alta qualidade, que justifiquem o investimento e garantam a fidelização dos clientes à marca”, afirmou.
Para se manter atualizada em relação às preferências dos consumidores, a Sestini implementou um sistema de feedback, por meio de suas lojas próprias e do e-commerce. Com a venda direta ao consumidor, a empresa consegue captar informações sobre as tendências e demandas do mercado. Quando um produto específico tem alta demanda ou baixa procura, essa informação chega quase que instantaneamente às equipes de vendas e desenvolvimento, possibilitando ajustes rápidos.
VENDAS – Com a trajetória iniciada no setor de multimarcas, a Sestini mantém esse canal como o principal pilar de suas operações, representando quase 60% das vendas totais. Além disso, 30% das vendas ocorrem nas 52 franquias espalhadas pelo Brasil, enquanto as 12 lojas próprias em São Paulo servem como um laboratório para testar novas estratégias antes de sua implementação em escala nacional.
O e-commerce, que responde por 10% das vendas, é operado de forma omnichannel, permitindo ao cliente a conveniência de comprar uma mala online e retirá-la na loja física mais próxima ou recebê-la em casa. Essa combinação de canais permitiu à Sestini alcançar presença em todo o território nacional. Recentemente, a empresa diversificou suas operações, ao expandir para o canal corporativo, oferecendo produtos personalizados para eventos, convenções ou uso próprio por empresas.
No cenário global, a companhia já atua, por meio de distribuidores, no Paraguai e está em processo de aprovação para expansão em outros países da América Latina. “Enxergamos a expansão internacional como uma oportunidade futura, mas não temos pressa. Priorizamos um crescimento saudável e sustentável”, afirmou Benedek. No mercado nacional, ele projeta alcançar 150 lojas nos próximos cinco anos. No entanto, o empresário ressalta que essa expansão é cuidadosamente planejada, com foco na seleção de pontos de venda e franqueados. “Queremos garantir o sucesso da operação e a longevidade da marca.”