Yorki Estefan, do SindusCon-SP, diz que déficit público é o problema e que país "valoriza especulação financeira"

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Estefan: "Problema do Brasil é excesso de novidades. Empresários e população precisam de estabilidade"
(Andre Lessa/Agência DC News)
  • Depois de recordes, setor imobiliário espera desaceleração. Mas acredita em boa adesão à nova faixa do Minha Casa, Minha Vida
  • Estefan diz que setor tem dois segmentos distintos. Habitação popular cresce a 60%, médio e alto padrão retraem 4%
Por Vitor Nuzzi

[AGÊNCIA DC NEWS]. O ano de 2024 foi de bons números para o setor imobiliário. Foram vendidos 400,5 mil imóveis, 20,9% mais que um ano antes, com destaque para o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida (MCMV), do governo federal. O cenário de 2025, porém, aponta para desaceleração. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil em São Paulo (SindusCon-SP), Yorki Estefan, a previsão de crescimento neste ano é de 3%, após o PIB subir 4,3% em 2024. Um dos motivos para a desaceleração, segundo ele, reside no descompasso das contas públicas do governo, o que favorece a especulação financeira em cima da inflação e Selic mais altas. Os dois indicadores, diz o presidente da entidade, representam “um ganho maior do que se obtém com o trabalho”. Para ele, atualmente, o Brasil está “valorizando a especulação financeira, por um desencontro de contas do governo.”

Segundo o Secovi-SP, apenas na cidade de São Paulo, os lançamentos no ano passado (104,4 mil, alta anual de 43%) e as unidades vendidas (103,3 mil, +36%) foram recordes. Neste ano, até março, foram comercializadas na cidade 108,3 mil unidades no acumulado em 12 meses (+31%). Mas Estefan vê comportamentos distintos no setor conforme a faixa socioeconômica. A habitação popular segue bem. Tanto que desse total de vendas no mercado paulistano, 63% foram do MCMV (alta de 59% na comparação anualizada). E a perspectiva melhora com a criação de outra faixa no programa (4), mais voltada para a classe média (imóveis no valor de até R$ 500 mil). “Nos próximos meses, vamos conseguir medir a vontade do mercado de capturar esses investimentos. Acho que será muito grande”, afirmou o executivo.

Sócio-fundador da Conx Contrutora e formado em engenharia civil pela Faap, reeleito no final do ano passado para o segundo mandato, Estefan chama a atenção para o comportamento oposto nos perfis mais altos de renda. Os empreendimentos de médio e alto padrão têm caído na base de 4%. O que já reflete, afirma, o ritmo de alta dos juros. Para o executivo, eles devem permanecer em nível alto até o ano que vem. E há mais uma novidade: a elevação do IOF. “O problema do Brasil é o excesso de novidades.” Estefan afirma que falta estabilidade – ao empresariado e à população. E o país vai continuar patinando enquanto não resolver o problema do déficit público. Confira a entrevista a seguir.

Escolhas do Editor

AGÊNCIA DC NEWS – Mesmo com um resultado em 2024 acima das expectativas, vocês mantêm a previsão de desaceleração, principalmente no segundo semestre deste ano?
YORKI ESTEFAN –
O setor tem dois segmentos distintos de atividade, que estão bem diferentes um de outro. Quando a gente fala da habitação popular, estamos com acréscimo de 60% de lançamentos em relação ao mesmo período do ano passado. Continua com força muito grande o lançamento de habitações de interesse social, mais econômicas. Desde o faixa 2 [do programa MCMV] até o novo faixa 4, que eles estão lançando, de habitações até R$ 500 mil. Essa faixa realmente está com bastante força.

AGÊNCIA DC NEWS – O que tem caído?
YORKI ESTEFAN –
O que a gente tem sentido já é uma diminuição da força dos empreendimentos de médio e alto padrão, em torno de -4% nos lançamentos. Já é reflexo direto das altas taxas de juros. Além da restrição de crédito. Os bancos estão bem restritivos ao fornecer crédito para o setor de média e alta renda. Os valores cobrados estão mais altos, e isso leva a um preço maior das unidades e a uma diminuição do público a ser atingido. É fruto do desequilíbrio econômico do país.

