SÉRIE. Indústria Automobilística [7]. Stellantis pede agilidade na queda de imposto a carro menos poluente  

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Cappellano: "Prevejo crescimento moderado neste ano e condições melhores em 2026"
(Divulgação)
  • Cappellano, Stellantis: "Para o desenvolvimento do setor é fundamental implementar políticas públicas que garantam previsibilidade"
  • "Nosso investimento de R$ 30 bilhões será recorde, o maior do setor. Ele permitirá o lançamento de mais de 40 produtos entre 2025 e 2030"
Por Cleide Silva

[AGÊNCIA DC NEWS]. Emanuele Cappellano vai direto ao ponto. “O IPI Verde precisa ser implementado com mais agilidade”, disse. CEO da Stellantis na América do Sul desde novembro de 2023, em junho acumulou também o cargo de responsável global da divisão Pro One, de veículos comerciais da montadora. Com a nova atribuição, passou a integrar o Stellantis Leadership Team (SLT), comitê diretivo mundial, indicado ao cargo por Antonio Filosa, seu antecessor para o mercado sul-americano e hoje principal executivo de todo o grupo no planeta. A companhia, que vai destinar R$ 30 bilhões em investimentos no país entre 2025 e 2030, boa parte em veículos híbridos flex, é responsável por 30% das vendas de automóveis e comerciais leves no Brasil. Cappellano prevê crescimento moderado para a economia neste ano e um ambiente mais favorável em 2026.

No Brasil, a Stellantis atua com seis marcas – Citroën, Fiat, Jeep, Peugeot, RAM e a recém-chegada chinesa Leapmotor, que inicialmente oferecerá carros elétricos importados, mas os planos são de produção local. Os dois grupos formam uma joint-venture em que a Stellantis detém 51%. O modelo de estreia será o SUV C10 elétrico. Capellano é o sétimo entrevistado do Especial Indústria Automobilística, série de reportagens exclusivas da Agência de Notícias DC NEWS, que pertence à Associação Comercial de São Paulo (ACSP), com as principais lideranças do setor de veículos – os outros seis foram Ricardo Gondo (presidente da Renault do Brasil), José Ricardo Gomes (diretor comercial da Toyota no mercado latino-americano Tyler Li (presidente da BYD), Ciro Possobom (CEO e presidente da Volkswagen do Brasil), Ricardo Bastos (diretor de Assuntos Institucionais da GWM) e Igor Calvet (presidente da Anfavea).

Esta série joga luz a um setor em recuperação, mas que enfrenta obstáculos locais e externos, um segmento decisivo para a economia nacional. O Brasil está entre os dez maiores mercados globais e a produção total (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus) deve fechar o ano entre 2,7 milhões e 2,8 milhões de unidades, 7,8% acima de 2024. São 110 mil empregos diretos. Área tão crucial para a economia de qualquer país, uma indústria de veículos saudável alavanca o setor de comércio e de serviços. A seguir, a entrevista com Cappellano.

Escolhas do Editor

AGÊNCIA DC NEWS – Qual sua opinião sobre o momento econômico brasileiro? 
EMANUELE CAPPELLANO – Observo um cenário de recuperação gradual, embora ainda marcado por desafios significativos como a inflação, as altas taxas de juros e o elevado custo de diversos insumos. Prevejo um crescimento moderado neste ano, com os mercados se ajustando ao contexto global e às novas políticas internas. Em 2026, poderemos alcançar maior estabilidade econômica, criando um ambiente mais favorável ao crescimento. 

AGÊNCIA DC NEWS – O que é mais urgente a ser feito para impulsionar o setor automotivo? 
EMANUELE CAPPELLANO – Para o desenvolvimento do setor automotivo é fundamental implementar políticas públicas que garantam previsibilidade e estimulem a inovação e os investimentos. Um bom exemplo é o Programa Mover (Mobilidade Verde e Inovação), que fomenta a fabricação de veículos mais limpos e eficientes. Além dele, o IPI Verde (que prevê imposto menor para carros de baixa emissão) precisa ser implementado com mais agilidade.

AGÊNCIA DC NEWS – E para a Stellantis, o que é mais urgente? 
EMANUELE CAPPELLANO –
Buscamos previsibilidade regulatória, políticas adequadas e incentivos que estimulem tanto os investimentos quanto o consumo. Assim, conseguimos direcionar nossos esforços em pesquisa e desenvolvimento para entregar veículos mais eficientes, seguros e sustentáveis, como os híbridos-flex e elétricos, contribuindo para a descarbonização da mobilidade no Brasil. Além disso, acreditamos que a colaboração entre a indústria, o governo, as universidades e demais parceiros é crucial para superar desafios e aproveitar oportunidades, além de criar um ambiente de negócios estável e promissor.

AGÊNCIA DC NEWS – Quais as perspectivas para o setor automotivo e, especificamente, para o grupo? 
EMANUELE CAPPELLANO – O setor automotivo enfrenta desafios como políticas externas e volatilidade cambial. Ainda assim, a Stellantis registra forte crescimento, impulsionado pelo investimento recorde de R$ 30 bilhões, o maior do setor. Esse aporte permitirá o lançamento de mais de 40 novos produtos entre 2025 e 2030, oito powertrains e diversas soluções de eletrificação, incluindo veículos híbridos flex equipados com nossa tecnologia de descarbonização chamada de Bio‑Hybrid.

