Há pouco mais de 50 anos, em 16 de setembro de 1974, os primeiros paulistanos faziam suas viagens inaugurais no metrô. Havia apenas uma linha (a atual 1-Azul) e sete estações (da Vila Mariana até o Jabaquara). De lá para cá, se aproxima da primeira centena de estações (em operação são 91) e bateu 104 km de extensão. Para marcar este meio século do sistema – decisivo não apenas para a mobilidade da metrópole, mas igualmente em sua transformação econômica –, a agência DC NEWS iniciou a série Metrô-SP 50 Anos, com reportagens para narrar suas melhores histórias e seus maiores desafios. Nesta, contaremos a história de um passageiro que estava na primeira viagem do sistema.
Morador de Perdizes, na Zona Oeste de São Paulo, Clenio Caldas, 78 anos, mora a 500 metros da futura estação Sesc-Pompeia do Metrô, da Linha 6-Laranja, prevista para entrar em funcionamento no segundo semestre de 2026. Ele aguarda. É um entusiasta assumido do sistema metroviário. E se orgulha por ter sido um dos passeiros da primeira viagem sob a terra paulistana, há 50 anos, em setembro de 1974. Mais do que isso: em 14 de dezembro de 1968, foi até a avenida Jabaquara, na Zona Sul da capital, apenas para ver a placa que marcava o início das obras da Linha Norte-Sul (atual 1-Azul) da Companhia do Metropolitano.
Clenio tinha 22 anos em 1968 e cursava Engenharia na FEI, faculdade em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista (não chegou a completar o curso). Naquele 14 de dezembro, um sábado, saiu da aula de inglês técnico só para ver a placa. Criado pela Lei municipal 6.988, de 1966, o Metrô foi fundado apenas em 24 de abril de 1968. E iniciou as obras em dezembro, na região onde fica a estação Jabaquara, ponta sul da Linha 1-Azul.
Foi também no pátio do Jabaquara a primeira “viagem” da unidade-protótipo, em 6 de setembro de 1972, testemunhada por Clenio. E foi ainda nessa linha, parcial, que ocorreu a primeira viagem, em setembro de 1974, também num sábado. Eram apenas sete estações (Jabaquara, Conceição, São Judas, Saúde, Praça da Árvore, Santa Cruz e Vila Mariana), das 23 atuais. A pioneira estação, por sinal, acaba de ganhar “sobrenome”: decreto do governador Tarcísio de Freitas, publicado na edição de 19 de setembro do Diário Oficial do Estado, alterou o nome para Jabaquara-Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), homenagem a atletas e dirigentes. O CPB fica nas proximidades da estação.
Em setembro de 1974, Clenio morava na região da Vila Mariana, na Zona Sul, justamente onde circularam os primeiros trens da Companhia do Metropolitano. Recorda-se de detalhes, como a demolição de um casarão na área da estação Santa Cruz. “Onde morava minha professora de Latim, Dulce de Faria Paiva”, afirmou. Ele diz conhecer todas as estações das atuais linhas, excluído o Monotrilho. “Acompanhei pari passu a Linha Azul”, disse Clenio, também presente às inaugurações das linhas Verde (1991) e Amarela (2010). Mas da primeira viagem, ele não esquece.
BILHETE – “Entrei na estação Vila Mariana, peguei o bilhete, que foi picotado pelo fiscal. Quem quis entrar, entrou.” Ele conta que as autoridades andaram no primeiro vagão, inacessível à população. Lembra de ter embarcado por volta de 10h e feito a viagem da Vila Mariana até Jabaquara. “Ocupei o vagão com muitos curiosos.” O bilhete picotado, com a data, virou recordação.
“Hoje, entro no Metrô com orgulho. Ando com emoção”, afirmou Clenio, para quem não há nenhuma dúvida das melhorias que vieram com a implementação do sistema. “A intervenção no trânsito foi tremenda. Foram modificadas vias de intensidade alta de trânsito. Tiveram de alterar drasticamente o itinerário dos ônibus. São Paulo sem Metrô, hoje, seria impossível de andar.”
Ele elogia a conservação e a limpeza, em relação a diversos locais que conheceu – como Nova York, Santiago, Toronto e Washington –, mas lamenta a demora nas obras. “Essa Linha Laranja está anos atrasada.” Segundo o Governo Estadual, a Linha 6 terá conexões com a Linha 1-Azul (na estação São Joaquim, com a 4-Amarela (Higienópolis-Mackenzie) e 7-Rubi (Água Branca), em um total de 15 estações. Mas por pouco nada disso teria sido testemunhado pelo hoje aposentado administrador de empresas.
De agosto de 1973 a fevereiro de 1974 – ou seja, sete meses antes da inauguração da primeira linha –, Clenio Caldas trabalhava no ramo imobiliário no edifício Joelma, na praça da Bandeira, região central de São Paulo. Transferido da Universidade Candido Mendes, no Rio de Janeiro, onde nasceu, para a FMU, ele tinha prova para fazer no dia 1º de fevereiro. Exatamente naquele dia, um incêndio devastou o edifício Joelma, causando a morte de 187 pessoas. Não fosse a prova que precisou fazer naquela data, Clenio poderia ter sido uma das vítimas da tragédia. “Naquela sexta-feira, eu estava completando 40 dias de casado. Perdi mais de 20 colegas no incêndio”, disse Caldas. Ele ainda teria muitas viagens a fazer e histórias para contar.
Todas as reportagens do Especial Metrô-SP 50 Anos.
1. Os vários nascimentos do metrô de São Paulo
2. Implosões abrem caminho para o Centro
5. Extensão do sistema deveria quase triplicar