Eleitores dos EUA são bombardeados com anúncios políticos a uma semana da eleição

Uma image de notas de 20 reais

PITTSBURGH, EUA (FOLHAPRESS) – A uma semana da eleição presidencial americana, a estudante Camila Smith, 19, diz não aguentar mais o bombardeio de propaganda política. Todo dia, ela recebe no mínimo quatro mensagens de texto de propaganda eleitoral, vários telefonemas, e toda vez que entra no YouTube ou no TikTok há anúncios da campanha da democrata Kamala Harris ou do republicano Donald Trump.

“Milhares de pessoas do estado da Geórgia lotaram o comício de Kamala Harris, onde ela compartilhou suas propostas: ‘vamos construir o que eu chamo de economia de oportunidades'”, dizia um SMS recebido por Smith no domingo (27). “Trump vai cortar seus impostos. Harris vai aumentar seus impostos. A escolha é simples -vote de acordo”, dizia outro.

Smith cursa nutrição da Universidade Penn State, na Pensilvânia. O estado é o mais cobiçado pelos dois candidatos, porque representa 19 votos do Colégio Eleitoral, o maior número entre os chamados estados-pêndulo.

Para completar, a família de Smith (e ela, antes de ir para a faculdade) mora na Geórgia, outro estado-pêndulo. A caixa do correio de sua casa no estado natal está lotando com folhetos de propaganda eleitoral, a maioria contra a candidata democrata.

“As políticas radicais de imigração de Kamala Harris colocam em perigo as famílias da Geórgia”, “Para fazer a América grandiosa de novo, Trump precisa vencer na Geórgia”, “Camarada Kamala está vindo para pegar sua carteira – não deixe ela tirar seu dinheiro suado”, “Kamala Harris é mole no combate ao crime” e “Kamala Harris vai te taxar até a morte” são algumas das correspondências que chegaram.

Tudo isso sem contar os outdoors e placas pró Kamala ou pró Trump –na Pensilvânia, estão em todos os cantos. Na TV, os anúncios políticos não param. “Eu parei de ligar a TV, não vou mais assistir até o final da eleição. Não dá, é só anúncio”, diz Jonathan Stark, empresário que tem uma loja de armas no distrito de West Mifflin.

As campanhas estão concentrando a grande maioria dos gastos em propaganda eleitoral nos estados-pêndulo e, como resultado, os moradores estão sobrecarregados. “Eu vou ficando irritada porque chega tanta coisa que não consigo nem saber o que é importante”, diz a estudante Camila, que planeja votar pelo correio nesta semana.

Segundo monitoramento da Ad Impact, a campanha de Kamala gastou US$ 631,5 milhões em propaganda política, e os Super PACs (comitês de apoio aos candidatos), US$ 572,6 milhões, totalizando US$ 1,2 bilhão. Já Trump gastou US$ 291,9 milhões na campanha e US$ 361,4 milhões nos comitês, em um total de US$ 653,3 milhões.

O monitoramento inclui anúncios em rádio, TV e digitais, mas não cobre mala direta pelo correio e outdoors.

O gasto se concentra nos sete estados-pêndulo –Pensilvânia, Wisconsin e Michigan (a chamada muralha azul), Arizona, Nevada, Geórgia e Carolina do Norte (o cinturão do sol). O resto dos Estados Unidos é praticamente ignorado pelos candidatos.

Os estados-pêndulo receberam 70% dos gastos de propaganda da campanha democrata, e os anúncios nacionais consumiram 25% –os outros estados ficaram com apenas 5%. No caso de Trump, o grupo de sete estados recebeu 88% do total, e anúncios nacionais consumiram 10%, sobrando 2% para os estados restantes.

Jason Togyer, diretor do site The Tube City Almanac que vive em Homestead, na Pensilvânia, diz que não consegue mais assistir aos tutoriais de conserto de carro no YouTube, seus favoritos. Toda vez que clica em um vídeo, vem o anúncio de que “Kamala Harris defende cirurgia de transição de gênero para prisioneiros trans”.

Há pouca transparência nos gastos com anúncios online, porque as regras eleitorais determinam que apenas as despesas de propaganda política em TV e rádio sejam declaradas. Portanto, as informações disponíveis são apenas aquelas divulgadas pelas plataformas como Google e Meta em suas bibliotecas de anúncios –que têm critérios diferentes para determinar se um anúncio é político.

Segundo levantamento do Brennan Center for Justice, só no Google e Meta foram gastos US$ 619 milhões em anúncios políticos desde o início do ciclo eleitoral (incluindo as primárias, de dezembro de 2023 a agosto deste ano). Desses, US$ 248 milhões eram anúncios na disputa pela Presidência.

Além de estressar eleitores, o gasto concentrado mostra que a eleição presidencial americana, na realidade, resume-se a sete estados.

“Eu quero meu estado de volta!”, diz a estudante Shayla Fulton, de Scottsdale, na Pensilvânia. “Durante quatro anos não se lembram da gente, agora tem barraquinha de político até na feira de outono da cidade. Não aguento mais política.”

Shayla diz que esses anúncios não mudam seu voto nem fazem com que ela esteja mais disposta a votar –o voto nos EUA não é obrigatório, e motivar eleitores a ir às urnas é um dos grandes desafios da campanha. Na eleição de 2020, o comparecimento foi recorde e ficou em 66% dos eleitores registrados para votar.

“Quando meu episódio de Grey’s Anatomy no Hulu [plataforma de streaming] é interrompido duas vezes com propaganda política, eu só fico irritada. Eu já decidi há dois meses em quem vou votar, e não vou mudar”, diz Shayla.

As últimas pesquisas refletem essa imobilidade na opinião pública –os números estão estacionados há semanas, a não ser pelo ganho marginal de um ou dois pontos de Trump no levantamento do voto nacional.

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