AGÊNCIA DC NEWS – Qual deve ser o impacto dessa nova modalidade do Minha Casa, Minha Vida?
YORKI ESTEFAN –
O valor que eles [governo] estão estimando é de R$ 30 bilhões – R$ 15 bilhões viriam do Fundo do Pré-Sal, mais R$ 15 bilhões de aporte da Caixa Econômica Federal. A gente não consegue mensurar o quanto tem no mercado de produto para usar essa parcela. A ideia é que esse dinheiro venha não para financiar a construtora, mas o mutuário. Agora, nos próximos meses nós vamos conseguir medir a vontade do mercado de capturar esses investimentos. Acho que será muito grande.

AGÊNCIA DC NEWS – Por quê?
YORKI ESTEFAN –
Porque vai ser uma taxa atrativa, menor do que nos outros bancos. Provavelmente, o comprador final vai optar por usar esse crédito da Caixa Econômica.

AGÊNCIA DC NEWS – Era uma fatia de público que não estava sendo atendida?
YORKI ESTEFAN –
Ou estava sendo atendida com uma taxa de juros muito alta, que compromete a renda dele.

AGÊNCIA DC NEWS – A Reforma Tributária pode também trazer impacto positivo ao setor?
YORKI ESTEFAN –
A gente vê com muitos bons olhos.

AGÊNCIA DC NEWS – Por quê?
YORKI ESTEFAN –
Para o setor, a reforma vai efetivamente diminuir o custo dos produtos industrializados. A gente acha que vai ter um encarecimento no uso da mão de obra própria. Nosso setor vai se industrializar mais, que é uma diretriz que o SindusCon de São Paulo quer que seja adotada cada vez mais. Logicamente que ainda faltam regulações. Mas a expectativa é bastante positiva.

AGÊNCIA DC NEWS – Na Reforma Tributária as reivindicações do setor foram atendidas, então?
YORKI ESTEFAN –
O setor foi tratado de forma adequada, com suas especificidades. Construção civil não é a mesma coisa que vender Coca-Cola. A gente vende um produto um ano antes de começar a obra, depois tem todo o período de execução do canteiro, depois você fica com esse cliente muito tempo dentro da carteira da construtora.

AGÊNCIA DC NEWS – Há otimismo?
YORKI ESTEFAN –
Por que o setor está otimista? Se a gente tiver a simplificação tributária para a indústria, talvez chegue em custos melhores no produto final, no produto industrializado, e isso possa se refletir no preço de venda da unidade. O setor tem de brigar para ser mais produtivo e colocar preços mais adequados ao bolso dos consumidores. Como o setor é diversificado, são muitas empresas, construtoras e incorporadoras que competem o tempo todo, elas brigam por ofertar o menor preço pelo melhor produto. É a vantagem para o consumidor final do mercado com muitos players.

AGÊNCIA DC NEWS – Por um lado, a reforma deve ajudar o setor. Por outro, os juros elevados serão uma trava, não?
YORKI ESTEFAN –
Acredito que a gente só vá ter diminuição da taxa de juros no segundo semestre de 2026. Porque não acho que a economia vá ficar com a mesma pujança depois de um período longo com essa taxa.

AGÊNCIA DC NEWS – O senhor prevê retração já este ano?
YORKI ESTEFAN –
Ainda a gente vai ver um resultado do PIB grande, agora, por causa da agricultura. Mas o restante da economia não vai responder com essa força toda. O governo que entrar em 2027, seja o atual ou outra equipe, vai ter que tomar medidas corretivas na economia macro para dar uma perspectiva de longo prazo. Mas não acredito que vamos ter medidas muito impactantes até lá.

AGÊNCIA DC NEWS – Além de eleição, tem inflação fora da meta, cenário externo…
YORKI ESTEFAN –
Alguns fatores podem alterar isso? Podem. Se a gente tiver, por exemplo, uma grande quantidade de produtos chineses chegando ao Brasil por causa da guerra comercial, isso pode jogar os preços dos produtos para baixo, com diminuição da taxa de juros. Mas não é certeza para ninguém que vá acontecer. É que o cenário externo está mais incerto, está mudando mais rapidamente que o nosso.

