Arquiteta reapresenta projeto para recuperar painel de Di Cavalcanti. Após pichação, condomínio faz BO
Fachada do Edifício Triângulo depois da Virada: além da má conservação, pichação
(Andre Lessa/Agência DC News)
Trabalho do artista plástico fica na fachada do Edifício Triângulo, inaugurado em 1955. Projeto de restauro foi aprovado em 2017, mas não conseguiu financiadores
Durante a Virada Cultural, no último fim de semana, local foi alvo de pichadores. "Fiquei revoltado", diz zelador
Por Vitor NuzziCompartilhe:
[AGÊNCIA DC NEWS]. A arquiteta Isabel Ruas vai reapresentar à prefeitura de São Paulo projeto que prevê restauração da entrada do Edifício Triângulo, no Centro Histórico de São Paulo, conhecido pelo painel do artista plástico Di Cavalcanti. Será uma nova tentativa de recuperar o local, após aprovação de projeto entregue em 2017 ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) – que em 2004 aprovou o tombamento de áreas externas e internas do edifício (projetado por Oscar Niemeyer). “Apostamos muito na visibilidade da obra, para que ela seja mais respeitada”, afirmou a restauradora, que criou a Oficina de Mosaicos e esteve à frente de outros projetos envolvendo Di Cavalcanti, como o mural do Teatro Cultura Artística (TCA). Por este trabalho, a Oficina recebeu o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2012.
O projeto de 2017 para o Triângulo chegou a ser aprovado, mas não surgiram financiadores para bancar as obras (o valor à época era de R$ 297 mil). Segundo Isabel, a proposta atual será semelhante. Prevê não só o restauro do mosaico, mas a requalificação da entrada do edifício, que completa 70 anos em 2025. Uma das principais preocupações é melhorar a iluminação externa. “É um ponto escuro da rua. Parece um lugar abandonado, apesar de ser um prédio importante”, disse a restauradora, graduada em Arquitetura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (1978) e com mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela USP (2000).
No último fim de semana, a fachada do edifício foi pichada, exatamente sob o nome de Di Cavalcanti. Aconteceu pouco antes das 23h do sábado (24), durante a realização da Virada Cultural. O zelador do Triângulo, Everaldo Santos, que mora há 27 anos no último andar do prédio prédio, foi o primeiro a ver a pichação. “Fiquei revoltado”, disse . “Se trata de Virada Cultural, estamos falando de cultura, e vem uma galera aí e faz uma coisa dessas?” Ele afirmou que isso acontece justamente no momento em que o projeto de restauro está para ser representado ao Executivo municipal.
O zelador Everaldo mora há 27 anos no espaço: “Estamos falando de cultura” (Arquivo pessoal)
A pichação ainda está lá, porque o local ainda passará por perícia. Na quarta-feira (28), o condomínio registrou Boletim de Ocorrência (BO) no 1º Distrito Policial (Sé), com base na Lei 9.605, de 1998, sobre “condutas e atividades lesivas ao meio ambiente”. O Artigo 65 prevê detenção (de três meses a um ano), mais multa, por “pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano”. A ação foi filmada. Várias pessoas passavam pelo local. Algumas estavam em mesas colocadas no calçadão. Procurada para comentar o episódio, a Secretaria Municipal de Cultura (SMC) afirmou que, por se tratar de local tombado e pertencente à iniciativa privada, “a limpeza para remoção da pichação precisa ser previamente aprovada pelos órgãos competentes”.
Isabel se diz mais otimista com o sucesso da nova empreitada, “com a ajuda de pessoas que se interessaram em procurar patrocinadores”. O projeto prevê a elaboração de um folheto com informações sobre os painéis de Di Cavalcanti na região central de São Paulo, com sugestão de roteiro. Há um outro mural no edifício que hoje abriga o Hotel Nacional Inn Jaraguá, na rua Major Quedinho. O prédio foi sede do jornal O Estado de S.Paulo de 1951 a 1976. Com a mudança do “Estadão” para a Marginal Tietê, foi ocupado pelo jornal Diário Popular.