Há 50 anos, em 16 de setembro de 1974, os primeiros paulistanos faziam suas viagens inaugurais no metrô. Havia apenas uma linha (a atual 1-Azul) e sete estações (da Vila Mariana até o Jabaquara). De lá para cá, se aproxima da primeira centena de estações (em operação são 91) e bateu 104km de extensão. Para marcar este meio século do sistema – decisivo não apenas para a mobilidade da metrópole, mas igualmente em sua transformação econômica –, a agência DC NEWS iniciou a série Metrô-SP 50 Anos. Pelos próximos dias, veicularemos reportagens para narrar suas melhores histórias e seus maiores desafios. Na de hoje, a história da Estação da Luz, a principal trama metroferroviária do sistema.
Reportagem 3. Estação da Luz:
Não dá para falar do metrô Luz sem falar de sua homônima e icônica estação ferroviária. Localizada no coração de São Paulo, ela é um dos marcos históricos e culturais mais importantes da cidade. Além disso, é um marco econômico. Se a cidade se fez gigante, é a linha de trem que passa pela Luz a responsável maior. Nascida para escoar a produção cafeeira do interior para o Porto de Santos, pode-se dizer que a estrada de ferro foi uma pioneira Parceria Público-Privada (PPP), por meio do decreto 1.759 (de 26 de abril de 1856). Ele faria nascer a São Paulo Railway Company Ltd, que iria construir e operar a primeira ferrovia paulista, nascida em 1867 – 13 anos depois da pioneira Estrada de Ferro Mauá, no Rio de Janeiro. Era uma São Paulo com menos de 30 mil habitantes (o primeiro censo da cidade é de 1872).
A estação foi inaugurada junto da Santos-Jundiaí, mas era um local acanhado que logo passou por reformas para se tornar o imponente edifício atual, entregue em 1901. O restaurador e conservacionista Toninho Sarasá, um dos especialistas mais atuantes em restaurações no país, incluindo parte da própria Estação da Luz, disse que ela reflete o momento histórico em que foi construída, evidenciando o poder do café na trajetória de expansão da cidade. Erguida junto ao Jardim da Luz, por décadas a sua torre dominou parte da paisagem central paulistana. “O seu relógio era o principal referencial para acerto dos relógios da cidade”, afirmou Sarasá à DC NEWS. “Destruído pelo incêndio de 1946, foi substituído, cinco anos depois, por um relógio Michelini, de fabricação nacional, que permanece até hoje intacto.”
Por detalhes assim a estação é um símbolo da rica herança arquitetônica e cultural de São Paulo. O projeto arquitetônico, atribuído ao escritório britânico Charles Henry Driver, reflete o estilo vitoriano característico da época. A torre do relógio, que se tornou um ícone da cidade, foi inspirada no Big Ben de Londres. A estrutura metálica da estação foi toda importada da Inglaterra, um procedimento comum para grandes obras de engenharia no início do século 20. Ao longo da história, ela passou por diversas reformas. A mais significativa culminou em 2006 com a entrega do Museu da Língua Portuguesa. Apesar de ter sofrido um incêndio devastador em 2015, foi reaberto em 2021.
Um polo de cultura, beleza arquitetônica e movimentação frenética que sempre marcou a estação e tornou inevitável fazê-la uma das mais importantes integrações com o sistema metroviário. Dados da CPTM, que opera o ramal de trens, indicavam circulação de 250 mil passageiros por dia. Pelo lado metroviário, é a segunda estação de maior movimento – 140 mil pessoas em dias úteis, considerando as integrações das Linhas 1-Azul e 4-Amarela (operadas por Metrô e Via Quatro, respectivamente) e Linhas 7-Rubi e 11-Coral (de trens, sob gestão da CPTM). Fica atrás apenas da Estação Sé (198 mil pessoas, Linhas 1-Azul e 3-Vermelha). Fluxo que levou a estação a se tornar esse misto de beleza e caos. Realidade que não deve mudar tão cedo, como afirmou o próprio presidente da CPTM, responsável pela administração da Estação da Luz, Pedro Moro (ver abaixo).
Todas as reportagens do Especial Metrô-SP 50 Anos.
1. Os vários nascimentos do metrô de São Paulo
2. Implosões abrem caminho para o Centro
5. Extensão do sistema deveria quase triplicar
Entrevista.
