[AGÊNCIA DC NEWS]. O Brasil fechará 2024 muito distante do superávit recorde que teve na balança comercial de 2023. No ano passado, o saldo positivo foi de US$ 98,8 bilhões. Este ano, ficará 25% menor e não deve passar de US$ 75,0 bilhões. Entre janeiro e novembro houve retração significativa nas exportações para China (-6,1%), principal parceiro global, e Argentina (-21,4%), principal parceiro regional. Contra economias robustas e consolidadas, nossas compras só sobem: Estados Unidos (+9,3%) e União Europeia (+6,5%). No ano (até a terceira semana de dezembro), as exportações totalizam US$ 329,3 bilhões e as importações, US$ 258,1 bilhões, com saldo positivo de US$ 71,2 bilhões e corrente de comércio de US$ 587,4 bilhões. Apesar do resultado ainda positivo, as médias semanais (consolidadas até a terceira semana de dezembro) mostram o apetite importador do Brasil. Nas vendas, a média é de US$ 1,1 bilhão – 21,3% abaixo do mesmo período de 2023. Nas compras, a curva é oposta e o volume chega a US$ 1,0 bilhão – crescimento de 7,6% sobre o ano passado.
Apesar da trajetória de importar porcentualmente mais do que exporta no comparativo anual, o país ainda mantém superávit com Argentina, China e UE e déficit com os EUA. E mesmo com a diminuição de 22%, o saldo da balança comercial de janeiro a novembro (US$ 69,9 bilhões) é o segundo maior da série histórica da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC – veja ao final do texto). So perde para o de 2023.
A agropecuária cai 10,2%, considerados os dados consolidados de janeiro a novembro com US$ 68,5 bilhões em exportações. A indústria extrativa cresce 6,5% (US$ 75,9 bilhões) e a de transformação, 3% (US$ 166,2 bilhões). De acordo com o Indicador de Comércio Exterior (Icomex), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), as vendas de commodities crescem 6,4% no ano (com 5,5% de queda de preços), enquanto a de não commodities caem -0,7% (com aumento de 1% nos preços). Entre os setores, a indústria extrativa cresce 10,5% em volume (-3,5% em preços) e a de transformação sobe 3,8% em volume (e varia +0,4% nos preços).
CARÍSSIMA – Para Maurício Godoi, professor da Saint Paul Escola de Negócios, um dos fatores determinantes para o menor resultado das exportações está no preço das commodities, particularmente da soja. “Nos últimos anos, a soja estava caríssima. Agora, há uma retração, o que é natural na formação de preço de uma commodity”, afirmou. Segundo o MDIC, até novembro as vendas de soja ao exterior caíram 17,9% e as de milho, 40,5%. Além disso, o ano teve o que Godoi chama de “trading internacional menor”, sob influência das permanentes turbulências na Ucrânia e desaceleração econômica da China, que é o principal parceiro comercial do Brasil. A balança comercial entre os dois países ainda tem superávit de US$ 31,5 bilhões, mas segundo o Icomex a participação chinesa nas exportações brasileiras caiu de 30,7% (2023) para 28,6% (2024), enquanto as importações sobem de 21,9% (2023) para 24,1% (2024). Lia Valls, coordenadora do Icomex, diz que a “nossa agropecuária vai muito para a China, o que reflete a menor atividade deles”.
No plano regional, a balança comercial com a Argentina em 2024 é ligeiramente positiva: saldo de US$ 148,6 milhões. Foram US$ 12,5 bilhões em vendas (-21,4% de janeiro a novembro-24 versus o ano passado) e US$ 12,3 bilhões em compras (+11%). Em torno de 40% dessa alta se concentra em veículos de passageiros e de transporte de mercadorias. No ano passado, o Brasil exportou US$ 16,7 bilhões em mercadorias e importou US$ 12 bilhões. O superávit de US$ 4,7 bilhões foi 31 vezes maior do que o atual. O professor Godoi, da Saint Paul, observa que o vizinho passa por transição de governo e econômica, com maior austeridade fiscal, o que levou o país a “tirar o pé da produção”.
MERCOSUL E TRUMP – Godoi não vê tanta relevância em eventuais divergências políticas, creditando os resultados comerciais a uma transição econômica na Argentina. No início do mês, a secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, embaixadora Gisela Padovan, atribuiu a redução das exportações ao “ajuste geral” da economia argentina. “Existem indicadores positivos, macro, mas existe um aumento da pobreza, do desemprego, e existe a queda no rendimento das pessoas —dos trabalhadores, dos aposentados. Acho que isso necessariamente indica queda nas vendas”, afirmou Padovan, acrescentando que isso também traz impacto na balança do Mercosul. No ano passado, o superávit no bloco foi de US$ 6,5 bilhões – exportações de US$ 23,6 bilhões e importações de US$ 17,1 bilhões. Neste ano, ele está na casa dos US$ 700 milhões – com vendas externas de US$ 18,4 bilhões e compras de US$ 17,7 bilhões. A retração no saldo é de 89%.
A maior incerteza para o início de 2025 recai sobre possíveis medidas que serão adotadas por Donald Trump nos Estados Unidos. Para Godoi, a relação será morna sob o aspecto da aproximação dos governantes. “Ao mesmo tempo, temos a questão da parceria entre as empresas. Talvez no intercompany a gente tenha manutenção do comércio internacional”, disse Godoi. Já Lia Valls observa que o Brasil não chegou a sofrer retaliações no primeiro governo Trump. Haveria risco maior, segundo ela, se uma política mais dura do novo governo desencadeasse um aumento da onda protecionista mundial, levando a uma estagnação do comércio. Para o Brasil, especificamente, as principais preocupações neste momento se concentram na volatilidade cambial e no efeito, para a economia, da retomada da política de altas dos juros.
EXPORTAÇÕES-IMPORTAÇÕES / 2024X2023
(janeiro a novembro)
Fonte: MDIC
EXPORTAÇÕES:
Argentina: US$ 12,5 bilhões (-21,4%)
China: US$ 90,9 bilhões (-6,1%)
Estados Unidos: US$ 36,6 bi (+9,3%)
União Europeia: US$ 45,05 bi (+6,5%)
Total: US$ 312,13 bilhões (+0,4%)
IMPORTAÇÕES:
Argentina: US$ 12,3 bilhões (+11,0%)
China: US$ 59,4 bilhões (+20,6%)
Estados Unidos: US$ 37,4 bi (+6,9%)
União Europeia: US$ 43,5 bi (+3,8%)
Total: US$ 242,2 bilhões (+9,5%)
Saldo: Superávit de US$ 69,9 bilhões (-22%)
MAIORES SALDOS DE JANEIRO A NOVEMBRO
Fonte: MDIC
1) US$ 89,6 bilhões (2023)
2) US$ 69,9 bilhões (2024)
3) US$ 57,4 bilhões (2021)
4) US$ 57 bilhões (2022)
5) US$ 51,9 bilhões (2017)
6) US$ 47,7 bilhões (2020)
7) US$ 40,9 bilhões (2018)
8) US$ 40,1 bilhões (2006)
9) US$ 39,7 bilhões (2005)
10) US$ 36,1 bilhões (2016)