[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
O Brasil precisa se articular para a implementação do Acordo Mercosul-União Europeia, e o setor empresarial terá de se adaptar ao novo ambiente competitivo e regulatório que virá com a possível abertura comercial entre os blocos. A avaliação é do economista, cientista político, diplomata e ex-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) do Brics Marcos Troyjo, em entrevista ao DC News Talks, o videocast da Agência DC NEWS. Ele afirma que o empresariado brasileiro não pode encarar o tratado como mera retórica diplomática. “O jogo vai mudar bastante quando o acordo sair da gaveta”, disse. Segundo ele, as empresas brasileiras precisam se preparar desde já para competir em escala global.
Entre 14 de janeiro de 2019 e 26 de junho de 2020, Troyjo foi secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais no então Ministério da Economia, no time de Paulo Guedes, na gestão Jair Bolsonaro, sendo um dos principais interlocutores das negociações da finalização do Acordo Mercosul-União Europeia (em 2019). O documento teve nova alteração em dezembro passado. Para Troyjo, o avanço do acordo voltou ao radar internacional diante da reconfiguração geopolítica provocada pelos Estados Unidos sob Donald Trump, que tem priorizado medidas protecionistas e tensionado cadeias produtivas.
Segundo ele, o endurecimento tarifário norte-americano reacendeu a necessidade de blocos regionais ajustarem sua integração para não perder relevância. “Há uma janela concreta para o tratado avançar”, afirmou. Na avaliação dele, o Brasil deveria enxergar a oportunidade estratégica, não apenas o texto técnico, mas o salto geoeconômico que pode representar. Ele diz que mesmo que a França seja voz oposta ao acordo, assim como Áustria e Polônia, há alguns fatores a serem considerados: alguns países europeus flertam com a recessão, há ainda a China (em dominância e ganhando escala em setores diversos, entre os quais o automobilístico) e o menor escoramento europeu nos EUA.
MERCADOS – “Veja o que acontece na Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte]. A Europa vai precisar aumentar orçamento de defesa”, disse. “Isso vai exigir um esforço macroeconômico. E temos o Mercosul, com 270 milhões de pessoas.” Além desse potencial mercado consumidor, ele enumera como pontos fortes regionais aos olhos europeus a questão da segurança alimentar, assim como o espaço a investimentos em função da diversidade energética, da economia verde e da economia circular”. E reforça que a implementação do acordo ampliará mercados, elevará padrões de competitividade e pressionará o setor privado brasileiro a inovar mais rapidamente.
Para o país ter ganhos ele diz que é fundamental entender que a abertura não é ameaça, mas modernização. “Se o acordo entrar em vigor, surgem vantagens imediatas”, disse. Entre elas, cita redução de tarifas, integração tecnológica e acesso a compradores sofisticados – fatores que tendem a reposicionar o país nas cadeias globais. Para isso, porém, o empresariado precisará entender que o ritmo internacional é diferente do doméstico. “A iniciativa privada precisa se organizar.” Troyjo afirma, no entanto, que para o país ser protagonista não basta assinar acordos – é necessário ter produtos, escala e logística compatíveis com a nova realidade. Confira a entrevista.