AGÊNCIA DC NEWS – Por que a tecnologia híbrida flex é a opção das montadoras locais?
EMANUELE CAPPELLANO –
No Brasil, temos uma matriz diversificada de propulsão, que inclui motores a combustão flex mais eficientes, motores elétricos e sistemas híbridos. Essa abordagem se apoia em uma vantagem competitiva nacional, que é a ampla capacidade de produção e distribuição de etanol, um biocombustível de impacto ambiental reduzido. Os lançamentos do Fiat Fastback e do Pulse híbridos representam um marco nessa transformação e materializam nossos esforços em oferecer mobilidade limpa, segura e acessível para o Brasil e a América do Sul.

AGÊNCIA DC NEWS – Como estão as vendas desses dois primeiros híbridos leves nacionais? 
EMANUELE CAPPELLANO – Com a chegada do Fiat Pulse e do Fiat Fastback equipados com o motor T200 Hybrid, a Fiat se consolidou como uma das marcas que mais comercializam veículos híbridos no Brasil. As vendas vêm crescendo exponencialmente desde o final do ano passado. Atualmente, os híbridos representam cerca de 50% do mix de vendas desses modelos, demonstrando uma excelente recepção por parte dos consumidores. Esses resultados reforçam a importância do lançamento para o mercado automotivo nacional, com modelos que combinam performance, eficiência e custo-benefício.

AGÊNCIA DC NEWS – O senhor falou de 40 lançamentos. Quantos estão previstos para este ano? 
EMANUELE CAPPELLANO – Anunciamos o SUV C10, da Leapmotor, que é um dos modelos que a marca irá comercializar na região, começando por Brasil e Chile. Também anunciamos a fabricação da picape Titano na Argentina, que terá mais de 50% da produção exportada para o Brasil. Outra novidade, mas para 2026, é a fabricação do novo Jeep Avenger na fábrica de Goiana (PE). 

AGÊNCIA DC NEWS – A manutenção de juros elevados atrapalha os negócios? 
EMANUELE CAPPELLANO – Taxas de juros altas reduzem o poder de compra do consumidor, impactando diretamente nas vendas. No setor automotivo, o crédito é essencial e está diretamente ligado às taxas de juros. Um cenário de juro elevado torna o financiamento menos acessível para boa parte dos consumidores. 

AGÊNCIA DC NEWS – O que pode ser feito para manter as vendas mesmo com o financiamento mais caro? 
EMANUELE CAPPELLANO – Primeiramente, esclareço que as vendas financiadas representam atualmente cerca de 50% das vendas totais do setor. Esse índice se mantém estável graças às condições especiais que oferecemos aos nossos clientes. Estamos comprometidos em diversificar as soluções de financiamento e em desenvolver modelos inovadores que atendam às novas demandas do consumidor. Nosso portfólio inclui marcas icônicas que vão do popular ao premium, o que nos permitiu manter a liderança de mercado por quatro anos consecutivos, mesmo diante das altas taxas de juros. 

AGÊNCIA DC NEWS – A Anfavea (associação das montadoras) projeta crescimento de 6,6% nos emplacamentos de veículos leves para este ano. Qual é sua projeção? 
EMANUELE CAPPELLANO – Estamos alinhados com os números da Anfavea, porque as taxas de juros continuam altas e podem impactar as vendas do segundo semestre.

AGÊNCIA DC NEWS – O que o grupo tem feito para produzir veículos mais eficientes?
EMANUELE CAPPELLANO – Um exemplo é a inauguração, em março, do TechMobility no Polo Automotivo de Betim (MG), que é um centro de desenvolvimento de produtos e mobilidade híbrida flex. Esse centro é o maior da América Latina dedicado ao desenvolvimento de tecnologias de eletrificação, abrangendo tanto baixa quanto alta voltagem. Reafirmamos, assim, nosso compromisso com a inovação e a engenharia nacional.

AGÊNCIA DC NEWS – O início das operações das montadoras chinesas BYD e GWM pode alterar planos da Stellantis, considerando a concorrência maior e as políticas agressivas de preços dessas marcas?
EMANUELE CAPPELLANO – É sempre positivo para o mercado a entrada de novos competidores, desde que haja igualdade de condições. A Stellantis possui um plano estratégico robusto e é a maior investidora do setor automotivo no Brasil, com os R$ 30 bilhões previstos para os próximos cinco anos. Com novos produtos e tecnologias sustentáveis reforçamos nossa capacidade de atender às demandas do mercado, mesmo com o surgimento de novos players. 

AGÊNCIA DC NEWS – Como estão os planos de produção nas fábricas do grupo no País?
EMANUELE CAPPELLANO – Nossa perspectiva é manter o nível de produção ao longo de 2025, seguindo a tendência dos últimos anos, em que alcançamos diversos recordes em Betim (MG) e Goiana (PE). Recentemente, anunciamos a contratação de 1,9 mil novos colaboradores, sendo 1,6 mil em Minas Gerais, incluindo 400 engenheiros para o TechMobility, e 300 em Porto Real (RJ), onde está a fábrica da Peugeot/Citroën. Temos o início da produção da picape Fiat Titano em Córdoba, na Argentina, e a contratação de 1,8 mil colaboradores, dos quais 50% serão mulheres. Para essa fábrica foram destinados investimentos de R$ 2 bilhões.

AGÊNCIA DC NEWS – A parceria da Stellantis com a Leapmotor deverá resultar também na produção local de modelos dessa marca? 
EMANUELE CAPPELLANO – Trabalhamos sempre com foco na integração e na nacionalização da produção de nossas marcas. Em breve, divulgaremos mais informações sobre a operação da Leapmotor.

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