AGÊNCIA DC NEWS – Como a política externa afeta o setor?
YORKI ESTEFAN –
O que afeta pra gente é a cotação do dólar, que ainda é baliza para vários materiais. Por exemplo, o aço. Se a gente tiver encarecimento do dólar, vai ter encarecimento do aço, que vai se refletir em inflação para a construção civil. Além do aço, tem o alumínio, tem vários insumos… Vidro, então, a gente precisa estar sempre monitorando

AGÊNCIA DC NEWS – Os dados do boletim Focus desta semana mostram que a expectativa de alta da inflação estabilizou (5,50%), a previsão para o PIB subiu (de 2,02% para 2,14%) e a Selic parou nos 14,75%. Isso pode levar a uma revisão de metas?
YORKI ESTEFAN –
Não acredito em revisão, porque [não dá para] falar em estabilização em um patamar de 14,75%. Além de ser alto, só estamos falando disso [previsão de novas altas não ser mantida pelo mercado] porque teve um aumento do IOF, que agravou o custo das operações financeiras. Como a gente tem uma taxa de juros elevada, além do encarecimento do crédito, na perspectiva atual, não precisa subir novamente [a Selic] para encarecer e dificultar ainda mais. Mas é uma questão que a gente só vai ver resolvida na hora que começar a endereçar os principais problemas do país.

AGÊNCIA DC NEWS – Qual o principal?
YORKI STEBAN –
O déficit público.

AGÊNCIA DC NEWS – E qual sua expectativa?
YORKI STEBAN –
Se a gente não tiver uma perspectiva econômica consistente, sem variações a cada mês, sem novidades… O problema do Brasil é o excesso de novidades, o excesso de fatos. Se a gente tiver uma estabilidade para o empresariado poder trabalhar e a população pode exercer suas atividades, vamos ter um ambiente mais normal. Não é normal o país trabalhar com 14,75% de juros e 5,5% de inflação.

AGÊNCIA DC NEWS – Um juro real altíssimo.
YORKI STEBAN –
Esse ganho [financeiro] é maior do que você consegue obter com o trabalho. Estamos valorizando a especulação financeira, por um desencontro de contas do governo.

AGÊNCIA DC NEWS – Com essas medidas, como elevar o IOF, em vez de uma política mais consistente, o governo está fazendo tentativa e erro, até acertar?
YORKI ESTEFAN –
Tem uma dubiedade de entendimento do governo. Se enfrenta efetivamente o problema, e para enfrentar tem um custo político, e estamos entrando em ano de eleição. Ou se incentiva o consumo, através de medidas a cada dia diferentes. Agora, estamos vendo isenção de pagamento de conta de luz, que vai tornar a conta mais cara para alguns.

AGÊNCIA DC NEWS – Alguém vai pagar.
YORKI ESTEFAN –
Entre eles, o meio produtivo. Vai ser transferida para os consumidores de média e alta renda e para a indústria, principalmente, encarecendo também os produtos. Essas medidas paliativas, vamos dizer assim, mascaram o andamento normal da economia e deveriam ser evitadas. A gente já tem algumas distorções.

AGÊNCIA DC NEWS – Por exemplo?
YORKI ESTEFAN –
Estamos diminuindo cada vez mais o número de pessoas celetistas e aumentando o de empreendedores individuais. É o retrato da realidade de uma população que não quer mais ser celetista, e a gente fica postergando esse debate, que tinha de estar à tona. Como estruturar uma nova forma de relação de trabalho, que não é mais a do Getulio Vargas. O mundo mudou, mudou o entendimento da população.

SindusCon
“Como estruturar a nova relação de trabalho? Não é mais o mundo do Getulio Vargas”
(Andre Lessa/Agência DC News)

AGÊNCIA DC NEWS – A Reforma Trabalhista de 2017 foi insuficiente, então?
YORKI ESTEFAN –
Claramente insuficiente. O número crescente de ações trabalhistas é um indicativo de um corpo doente. Não existe país que tenha uma relação tão conflituosa como temos aqui. Mas é porque a gente regrou demais, e isso alimenta uma casta bastante grande do Poder Judiciário. É um processo longo de entendimento da sociedade. A gente tem indicativos claros que a população quer trabalhar de forma mais independente. Hoje, o entregador [de produtos] não quer ser celetista, ele quer ser um microempreendedor individual.

