Para onde está indo o dinheiro de inovação das varejistas? É provável que seja para as retailtechs, startups focadas em soluções para o varejo. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) com a Deloitte, existem 167 empresas dessa categoria no Brasil. Desse total, 42% operam no modelo SaaS (software como serviço) e 50% estão em fase de tração e escala do negócio. Esse é o panorama. Walter Sabini Junior, fundador e CEO da Hipartners Capital&Work está de olho nesse segmento. Sua empresa é o primeiro venture capital (VC) brasileiro focado apenas em retail techs. Em 2020, lançou o primeiro fundo, de R$ 75 milhões, o FIP F360º. “Os VCs geralmente são mais agnósticos, não fazem distinção de segmentos. Mas por minha conexão com esse universo, faz todo sentido [segmentar a atuação em retail techs]”, afirmou. Desde 2021 ele já fundou cinco companhias, foi ou é investidor e conselheiro em 17 e agora, com a HiPartners, já investiu mais de R$ 16 milhões em seis retailtechs. E aponta um front de oportunidades.
DC NEWS – Como você vê a transformação digital no varejo atualmente?
Walter Sabini Junior – Está acontecendo em um ritmo acelerado, e as mudanças tecnológicas são fundamentais. Mas ainda temos um longo caminho pela frente.
DCN – No universo do varejo, há setores que estão mais à frente dos outros em termos de inovação?
Sabini – Setores como o de moda estão muito à frente. Especialmente na utilização das redes sociais para engajamento. Já no setor alimentício, o foco está na eficiência operacional, com programas de fidelidade e melhorias na cadeia de suprimentos. As farmácias, por sua vez, buscam uma conexão mais próxima com o cliente. Todos os setores estão abertos à inovação, mas o desafio está em como absorver essas novas tecnologias de forma eficaz.
DCN – O que acelerou essa transformação?
Sabini – Nos últimos anos, com a pandemia, muitas empresas se viram forçadas a investir em tecnologia para sobreviver. Isso acelerou a transformação digital. Empresas que estavam paradas começaram a perceber a importância de uma presença online, da experiência do cliente e de soluções que tornem o processo mais eficiente.
DCN – O varejo tem uma boa governança de dados?
Sabini – A quantidade de dados disponíveis hoje é imensa, mas ainda não os utilizamos de maneira eficaz.
DCN – Como a IA pode ajudar nisso?
Sabini – No futuro, imagino que teremos assistentes de IA que nos ajudarão a gerenciar essas interações, filtrando o que é importante e respondendo automaticamente. Isso pode ser revolucionário para a produtividade. No CRM, o relacionamento com o cliente é atualmente muito superficial. A comunicação tende a ser massificada e não personalizada. No entanto, a IA pode possibilitar uma interação mais individualizada, criando engajamento maior. Isso é uma oportunidade que ainda não foi bem explorada no mercado.
DCN – Qual seria a fórmula secreta para as retailtechs?
Sabini – Acredito que é fundamental oferecer algo simples e eficaz, que funcione tanto para o varejista quanto para o cliente final. Startups que conseguem isso, como a Food to Save, são as que queremos ter em nosso portfólio. Eles resolveram um problema de desperdício de produtos das empresas, varejistas e estabelecimentos de alimentação, enquanto retornam valor com esses produtos de volta para o cliente.
DCN – Por qual motivo a HiPartners não investe em empresas em estágio muito inicial?
Sabini – Temos uma tese focada em empresas que já estão entregando resultados, que já tiveram seu break even e que possuem uma base sustentável. Esse tipo de empresa é a que procuramos apoiar, pois podemos oferecer algo além de capital.
DCN – Qual o diferencial de vocês?
Sabini – Nosso diferencial é o forte relacionamento com os maiores varejistas do Brasil. Esse é o nosso smart money. Quando investimos, assumimos um papel ativo nas startups. Eu me torno conselheiro e ajudo no desenvolvimento e crescimento das empresas, especialmente nas áreas comerciais. O relacionamento próximo que temos com os varejistas nos permite abrir portas, acelerando muito o crescimento das startups que apoiamos.
DCN – Quanto vocês já investiram até agora?
Sabini – Esse é nosso primeiro fundo. Já investimos cerca de R$ 16 milhões.
DCN – Qual é a análise de vocês sobre as startups analisadas até o momento?
Sabini – Nos últimos dois anos, olhamos para aproximadamente 1,4 mil empresas. Dentre essas, investimos em seis, o que dá menos de 0,5%.
DCN – Por que esse número tão baixo?
Sabini – Essa equação não é tão simples. Há muita gente no mercado, mas muitos fazendo legados que não são legais, e você precisa juntar essas arestas para conseguir investimento. Pode ser também que sejamos muito exigentes em só investir em empresas que já estão entregando resultados, diferentemente do que ocorre no restante do mercado. Quando você pega as variáveis para a execução, precisa ter bons fundamentos, uma boa solução e um mercado aderente ao timing para absorção disso. É necessário ter um alinhamento dos astros.