Datena alega insegurança e evita corpo a corpo com eleitor

Uma image de notas de 20 reais
Do total de candidaturas registradas nas capitais, apenas 40 serão lideradas por mulheres, o que equivale a 20,8% dos candidatos às prefeituras
Crédito: Alejandro Zambrana/Secom/TSE

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Estreante em uma campanha eleitoral, José Luiz Datena (PSDB) tem evitado caminhadas pelas ruas e aparições em locais públicos em São Paulo. Sua primeira experiência, uma ida ao Mercado Municipal no dia 17 de julho, deixou o comunicador preocupado diante da aglomeração do público.

Articuladores da campanha e tucanos experientes na corrida eleitoral tentam reduzir a resistência de Datena. Na avaliação desse grupo, o jornalista é conhecido há décadas por suas aparições na televisão, mas ainda precisa apresentar a candidatura.

Quem esteve no Mercado Municipal, por exemplo, notou que parte do público via a aparição do apresentador como se fosse uma gravação para televisão. A visita transcorreu sem tumulto ou hostilidades.

À reportagem Datena afirmou que vai “tentar fazer” mais duas ou três agendas em ambientes públicos e “ver a reação”. A preocupação, segundo ele, é com a integridade física do público.

“Ataque pessoal não tem problema. Fui repórter de campo, na Vila Belmiro, por exemplo, jogavam copo com mijo, e a torcida me xingava”, diz.

“Eu tenho muita preocupação com a segurança das pessoas. Já vivi tempo demais, enfrentei câncer, não tenho baço, coloquei stent. Não tenho medo. Eu prefiro perder a prefeitura do que ter uma pessoa machucada”, completou.

Apesar de a campanha eleitoral ter inicio formalmente em 16 de agosto, um dia depois do prazo final para registro das candidaturas, o PSDB já planejava outras agendas públicas logo após a do Mercado Municipal.

A ideia foi anunciada naquele mesmo dia pelo presidente do diretório municipal do partido e vice na chapa de Datena, José Aníbal. A segunda visita, inclusive, já estava pautada para o dia seguinte, no Mercado Municipal da Lapa (zona oeste), uma região tomada pelo comércio popular. Mas não ocorreu.

O plano era fazer agendas na região de cada um dos 58 diretórios zonais do partido na capital, de acordo com Aníbal. “Agora foi um ensaio, o primeiro. Na semana que vem, a gente quer fazer cinco dias ou seis, todo dia ter uma agenda”, disse o dirigente partidário na ocasião.

Quase um mês depois, nenhuma visita se concretizou.

A reportagem apurou que, logo após a primeira experiência em um equipamento público, Datena reclamou com a Executiva do partido sobre a falta de cuidados com a sua exposição. O comunicador tem um histórico de críticas e denúncias ao crime organizado, sobretudo o PCC (Primeiro Comando da Capital).

Ele também se queixou da agenda no centro da cidade em entrevista à revista piauí. “Se quisessem me matar ali, me matavam. Tinha só quatro caras na segurança”, disse.

Em nota à reportagem, a assessoria do candidato afirmou, na sexta-feira (9), que a campanha de Datena “tem uma particularidade importante em função da popularidade do candidato” e que as agendas dele “nas diferentes regiões da cidade serão divulgadas no decorrer do processo eleitoral”.

“Os atos públicos com Datena merecem atenção especial e estão sendo planejados criteriosamente para se evitar tumultos”, diz o texto.

“Segurança é, infelizmente, uma preocupação de todos os paulistanos, mas não há nenhuma demanda do candidato nem foi identificada pela coordenação da campanha qualquer necessidade de reforço de segurança”, completa.

Estrategistas da campanha do pré-candidato afirmam que é preciso fazer movimentos pensados e controlar a sua exposição. Por isso, até agora, ele tem escolhido participar de algumas entrevistas à imprensa, além de ter ido ao debate da Band nesta quinta-feira (8).

Terceiro colocado na mais recente pesquisa do Datafolha, com 14% das intenções de voto, o tucano tem a incumbência de desmontar um cenário consolidado entre os rivais Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) –políticos habituados com as agendas pelas ruas. Ao mesmo tempo, Datena está empatado com Pablo Marçal (PRTB), que aposta suas fichas nas redes sociais.

Em entrevista à Folha de S. Paulo no mês passado, ao ser questionado sobre a experiência no mercado, Datena afirmou ter gostado, mas pontuou que sua popularidade atrai uma multidão e gera dificuldades.

“Foi muito gostoso, foi legal. Sou um [pré-]candidato, mas sou apresentador, então sou um cara conhecido. Eu avisei o pessoal: vai dar complicação. E foi uma complicação terrível, tinha gente pra caramba, eu não conseguia sair de lá”, disse. “Demorei uma hora e quarenta [minutos] para sair daquele lugar”, completou.

Datena afirmou ainda que queria evitar aglomeração, indicando que as agendas na rua não seriam frequentes. “Tem que ter essa preocupação. Não quero, sem falsa modéstia, criar problema, aglomeração, empurra-empurra. Quero evitar um pouco. Não evitar o povo, mas evitar problemas para o povo.”

Outra razão para a exposição controlada é o caráter imprevisível ou até explosivo de Datena. Na convenção do PSDB, por exemplo, ele decidiu, ao terminar seu discurso, deixar o auditório e ir até as grades da Assembleia Legislativa para provocar manifestantes contrários a ele.