Presidente da CPTM diz que opera em capacidade máxima e sugere “soluções amplas”
A Estação da Luz opera em capacidade máxima, de acordo com a CPTM, responsável pela administração do local. Em horários de pico, o cenário no local é caótico, tem trânsito intenso de pessoas e vagões lotados. Pedro Moro, presidente da CPTM, disse que o desafio para melhorar a sobrecarga no sistema é planejar. “Para resolver o problema de excesso de pessoas, precisamos pensar em soluções mais amplas. A CPTM está ciente de que ainda não atingiu o ideal, mas, sozinha não consegue fazer muito mais do que já vem fazendo”, disse.
DC NEWS – Na Estação da Luz há muitas reclamações de excesso de pessoas em horários de pico. Vocês estão operando acima da capacidade?
Pedro Moro – É importante entender que horário de pico é horário de pico em qualquer lugar do mundo. Em cidades grandes como São Paulo, é normal ver um grande volume de pessoas utilizando o transporte público nos horários de maior movimento, e a Estação da Luz não é a exceção.
DCN – É possível fazer mais?
Moro – Quanto à CPTM, posso afirmar que estamos operando na nossa máxima capacidade. Temos feito muitos investimentos para modernizar e aumentar a eficiência de nossos trens e estações. Novos trens, melhorias nas linhas e na sinalização, tudo isso ajuda a melhorar o serviço. Mas, mesmo com todos esses esforços, a demanda durante os horários de pico é extremamente alta.
DCN – Como resolver isso?
Moro – Infelizmente, não há muito mais que possamos fazer para aumentar a capacidade física dos trens e das linhas a curto prazo. Já estamos operando com a máxima frequência possível de trens para garantir que o maior número de pessoas consiga se deslocar de maneira eficiente. Para resolver o problema de excesso de pessoas, precisamos pensar em soluções mais amplas.
DCN – Que tipo soluções?
Moro – Uma dessas soluções é incentivar o uso do transporte público fora dos horários de pico, com campanhas de conscientização e, possivelmente, até tarifas diferenciadas. Além disso, parcerias com empresas para flexibilizar os horários de trabalho podem ajudar a distribuir melhor o fluxo de passageiros ao longo do dia. A CPTM está ciente de que ainda não atingiu o ideal, mas, sozinha, não consegue fazer muito mais do que já vem fazendo.
DCN – Que melhorias o senhor poderia destacar?
Moro – É difícil destacar apenas uma melhoria, pois temos várias iniciativas em andamento e que estão sendo realizadas ao longo dos últimos meses e anos. Por exemplo, entregamos recentemente a plataforma 5 da estação da Luz, dedicada exclusivamente ao Expresso Aeroporto. Também inauguramos o espaço maternidade, na mesma estação. Temos ainda a obra do túnel de ligação entre Metrô, ViaQuatro e CPTM. Além da Luz, estações como Manoel Feio (em Itaquaquecetuba), Poá e Utinga (em Santo André) passam por melhorias significativas. Estamos aprimorando as vias, AMVs (Aparelhos de Mudança de Via) e a rede aérea, itens cruciais para a circulação eficiente dos trens.
DCN – A pontualidade é outro foco de reclamações.
Moro – Em termos de pontualidade e eficiência, a CPTM tem trabalhado arduamente para reduzir os intervalos entre os trens aos longos das suas cinco linhas. Isso é crucial para atender a demanda de uma metrópole como São Paulo, e esses esforços têm resultado em um serviço mais confiável e eficiente, comparável ao que vemos em cidades como Nova York, Londres e Paris. A integração com outras formas de transporte, como metrô e ônibus, é outro ponto forte. A CPTM tem várias estações interligadas.
DCN – Como o senhor descreveria a importância histórica da Estação da Luz?
Moro – A Estação da Luz é muito mais que um prédio ou uma estação de trem. É um símbolo vivo da história de São Paulo e do Brasil. É um lugar cheio de memórias e continua sendo um ponto de referência para todos nós. Em resumo, a Estação da Luz é um patrimônio que conecta o passado, o presente e pode se dizer que inspira o nosso futuro.
DCN – Qual é a importância dela para a cidade?
Moro – A Luz é um importante hub de transporte. Ela conecta várias linhas de trem e metrô, facilitando o deslocamento diário de milhares de pessoas na região metropolitana de São Paulo e Centro. Isso não só melhora a mobilidade urbana, mas também contribui para a integração da cidade com suas áreas vizinhas. O local é fundamental para a cidade e suas regiões ao entorno. Ela impulsionou o crescimento econômico, é um ícone cultural e histórico. E continua a ser peça-chave na infraestrutura de transporte.