[AGÊNCIA DC NEWS]. Na nova edição do Relatório de Estabilidade Financeira (REF), divulgado na quinta-feira (21), o Banco Central afirma que não há risco dessa natureza no país – O BC define estabilidade financeira como a manutenção, ao longo do tempo e em qualquer cenário econômico, do funcionamento regular do sistema de intermediação financeira entre famílias, empresas e governo. “O SFN [Sistema Financeiro Nacional] permanece com capitalização e liquidez confortáveis e provisões adequadas ao nível de perdas esperadas”, disse o BC no documento. “Além disso, os testes de estresse de capital e de liquidez demonstram a robustez do sistema bancário.” A notícia é positiva. Mas o documento traz senões.
No relatório, o BC afirma que a despeito dos sinais econômicos favoráveis – o mercado de trabalho tem surpreendido positivamente em relação a nível de ocupação, taxa de desocupação e renda –, a capacidade de pagamento das famílias e das micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) segue desafiadora. “No caso das MPMEs, apesar do dinamismo recente do comércio, dos serviços e da indústria, há crescente volume de requerimentos de recuperação judicial e percepção de alavancagem elevada.” Além disso, o BC admite que o novo ciclo de aumento da taxa básica de juros pode elevar a pressão sobre a capacidade de pagamento de empresas e famílias. No caso de famílias com renda de até dois salários mínimos, o comprometimento chega a 34,5%. Acima de dez mínimos, cai a 17,9%.
INTERNACIONAL – Em relação à economia global, o documento analisa em particular a situação da China e dos Estados Unidos. No primeiro caso, o BC diz que o setor de incorporação imobiliária segue como principal fragilidade da economia. “Os investimentos no setor aprofundaram as quedas. Há reduções na área de obras [iniciadas ou em andamento] e nas vendas, resultando em um acúmulo de unidades terminadas, mas não vendidas.” Para dar estímulo maior à economia, o crédito bancário continua em expansão e o custo do crédito se reduziu. Mas há desaceleração. Segundo o BC, ela está associada à redução da confiança e à desaceleração do consumo e do investimento, o que implica menor demanda por crédito, principalmente por parte das famílias. “Nesse contexto, a expansão do crédito tem sido sustentada por meio de empréstimos bancários para o governo e empresas não financeiras e pela emissão de títulos públicos.” E a inadimplência no sistema financeiro chinês segue controlada.
Já nos EUA, a avaliação do BC é de que as taxas de juros de longo prazo – que demonstram a expectativa do mercado de maior equilíbrio macroeconômico – diminuíram ao longo do ano à medida que se reduziu a incerteza sobre seu ciclo monetário. “Contribui para a volatilidade as incertezas sobre a velocidade de convergência da inflação para a meta. Já em relação às famílias, as condições financeiras são confortáveis no agregado, com níveis de endividamento e de serviço de dívidas bem inferiores aos comparados à crise financeira de 2008 e sem alterações relevantes em relação ao período pré-pandemia. Apesar disso, o relatório diz que a taxa de poupança das famílias tem caído, assim como sua disponibilidade de liquidez. “O nível de atrasos ainda é baixo, mas tem se elevado, especialmente nas operações de cartão de crédito e de crédito de automóveis.”
Com o cenário sobre China e Estados Unidos, o Banco Central brasileiro afirma que a exposição do SFN ao risco da taxa de câmbio é baixa e a dependência de captação externa é pequena. “O sistema bancário brasileiro mantém ativos líquidos suficientes para absorver potenciais perdas e prevenir crises sistêmicas, inclusive em cenários estressados.” Em termos macroeconômicos, a liquidez “permanece confortável”. Já em relação às empresas, o BC relata que a desvalorização cambial e o maior endividamento atingiram os resultados financeiros de algumas companhias, principalmente no segundo trimestre. O que causou “queda no índice de cobertura de juros e a aumento na relação Dívida Líquida/Ebitda, com os níveis atuais desses indicadores piores àqueles verificados em junho de 2023”. Cenário que levou a um crescimento no volume de requerimentos de recuperação judicial para grandes, pequenas e médias empresas.