Adriana Colloca, da ABEVD: "Venda direta está mais digital, mais jovem e cada vez mais feminina"

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Presidente da entidade diz que o foco está na modernização do setor
(Divulgação)
  • 68% dos consumidores exige entregas em até 24h, demandando melhorias logísticas no setor de vendas diretas, segundo associação
  • Adriana Colloca, a presidente da entidade, destaca que força de vendas atual é composta sobretudo (60%) por mulheres
Por Bruno Cirillo

[AGÊNCIA DC NEWS]. Com 3,1 milhões de revendedores ativos e um faturamento de R$ 50 bilhões em 2024, o setor de venda direta – também conhecido como porta a porta – vem se adaptando rapidamente às novas exigências do consumidor. A digitalização acelerada, impulsionada especialmente no pós-pandemia, modificou radicalmente a forma como os produtos são comercializados. “No mundo digital, o tempo é o principal ativo do consumidor”, afirmou Adriana Colloca, presidente-executiva da Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD), à AGÊNCIA DC NEWS. “Quem entrega rápido não só conquista a venda, mas constrói confiança.” Segundo a executiva, 68% dos consumidores esperam entregas em até 24 horas, o que forçou o setor a redesenhar sua logística e presença digital.

A associação reúne 50 empresas, como Avon, Natura, Herbalife e Mary Kay, e tem investido fortemente em tecnologia, treinamento e mobilização política. Um dos avanços mais recentes é a aprovação da nova categoria de nanoempreendedores, que, de acordo com Colloca, deve beneficiar milhões de brasileiros que atuam no setor informal. “Essa conquista permite que mais pessoas empreendam sem burocracia, com liberdade de horários e ganho proporcional ao esforço individual”, disse. Segundo dados da associação, as mulheres representam hoje 62% da força de vendas, enquanto jovens entre 18 e 29 anos já são mais da metade desse contingente. Entre os meios mais populares para venda aparecem o WhatsApp (79,9%); Redes Sociais (71,3%) e pessoalmente (46,4%).

Com crescimento de 6,5% no ano passado e previsão otimista para 2025, o Brasil mantém a sétima posição no ranking mundial da venda direta, sendo o maior mercado da América Latina. O movimento é liderado por uma nova geração de empreendedores, cada vez mais digitalizados e atentos às tendências do consumidor. “Ferramentas como as redes sociais se tornaram essenciais para alcançar os clientes com mais agilidade e personalização”, afirmou Colloca. Para ela, o modelo tradicional deu lugar a um ecossistema híbrido, que inclui aplicativos, marketplaces e pontos físicos. “O importante é manter o relacionamento direto, que sempre foi o diferencial da venda direta”. Confira, a seguir, a entrevista completa.

Escolhas do Editor

AGÊNCIA DC NEWS – Em 2024, a venda direta no Brasil cresceu 6,5%, pouco acima da inflação, movimentando R$ 50 bilhões. Como tem sido o desempenho dos associados nesse cenário?
ADRIANA COLLOCA As empresas associadas têm se destacado pela oferta de produtos de qualidade e pela relação diferenciada e prática que mantêm com seus consumidores.

AGÊNCIA DC NEWS – Pode exemplificar?
ADRIANA COLLOCA Em 2024, a Natura, por exemplo, registrou um crescimento de 18% no Brasil, superando o mercado nacional, que cresceu 10%. A Mary Kay, por sua vez, foi reconhecida pela Euromonitor International como a marca número 1 em vendas diretas de cuidados com a pele e cosméticos coloridos no mundo pelo terceiro ano consecutivo. Esse reconhecimento reflete o compromisso da empresa com a qualidade e a inovação de seus produtos, além do excelente trabalho de suas consultoras independentes.

AGÊNCIA DC NEWS – E a Avon, por exemplo, como tem se posicionado nesse contexto?
ADRIANA COLLOCA A Avon também tem mostrado resiliência e adaptação às mudanças do mercado. A Avon continua a investir na venda direta, reconhecendo sua importância estratégica para o negócio. Esses são alguns dos resultados que demonstram a força e a relevância do setor de vendas diretas no Brasil e o compromisso das empresas associadas à ABEVD com a inovação, qualidade e relacionamento com os consumidores.

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Estamos focados em modernizar ainda mais o setor, com ênfase na digitalização, uso de IA e nas mudanças de comportamento na busca por renda trabalhando de casa

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Adriana Colloca

AGÊNCIA DC NEWS – O setor está passando por uma forte transformação. Qual é a principal reclamação do setor neste momento?
ADRIANA COLLOCA – O setor de venda direta, assim como outros segmentos, está sempre enfrentando desafios, mas tem mostrado uma incrível capacidade de adaptação. Um bom exemplo disso é a digitalização. Antes da pandemia, havia uma minoria de revendedores e empresas digitalizados. Hoje, mais de 60% dos empreendedores realizam vendas online, o que demonstra que um desafio do passado se transformou em um grande case de sucesso. Além disso, uma pesquisa realizada pela CVA [Solutions], por encomenda da ABEVD, mostra que 80% dos vendedores utilizam aplicativos de mensagens como o WhatsApp e 71% recorrem às redes sociais para divulgar seus produtos e serviços.