AGÊNCIA DC NEWS – E no setor da construção?
YORKI ESTEFAN –
Mesmo na construção civil, a gente só tem 26% das pessoas com carteira assinada. Que são as que trabalham nas construtoras. Porque a maioria dos prestadores de serviços, aqueles que fazem serviços na minha casa, na sua casa, é o prestador individual, mas que trabalha na construção. É o eletricista, o pedreiro. Tem toda uma estrutura apartada que é a realidade do país.

AGÊNCIA DC NEWS – O setor de construção, que é intensivo em mão de obra [2,9 milhões com carteira), tem enfrentado dificuldade para preencher vagas, especialmente a mais qualificada?
YORKI ESTEFAN –
Temos enfrentado dificuldade, mas a gente tem atuado muito fortemente nisso. Temos alguns programas aqui no SindusCon para capacitação, para estudantes de engenharia e para os engenheiros formados. A gente tem uma parceria muito forte com o Senai, e fazemos treinamento com essa mão de obra que já está nas construtoras e quer se capacitar. Temos também uma parceria com uma ONG chamada Mulheres em Construção, que identifica mulheres em condições de vulnerabilidade nas comunidades, faz o treinamento dessas profissionais e nós fazemos a ponte com o mercado de trabalho. Agora mesmo temos um programa com a CDHU [Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo]. Vamos pegar essas pessoas que estão sem emprego, treiná-las e disponibilizá-las para um emprego na construção. São muitas iniciativas

AGÊNCIA DC NEWS – Vocês encontraram uma solução…
YORKI STEBAN –
O setor tem abastecido o mercado. Em um primeiro momento, quando esse trabalhador é incorporado, a gente observa queda na produtividade, mas com o passar do tempo ele adquire as habilidades necessárias.

AGÊNCIA DC NEWS – Alguma área com gargalo maior?
YORKI ESTEFAN –
Todas as atividades que são mais industrializadas, o setor tem facilidade de captar mão de obra. Os trabalhos menos industrializados, que requerem mão de obra mais bruta, esses a gente tem um pouco mais de dificuldade. Eu chamaria a atenção para três áreas: carpintaria, armação e pedreiros. Já quando a gente fala em instalações elétricas, hidráulicas, ar-condicionado, drywall [sistema de construção], é mais fácil selecionar.

AGÊNCIA DC NEWS – A própria industrialização ainda é um desafio?
YORKI ESTEFAN –
Logicamente que a industrialização tem um core principal aqui na cidade de São Paulo, e vai irradiando. Mais distante da capital, a gente tem percebido um grau menor de industrialização. Agora, depende de vários fatores.

AGÊNCIA DC NEWS – Quais fatores?
YORKI ESTEFAN –
Alguns desses fatores estão ligados às prefeituras. Por exemplo, para industrializar, a gente precisa poder transportar peças mais pesadas, como fachadas pré-moldadas. E aí, aquele equipamento que a gente vê da janela (aponta), que é uma grua, muito comum em vários países, não é tão comum aqui.

AGÊNCIA DC NEWS – Por quê?
YORKI STEBAN –
Porque existem restrições ao giro dessa lança. Então, em parceria com a prefeitura de São Paulo, a gente está atualizando a legislação da cidade para que possa usar mais equipamentos, para que possa ser mais produtivo e industrializar mais. A prefeitura tem estado superaberta a essa interlocução, e a gente tem trabalhado de forma muito colaborativa com eles.

AGÊNCIA DC NEWS – O SindusCon já afirmou que “é importante desmistificar a ideia de que filhos de trabalhadores não desejam a seguir a carreira dos pais nos canteiros de obras”. Um executivo do setor declarou que os jovens hoje preferem ser motoristas e até influencers. A idade média dos empregados está acima de 40 anos.
YORKI ESTEFAN –
Esse fenômeno do envelhecimento na área de construção é mundial. É uma realidade. Mas hoje um trabalhador na construção civil, habilitado, pedreiro, carpinteiro, chega a ganhar por volta de R$ 11 mil em um canteiro. É um valor bastante significativo perto do salário médio da população. Então, essa ideia de que o filho não quer mais seguir a profissão do pai até tinha um senso de realidade quando os salários não eram tão expressivos. A diferença de perspectiva [entre trabalhadores da construção e entregadores de aplicativos] é gigantesca.

