Cai participação de retailtechs. Inflação e juros altos são as principais causas, diz Abstartups

Uma image de notas de 20 reais
O Mapeamento do Ecossistema Brasileiro de Startups 2024 é um estudo desenvolvido pela Abstartups
Crédito: FreePik
  • Mariane Takahashi, Abstartups: "Recuperação dependerá de retailtechs se adaptarem ao contexto econômico e trazer soluções inovadoras"
  • O SaaS (Software as a Service) é o modelo de negócio preferido, adotado por quatro a cada dez startups. Em segundo está venda direta (15,2%)
Por Bruna Galati

[AGÊNCIA DC NEWS]. O ecossistema brasileiro de startups continua a se transformar, mas as retailtechs, startups que desenvolvem soluções para o varejo, enfrentam desafios. Segundo o Mapeamento do Ecossistema Brasileiro de Startups 2024, estudo desenvolvido pela Abstartups e divulgado nesta sexta-feira (29), no evento Case 2024, o segmento, que representava 5,2% das startups no país em 2023, caiu para 4,7% em 2024. Para Mariane Takahashi, CEO da Abstartups, a queda na porcentagem de retailtechs pode ser explicada pelo ambiente econômico desafiador, com inflação elevada e juros altos nos últimos 12 meses, o que impactou os investimentos nas soluções para o varejo. “Isso gerou uma retração no investimento em inovação e em setores mais arriscados”, afirmou. 

Além disso, a CEO explica que a maturação do mercado de startups e uma possível saturação no número de novas iniciativas podem ter contribuído para essa diminuição. “A alta competitividade, tanto local quanto internacional, e a necessidade de adaptação rápida à transformação digital também podem ter impactado o crescimento de novas retailtechs”, disse. As incertezas econômicas e instabilidade política não só afetaram diretamente as retailtechs, mas também o mercado de inovação como um todo. Essas condições, segundo Mariane, tornaram o acesso ao crédito mais difícil e reduziram o capital disponível para investimentos em startups – entre janeiro e setembro, as startups brasileiras captaram US$ 1,46 bilhão, com 313 negócios fechados. O valor representou um crescimento de 9,5% em relação ao mesmo período de 2023, mas ainda é cinco vezes menor que o registrado nos primeiros nove meses de 2021, segundo dados da plataforma de inovação Distrito. 

Mesmo com os desafios enfrentados pelo segmento de retailtechs em 2024, Mariane Takahashi afirmou que há áreas que continuam a apresentar inovações relevantes para o mercado, como as soluções para o varejo físico e digital, especialmente no campo da inteligência de dados e experiência do cliente. Segundo um estudo da Liga Ventures, as três soluções mais ofertadas pelas retailtechs são comunicação e relacionamento com o cliente (10,9%), gerenciamento de loja (7,3%), e análise de dados (6,9%). As demais se dividem com inciativas para criação e personalização de e-commerce, meios de pagamento, experiência do cliente, chatbots, sustentabilidade, fidelização do cliente, operações de vendas e logística. “A recuperação do mercado dependerá da capacidade das retailtechs de se adaptarem ao novo contexto econômico e de oferecerem soluções inovadoras em nichos específicos”, disse Mariane. 

Escolhas do Editor

Para crescer em um mercado desafiador, ela afirma que as startups devem focar em parcerias estratégicas, na adaptação ágil às necessidades do consumidor e na busca por eficiência operacional, com um olhar atento para as novas demandas do mercado global. Ainda segundo o estudo da Liga Ventures, as retailtechs que mais receberam investimento em 2023 foram as de gerenciamento de loja (39%) e soluções para delivery last-mile (30%). Mariane acredita que o cenário é de oportunidades para startups que olham pro varejo. “As expectativas para 2025 indicam que, embora a concorrência e os desafios sejam grandes, ainda há espaço para inovação e crescimento, desde que as retailtechs saibam se posicionar de maneira estratégica.”

ECOSSISTEMA – No ranking geral, as edtechs predominam (10,1% de todas as startups), seguidas por fintechs (9,7%), techs-desenvolvedoras de tecnologia (9,2%), healthtechs (8,5%) e retailtechs (4,7%). O estudo destaca ainda em qual dos cinco estágios cada uma está. Na fase inicial, de ideação, há 8,8%. No passo seguinte, validação, são 20,7%. Em operação são 25,1%. Em tração, 20,9%. E na fase final, a de ganho de escala, há 15,5%. No item faturamento, as startups em 2023 tiveram em média receitas de R$ 737 mil. E 34,9% já receberam investimentos – eram 37,5% no ano anterior. A média do valor dos investimentos é de R$ 1,1 milhão. O Sudeste segue como o grande polo de inovação do Brasil, concentrando mais da metade das startups do país, com 57,6% dos negócios, sendo que São Paulo abriga 40,7% delas.

Também são mapeados dois elementos igualmente decisivos para entender por onde as startups brasileiras trafegam. Público-alvo e modelo de negócios. No primeiro tema, 54,1% têm como foco o mercado B2B, oferecendo soluções para outras empresas. Na sequência vêm o modelo B2B2C (28,6%), conectando empresas a clientes finais, as B2C (13%), as B2G (2,5%), que miram governos, B2S (1,4%), startups que têm como público-alvo outras startups, e P2P (0,4%, peer-to-peer, modelos em que as redes conectadas em um sistema funcionam tanto como clientes quanto servidores. Com relação a modelos de negócios, se sobressaem o SaaS (Software as a Service), com 39% de todas, à frente de vendas diretas (15,2%) e clube de assinaturas (12,3%).

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