Sé, Catedral, Praça e Marco é o nome da exposição que vai até 19 de novembro (das 10h às 17h) na própria Catedral, na região central de São Paulo. São 115 fotografias, a mais antiga de 1862, feita por Militão Augusto de Azevedo, um dos pioneiros da imagem. Quem passar pelo local – a mostra, gratuita, está logo à direita de quem entra – saberá que naquele ano São Paulo tinha 25 mil habitantes e 50 ruas. Ali estão também imagens de operários durante a construção da atual igreja, que está completando 70 anos, protestos (da Revolução de 1932 a ato contra a inflação, no final dos anos 1970) e manifestações como o comício das Diretas, em 1984. Dos garotos andando pelos arredores à mulher que lê atentamente o jornal, as fotos contam um pouco da própria história da cidade e suas mutações.
Fazer esse recorte histórico foi o maior desafio, conta o curador da mostra, Camilo Cassoli. “Uma ideia foi mostrar essa evolução do Largo do Sé, um lugar pequeno, para a praça atual e a catedral, onde cabem 800 pessoas sentadas”, afirmou. Assim como falar também da explosão da cidade. “Que vai de uma pequena capital de província, menor do que Cuiabá, para uma das principais metrópoles do mundo.” A imagem que mostra o Largo da Sé, que ficava perto de onde hoje está a sede da Caixa Cultural, é justamente a do precursor Militão. Outros mestres da imagem documental estão presentes, como German Lorca e Marc Ferrez.
Para a seleção de imagens, foram percorridos mais de 20 acervos, públicos e privados, como os do Instituto Moreira Salles (IMS), do Arquivo Público do Estado e do Museu Paulista (Ipiranga), além do próprio arquivo da Cúria Metropolitana. Os organizadores encontraram centenas de imagens. “Escolhemos tanto pela qualidade como pelo sentido da imagem. De alguma forma, a cidade cresce paralelamente ao desenvolvimento da fotografia”, disse o curador.
CONSTRUÇÃO – Além disso, até por ser um projeto relativamente recente, toda a construção da Catedral da Sé foi documentada. Levou mais de 40 anos. Começou em 1913, com projeto do alemão Maximilian Emil Hehl, professor de Arquitetura da Escola Politécnica da USP. A inauguração, ainda sem as torres principais (que só surgiriam em 1969), foi em 25 de janeiro de 1954, durante as comemorações do quarto centenário de São Paulo, com as presenças do presidente Getúlio Vargas, do governador Lucas Nogueira Garcez e do prefeito Jânio Quadros. Em período mais recente, de 1999 a 2002, a Catedral passou por restauração.
Além das imagens expostas pela igreja, o visitante poderá ver detalhes do prédio por meio de aparelhos ópticos, instalados na parte final da mostra. “Temos muitas coisas posicionadas a dezenas de metros de altura, e as pessoas não têm ideia da dimensão”, afirmou Cassoli. Ele diz que os monóculos ajudam a guiar o olhar do visitante. Assim, será possível visualizar esculturas e vitrais instalados 30 metros acima.
A exposição traz imagem clássica de Nair Benedicto mostrando protesto diante da Catedral, em 1978, contra a carestia (termo comum para designar a alta de preços), e uma fotografia de Milton Nascimento ao violão, na missa de um ano da morte de Elis Regina, em 1983. Mais chaveiros, almanaques, livretos, cartões-postais e pedras usadas nas obras. Da imagem autoral, de 1862, a mostra termina com clique de um drone a 140 metros do solo, já em 2024 – uma cidade que, 162 anos depois, com população 460 vezes maior, às vezes consegue restaurar sua própria memória.