AGÊNCIA DC NEWS – Os locais de trabalho passam por essa transformação também?
YORKI ESTEFAN –
Os canteiros sofreram um processo de digitalização muito grande. Todas as conferências de obras são feitas no celular, praticamente. Ele passa o QR Code na porta do apartamento, abre todos os projetos, identifica o que está certo ou errado, marca no iPad, já vai uma ordem de serviço, os projetos são todos feitos em 3D. O planejamento de obra, hoje, está completamente estruturado de forma automática, as programações semanais são revistas, já enviada a reprogramação para todos os times de empreiteiros. Houve uma revolução na parte dedigitalização e de inteligência artificial, atingindo agora os canteiros. Isso vai atrair outro público para a construção.

AGÊNCIA DC NEWS – E como treinar esse pessoal que está chegando?
YORKI ESTEFAN –
Então queremos contar com parceria do governo do estado e estabelecer uma carreira de treinamentos técnicos. Existem nove tipos de treinamentos que o governo dá na sua grade, mas nenhum voltado para a construção civil. Nosso projeto com o governo do estado é estabelecer a décima cadeira, que seria voltada para o tecnólogo de edificação.

AGÊNCIA DC NEWS – Qual a diferença imediata que isso traria?
YORKI ESTEFAN –
Seria um fator muito importante para atrair essa mão de obra já na escola para ver as possibilidades que existem na construção. Tecnólogo é uma profissão em que ainda o setor tem muita carência. Hoje trabalhamos muito com mestres de obras, que no futuro, na substituição natural, deveriam ser substituídos pelos tecnólogos, para cuidar do planejamento.

AGÊNCIA DC NEWS – Aquela figura que nós chamávamos de peão de obra está desaparecendo?
YORKI ESTEFAN –
Quanto mais a gente conseguir industrializar, menos a gente necessita fazer transporte de materiais. Aí não precisa desse auxiliar, que ajuda muito na produção, mas não é o pedreiro, o carpinteiro. A gente precisa diminuir o número de auxiliares e focar na produção, para ganhar produtividade.

AGÊNCIA DC NEWS – Em São Paulo nem tanto, mas o setor de construção civil tem práticas de trabalho análogo à escravidão. Como enfrentar isso?
YORKI ESTEFAN –
A construção civil é um dos setores mais regulados. A gente tem a NR-18 [norma regulamentadora], que trata de todas as normas de segurança e saúde. A gente tem o Seconci, que cuida da parte da saúde do trabalhador – o setor recolhe 1% de sua folha –, que faz toda a medicina preventiva. É um dos únicos setores que tem uma cadeia de saúde complementar. Trabalho análogo à escravidão em São Paulo eu nunca nem ouvi falar, não faz parte da realidade. Antigamente, 30 anos atrás, a gente tinha ainda os trabalhadores hospedados em canteiro. Hoje não temos mais.

AGÊNCIA DC NEWS – Não é uma preocupação, então?
YORKI STEBAN –
Nas obras modernas não tenho noção desse assunto. Eventualmente a gente não pode confundir a construção civil com a autoconstrução. Aí, realmente é um setor à parte. É como se a gente fosse tratar da medicina pela medicina ilegal. O setor formal é extremamente regulado e as pessoas são muito conscientes. Não é uma prática que a gente tem conhecimento.

AGÊNCIA DC NEWS – Em relação a acidentes, esse caso de Moema [bairro paulistano em que um trabalhador caiu do 16º andar de uma obra e morreu], pode ter sido uma falha de procedimento?
YORKI ESTEFAN –
Não recebi esse caso… Mas toda vez que acontece um acidente, a culpa é de um conjunto de fatores. A empresa é responsável por todas as medidas de proteção coletiva e a fornecer treinamento e os equipamentos de proteção individual. Essa dinâmica é feita em treinamentos diários. Mesmo assim,infelizmente, ocorrem falhas. O setor tem combatido diuturnamente esses acidentes. Hoje, quando você vê uma obra predial, é muito comum ter um técnico de segurança full time no canteiro. E o SindusCon tem uma equipe de técnicos que roda os canteiros, para ajudar as empresas nessa prevenção. Hoje está bastante mais regrado.

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