Dólar sobe apesar de leilão do BC, com pressão de dados de inflação dos EUA; Bolsa cai

Uma image de notas de 20 reais

Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar tinha alta firme nesta sexta-feira (30) após o leilão de US$ 1,5 bilhão no mercado à vista do BC (Banco Central), com pressão de dados de inflação dos Estados Unidos.

Às 11h36, a moeda avançava 0,70%, a R$ 5,661, depois de ter iniciado o dia com recuos de 0,81%. Já a Bolsa recuava 0,16%, aos 135.815 pontos, também em meio à expectativa pelo envio do Orçamento de 2025 ao Congresso Nacional.

O leilão foi realizado entre 9h30 e 9h35, no que foi a segunda intervenção do câmbio desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo a autoridade monetária, foi aceita uma proposta no valor total.

A medida foi anunciada na noite de quinta-feira, após o dólar fechar em forte alta de 1,18%, a R$ 5,621, e a Bolsa recuar 0,95%, aos 136.041 pontos.

Ao atuar no mercado à vista, a autoridade monetária vende reservas internacionais, sem compromisso de recompra, e o dinheiro é injetado no mercado. Essa foi uma alternativa mais recorrente no governo de Fernando Henrique Cardoso, durante o câmbio fixo.

O valor foi referenciado à taxa Ptax, uma taxa de câmbio que serve de base para a liquidação de contratos futuros. O último dia útil de cada mês costuma ser de maior volatilidade no dólar devido à formação dessa taxa, e, com o leilão, a expectativa é de mais instabilidade.

O dólar engatou em movimento de alta firme logo após a venda, chegando a R$ 5,691 na máxima do dia.

Na análise de Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, o leilão não foi o suficiente para conter o avanço da moeda depois da divulgação do PCE, o indicador favorito de inflação do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos).

O índice de preços de despesas de consumo pessoal subiu 0,2% no mês passado, depois de um ganho de 0,1% em junho, segundo o relatório. Os economistas haviam previsto que a inflação PCE aumentaria 0,2%. Nos 12 meses até julho, o índice de preços PCE aumentou 2,5%, igualando o ganho de junho.

“O indicador reforçou a hipótese de que o Fed deve abaixar os juros em 0,25 ponto, e não em 0,50 ponto, na próxima reunião de política monetária. Isso está fortalecendo a moeda norte-americana”, diz Quartaroli.

A percepção de um afrouxamento gradual pela autoridade dos Estados Unidos já havia dominado os mercados na quinta-feira, após a divulgação dos dados do PIB (Produto Interno Bruto) anualizado do segundo trimestre.

A economia cresceu 3% no período analisado, superando a estimativa inicial de 2,8% apresentada na primeira leitura preliminar. Economistas consultados pela Reuters previam que não haveria revisão.

O dado acelerou em relação ao 1,4% registrado no primeiro trimestre, afastando ainda mais os temores de que uma desaceleração acentuada estaria em curso na maior economia do mundo.

A leitura é que a economia continua forte e que o mercado de trabalho, apesar de apresentar sinais leves de resfriamento, está mais resiliência do que o especulado no começo do mês.

Na análise de Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações, o resultado sugere que a política monetária implementada pela autarquia tem sido eficaz no controle inflacionário sem comprometer o crescimento econômico de forma significativa. Com isso, o corte de menor magnitude se torna o mais provável.

“Para o Brasil e outros mercados emergentes, isso pode implicar em um fluxo de capital internacional mais moderado do que se houvesse cortes mais agressivos nos juros americanos.”

O dólar se fortalecia também ante uma série de moedas pares, acompanhando a alta nos rendimentos dos Treasuries, os títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

O rendimento do Treasury de dois anos —que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo— tinha alta de 0,02 ponto percentual, a 3,908%, precificando um afrouxamento mais gradual pelo Fed.

Já o índice do dólar, que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas, subia 0,11%, a 101,470.

Internamente, o real ainda era pressionado pela taxa de desemprego divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta manhã.

Em mais um sinal de aquecimento do mercado de trabalho, a taxa de desocupação recuou a 6,8% no trimestre encerrado em julho, o menor patamar para esse período na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012. Até então, a mínima para o trimestre até julho havia sido registrada em 2014 (7%).

“Os números indicam sobreaquecimento do mercado de trabalho doméstico e alimentam ainda mais os temores de que essa força adicional do emprego possa trazer novas perturbações inflacionárias”, diz André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais.

Além disso, o BC também informou que o resultado fiscal do setor público surpreendeu negativamente em julho, com a dívida pública bruta como proporção do PIB subindo a 78,5%, de 77,8% no mês anterior. No mês, o déficit primário foi de R$ 21,348 bilhões, muito maior que a expectativa de R$ 5 bilhões negativos de economistas consultados pela Reuters.

Investidores também esperam o envio do Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2025 pelo governo ao Congresso Nacional nesta sessão, com a equipe da XP citando que a expectativa é de manutenção de meta para o resultado primário zerada, aumento do salário-mínimo e pente-fino em despesas do INSS.

“Ainda que o mercado de trabalho e o resultado fiscal do governo consolidado ‘exijam’, na visão do mercado, novos aumentos de juros, os dados de agosto têm se mostrado relativamente benignos e podem levar o Copom a adotar uma postura mais parcimoniosa e manter a taxa Selic inalterada na próxima reunião, em setembro”, diz Galhardo.

Os dados de inflação do IPCA-15 mostraram desaceleração em agosto para 0,19%, em linha com o esperado por economistas. Em 12 meses, a inflação ficou em 4,35%, um pouco abaixo do teto da meta do BC de 4,5%.

Já a “inflação do aluguel”, medida pelo IGP-M, desacelerou mais do que o esperado por analistas em agosto, em alta de 0,29%, depois de ter avançado 0,61% no mês anterior, informou a FGV (Fundação Getulio Vargas). A expectativa era de avanço de 0,46%. O índice agora acumula ganhos de 4,26% em 12 meses.

Quanto mais o Fed cortar a taxa americana e mais o BC subir a Selic por aqui, melhor para o real, que fica mais atraente a investimentos por causa do diferencial de juros.

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