AGÊNCIA DC NEWS – Essas ferramentas se tornaram essenciais para alcançar consumidores com maior agilidade e eficiência.
ADRIANA COLLOCA Sim, além de permitir maior personalização do processo. Mantivemos a essência da venda direta, que é o relacionamento e a praticidade, de todas as formas possíveis: presencial, pelas mídias sociais, aplicativos, plataformas e sites. O que antes parecia uma dificuldade, hoje é uma das maiores forças do setor. Há anos, não temos mais a limitação geográfica do porta a porta.

AGÊNCIA DC NEWS – Como a associação tem ajudado a resolver essas questões, especialmente no aspecto da digitalização?
ADRIANA COLLOCA – Relacionados à digitalização, acreditamos que o apoio das associadas aos empreendedores é fundamental. As empresas têm verdadeiras universidades para capacitação e treinamento dessa força de vendas. Como associação, fazemos parte dessa base, seja em congressos, conferências, compliance, fóruns e até mesmo hackathons (eventos de programação) para ouvir a geração Z. Inclusive, nosso próximo congresso, o maior evento do setor na América Latina, será no dia 27 de agosto, em São Paulo.

AGÊNCIA DC NEWS – Falando em avanços, qual tem sido o papel da ABEVD no campo legislativo?
ADRIANA COLLOCA – No campo legislativo, a ABEVD tem desempenhado um papel fundamental na promoção de avanços para o setor, como, por exemplo, a aprovação pelo Congresso Nacional da nova categoria de nanoempreendedores. Esta é uma conquista histórica que traz enormes benefícios para milhões de brasileiros, entre eles os envolvidos no segmento de vendas diretas. A ABEVD foi uma das principais responsáveis por capitanear essa reforma e pela criação dessa nova categoria, que vai viabilizar o início de pequenos empreendedores.

AGÊNCIA DC NEWS – E qual será o impacto dessa nova categoria no mercado?
ADRIANA COLLOCA – Prevemos um importante impacto econômico e também social, com mais de três milhões de brasileiros atuando como revendedores de vendas diretas. O número inclui principalmente mulheres (62,3%) e jovens entre 18 e 29 anos (53,5%).

AGÊNCIA DC NEWS – Então avanços do tipo abrem mais espaço para pessoas em situações econômicas distintas?
ADRIANA COLLOCA –
Sem dúvida, especialmente das classes D e E, possam empreender de maneira simplificada, sem as barreiras burocráticas que dificultam o acesso ao empreendedorismo. A ABEVD continuará a apoiar essas transformações, garantindo que todos os brasileiros que quiserem possam começar a empreender sem burocracia ou obstáculos, ganhando renda proporcional ao tempo que trabalham e se dedicam.

AGÊNCIA DC NEWS – Quantos associados a ABEVD tem hoje?
ADRIANA COLLOCA – Atualmente, a ABEVD conta com cerca de 50 associadas, que representam algumas das maiores marcas do mercado, como Avon, Natura, Herbalife, Tupperware, Yakult, Mary Kay, Cacau Show, entre outras. Ser associado significa ter o selo ABEVD, uma certificação de qualidade que atesta a conformidade das empresas de venda direta com as melhores práticas do setor.

AGÊNCIA DC NEWS – Para fechar, como a senhora vê o futuro do setor para os próximos anos?
ADRIANA COLLOCA – Estamos extremamente otimistas com os resultados de 2025. O setor de venda direta tem mostrado um desempenho positivo, reafirmando nossa posição como o sétimo maior mercado de vendas diretas no mundo. Com um faturamento relevante no mercado global, o Brasil segue sendo uma potência no setor e o maior na América Latina.

AGÊNCIA DC NEWS – E a expectativa para 2026?
ADRIANA COLLOCA –
Nossa expectativa para o próximo ano é muito positiva. Pesquisas apontam que as novas gerações não querem mais trabalhar com carteira assinada, com horário fixo, sem propósito e sem perspectivas de crescimento. A venda direta é uma excelente opção de empreendedorismo para esse público e para muitos outros brasileiros que querem empreender sem investir muito dinheiro e com pouco risco.

AGÊNCIA DC NEWS – O que a senhora considera como o principal foco da entidade atualmente?
ADRIANA COLLOCA –
Estamos focados em modernizar ainda mais o setor, com ênfase na digitalização, uso de IA e nas mudanças de comportamento na busca por renda trabalhando de casa, que têm aberto novas oportunidades para os empreendedores. O setor de venda direta deve continuar se destacando como uma força na economia brasileira.

AGÊNCIA DC NEWS – E como vê o passado?
ADRIANA COLLOCA –
A ABEVD foi fundada em 1980, com o objetivo de promover a venda direta no Brasil. Ao longo dos anos, a associação se consolidou como uma referência importante no setor, não só no Brasil, mas também mundialmente, como parte da World Federation of Direct Selling Associations (WFDSA), garantindo uma conexão direta com organizações internacionais, acesso a melhores práticas globais e a oportunidade de influenciar políticas e regulamentações que afetam a indústria da venda direta.

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