BCs do Brasil e dos EUA decidem sobre juros nesta quarta (18)

Uma image de notas de 20 reais

Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos se reúnem nesta quarta-feira (18) para decidir sobre juros, em data apelidada pelos mercados de “superquarta”.

A expectativa é que, aqui, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) suba a taxa básica do país, a Selic, 0,25 ponto percentual, de 10,5% para 10,75% ao ano.

Já nos Estados Unidos, a projeção é oposta: o mercado já dá como certo que o Fed (Federal Reserve, a autoridade americana) irá iniciar o ciclo de afrouxamento monetário nesta reunião. A incerteza, porém, recai no tamanho da redução: se 0,25 ou 0,50 ponto percentual.

Os juros estão na faixa de 5,25% e 5,50% desde julho do ano passado -o patamar mais restritivo em duas décadas. Qualquer corte nesta reunião será o primeiro do banco central em mais de quatro anos.

A autarquia dos Estados Unidos publicará a decisão às 15h (horário de Brasília), enquanto o resultado do Copom sairá às 18h, após o fechamento dos mercados.

O descompasso entre as autoridades monetárias poderá repetir o cenário visto entre a pandemia e o início deste ano. Enquanto o Brasil engatou em uma sequência de apertos na Selic, ainda em 2021, os Estados Unidos mantiveram os juros estacionados na banda de 0% e 0,25% de 2020 até 2022, quando então começou o ciclo de altas.

A Selic chegou à máxima de 13,75% em agosto de 2022, e neste patamar ficou por um ano, até os cortes pelo BC começarem. O Fed, em julho de 2023, alçou os juros ao atual nível de 5,25% e 5,50%.

Com a taxa de juros mais apertada por lá e uma Selic mais baixa aqui, os ativos domésticos enfrentaram um período de desvalorização, porque a renda fixa americana estava mais atrativa do que os investimentos de “risco”, como são consideradas as moedas de países emergentes e os mercados acionários.

O cenário pode mudar nesta quarta. “Essa dinâmica de queda de juros nos Estados Unidos e alta de juros no Brasil pode dar um certo alívio ao nosso real frente ao dólar nesses próximos meses”, afirma Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

A dúvida, porém, é sobre o tamanho do corte pelo Fed. O mercado está dividido: enquanto 55% das apostas apontam para um corte mais agressivo, de 0,50 ponto percentual, as 45% restantes indicam um menor, de 0,25 ponto, segundo a ferramenta FedWatch. Na semana passada, as proporções eram de 30% e 70%, respectivamente.

O BC americano trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto os dados de inflação e trabalho para decidir sobre os juros. O objetivo é atingir o chamado “pouso suave”, quando índices inflacionários convergem para a meta sem maiores danos à empregabilidade do país.

Um corte de 0,50 ponto permitiria ao Fed retornar os custos de empréstimos a níveis normais mais rapidamente, removendo restrições à economia e protegendo o mercado de trabalho de mais fraqueza.

Por outro lado, poderia gerar interpretações de que o banco central está preocupado com uma desaceleração mais acentuada da economia, levando os mercados financeiros a precificar uma redução mais dramática nas taxas a partir desta reunião.

Para o chefe da área de ações da AZ Quest, Welliam Wang, há argumentos para ambas as magnitudes de redução e, embora a expectativa maior recaia sobre o patamar dos juros, o mercado também estará atento à comunicação do comitê e à tradicional entrevista coletiva de Jerome Powell, presidente do Fed, logo após a reunião.

“Mas só o fato de ele começar um ciclo de afrouxamento monetário já tende a ser positivo para os ativos”, afirma.

Já na cena doméstica, os economistas ouvidos pela reportagem projetam uma elevação da taxa básica em 0,25 ponto percentual, e a média dos analistas ouvidos pela Bloomberg aponta nesse mesmo sentido.

Apesar da expectativa consensual sobre qual deve ser a rota escolhida pela autoridade monetária, nem todos os agentes econômicos concordam com o caminho que parece mais provável nesta reunião -a primeira desde que Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência do BC.

Alguns acham que o Copom precisa ser mais agressivo na largada, com uma alta de 0,5 ponto percentual, enquanto outros defendem que a melhor opção seria manter os juros no patamar atual, na visão deles já bastante restritivo.

O objetivo do comitê é levar a inflação ao centro da meta de 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.

Na última leitura do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da inflação do país, a base anual ficou em 4,24% em agosto -uma desaceleração dos 4,5% de julho, o teto da meta do BC. As expectativas para o restante do ano, porém, estão desancoradas da meta, o que favorece o argumento de alta da Selic.

O economista-chefe da XP e ex-assessor no Ministério da Economia, Caio Megale, considera acertada a possibilidade de um novo ciclo de subida de juros, a começar com uma elevação de 0,25 ponto.

“Quando se tem pouca visibilidade e muita incerteza, é melhor começar devagar e, ao longo do tempo, ir calibrando [o ritmo de ajuste]. Se precisar, acelera [o passo] ou não. Mas começar de forma gradual, com 0,25 [p.p.], faz sentido”, diz. “Até outro dia eles estavam cortando os juros. É uma reversão de percepção de cenário”, acrescenta.

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