Dólar e Bolsa fecham em queda, com nova intervenção do BC no câmbio e feriado nos EUA

Uma image de notas de 20 reais
Galípolo também será sabatinado no Senado Federal
Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em queda de 0,29% nesta segunda-feira (2), aos R$ 5,615, em dia de volatilidade marcado por leilão extra realizado pelo BC (Banco Central) e por um feriado que fechou os mercados nos Estados Unidos.

A moeda oscilou entre os sinais durante a sessão. Na máxima, chegou a R$ 5,659; na mínima, a R$ 5,604.

Já a Bolsa recuou 0,81%, aos 134.906 pontos, puxada pelo recuo dos papéis da Vale.

A sessão foi de baixa liquidez em função do feriado do Dia do Trabalho nos Estados Unidos, o que costuma trazer mais volatilidade aos ativos de risco, como o real e os mercados acionários.

Com as negociações americanas fechadas, o foco dos agentes econômicos se voltou à cena doméstica. O BC realizou um leilão extra de 14.700 contratos de swap cambial entre 9h30 e 9h40 desta manhã, o equivalente a US$ 735 milhões.

No total, foram vendidos 13.000 contratos com vencimento em 5 de março de 2025 e outros 1.700 com vencimento em 1º de agosto de 2025.

Foi a terceira intervenção no câmbio desde sexta-feira, quando a autarquia fez duas vendas para tentar conter a alta do dólar: uma no mercado à vista, de US$ 1,5 bilhão, e outra de 15.300 contratos de swap cambial, de US$ 765 milhões.

Na operação à vista, o leilão é de reservas internacionais, sem compromisso de recompra, e o dinheiro é injetado no mercado.

Já os contratos de swap funcionam como injeção de dólares no mercado futuro, e quem compra está protegido em caso de desvalorização. São uma forma de dar saída aos investidores, como se abrisse uma porta alternativa em uma festa lotada, exemplificam economistas.

Na prática, os leilões visam estimular a circulação de dólares no país, seguindo a lei da oferta e demanda: quanto mais disponível, menor o preço.

O motivo para as três intervenções foi uma saída atípica de dólares do Brasil para os Estados Unidos, o que tende a elevar o valor da moeda. No caso, foi devido a um rebalanceamento do MSCI (Morgan Stanley Capital International), um índice composto por ações de empresas de médio e grande porte com atuação global.

“Tivemos a entrada de empresas brasileiras na Bolsa de Nova York: o Banco Inter, o Nubank, a XP, a PagSeguro e a Stone”, diz Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital. Isso, segundo ela, exigiu movimentações no câmbio para atenuar os impactos no real.

No cenário externo, a moeda norte-americana operou sem direção única, uma vez que investidores adotaram maior cautela antes da divulgação de nova bateria de dados econômicos dos Estados Unidos. O índice do dólar -que mede o desempenho da moeda frente a uma cesta de seis divisas— caiu 0,05%.

“No âmbito global, as movimentações serão menos exageradas. Entendo que seja um aquecimento para uma semana de muitas emoções”, disse Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

O grande evento na agenda dos investidores será a publicação do relatório de emprego dos EUA na sexta-feira, o chamado “payroll”. A expectativa de analistas consultados pela Reuters é de criação de 165.000 postos de trabalho, ante 114.000 no mês anterior.

A divulgação acontece em um momento de grande atenção a qualquer sinal sobre os próximos passos do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano). As leituras sobre o mercado de trabalho por lá têm ditado apostas sobre o ritmo de cortes nos juros, com a próxima decisão marcada para os dias 17 e 18 de setembro.

“Dados adequadamente fracos são bons para as expectativas de corte do Fed e apetite ao risco, mas dados muito fracos e expectativas de cortes gigantes não dão suporte ao apetite ao risco”, afirmou a analista Ipek Ozkardeskaya, do Swissquote Bank, em comentário enviado a clientes.

A percepção de um afrouxamento gradual pela autoridade dos Estados Unidos tem mexido com os mercados. Quanto mais o Fed cortar os juros, melhor para ativos de risco como o real e mercados acionários, que se tornam mais atraentes diante da queda dos rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro dos EUA.

Operadores veem 68% de chances de uma redução de 0,25 ponto percentual nos juros e 32% de probabilidade de um corte maior, de 0,50 ponto, segundo a ferramenta CME FedWatch.

Internamente, os agentes financeiros repercutiram o Projeto de Lei Orçamentária de 2025. A previsão é de alta de R$ 132,2 bilhões das despesas obrigatórias no ano que vem, puxada por um aumento de R$ 71,1 bilhões de gastos com a Previdência Social.

O Orçamento também prevê crescimento de R$ 36,5 bilhões em despesas com pessoal e encargos sociais, R$ 11,3 bilhões em gastos obrigatórios com controle de fluxo, R$ 6,6 bilhões com BPC (Benefício de Prestação Continuada), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, e mais R$ 6,5 bilhões em abono e seguro-desemprego.

O crescimento das despesas obrigatórias tem pressionado as contas públicas, espremido as despesas discricionárias (de investimento e custeio da máquina administrativa) e colocado em xeque o novo arcabouço fiscal, aprovado no governo Lula (PT).

A pressão da alta das despesas obrigatórias eleva a percepção de risco dos investidores sobre o futuro das contas públicas sem que reformas estruturais sejam feitas.

Na cena corporativa, a Vale puxou a Bolsa para o campo negativo, com queda de 1,41% após desvalorização do minério de ferro na China. Petrobras também operou em baixa, com os papéis ordinários e preferenciais recuando 0,41% e 0,93%, respectivamente.

A Azul derreteu 18,18%, com agentes financeiros ainda cautelosos sobre eventuais opções que a companhia aérea possa usar para lidar com a dívida de US$ 600 milhões anunciada na semana passada.

Já na ponta positiva, a rede varejista Sendas liderou com alta de 2,40%, seguida pela 3R Petroleum (1,97%) e pela resseguradora IRB (1,94%).

O primeiro pregão de setembro trouxe a nova cofolhasp189mposição para o Ibovespa, que irá vigorar até o final do ano, com a entrada das ações de Auren, Caixa Seguridade e Santos Brasil, e saída dos papéis de Dexco e Grupo Soma, totalizando 86 papéis de 83 empresas.