Para 42% dos consumidores, o aumento generalizado de preços de produtos e serviços em consequência do aumento da inflação impactou negativamente suas finanças nos últimos 12 meses. É o que diz o estudo Consumidor do Amanhã 2024, realizado pela Mosaiclab, empresa de inteligência de mercado do Gouvêa Ecosystem, apresentado nesta terça-feira (17) durante o primeiro dia do Latam Retail Show, em São Paulo. Segundo Karen Cavalcanti, sócia-fundadora da Mosaiclab, as empresas devem observar esses novos padrões de comportamento para que possam se tornar mais atraentes aos consumidores.
NÃO ESSENCIAIS – De acordo com o estudo, 63% dos entrevistados relataram que os gastos com alimentação são os que mais pesam no orçamento doméstico, seguidos por energia elétrica (50%), água (34%) e impostos (34%). Nas classes mais altas, as despesas com saúde também são expressivas, impactando 44% dos entrevistados da classe A e 35% da classe B, em comparação com 33% da média geral (que incluem classes C e D).
Além disso, 21% dos brasileiros disseram enfrentar dificuldades com contas que se tornaram impagáveis, como cartões de crédito e financiamentos, em função dos juros elevados. Esse cenário tem reduzido a capacidade de consumo de um modo geral e em alguns segmentos de forma mais acentuada: apenas 21% dos gastos são direcionados para atividades como passeios, viagens e cinema, por exemplo. “O que vemos é uma busca por sobrevivência financeira, em que o consumo de produtos e serviços não essenciais fica em segundo plano”, disse Karen Cavalcanti.
HÁBITOS – O estudo mostra também que marketplaces e aplicativos de entrega estão se consolidando como os canais de compra preferidos pelos brasileiros. No universo de compras online, as farmácias lideram, com 62% dos consumidores utilizando esse canal, seguidas por supermercados (60%). Aplicativos como iFood e Rappi são utilizados por 43% dos consumidores, o que segundo o levantamento reflete a crescente demanda por conveniência e agilidade. Além disso, 38% dos entrevistados acreditam que esses apps continuarão a ser parte essencial das compras nos próximos cinco anos.
As plataformas de marcas orientais, como Alibaba, Shein, Shopee e Temu também se destacaram, com 42% dos consumidores relatando uso frequente e 39% prevendo a continuidade dessa tendência. Segundo Cavalcanti, esse crescimento é impulsionado por preços competitivos, ampla variedade de produtos e uma experiência de compra aprimorada, com prazos de entrega mais rápidos.
Outra constatação está no atacarejo, setor que está se firmando como uma opção de compra cada vez mais popular entre os brasileiros – 51% dos consumidores utilizam o canal atualmente e 40% acreditam que ele se tornará ainda mais relevante nos próximos cinco anos. Esse crescimento está diretamente ligado ao perfil do chamado smart consumer, que prioriza maximizar o valor das compras sem comprometer toda a carteira, conforme apontado no estudo.
PAGAMENTOS – No quesito meio de pagamento, com respostas cumulativas, 55% dos consumidores disseram preferir o Pix, seguido por 45% que utilizam cartão de crédito e 42% que optam pelo cartão de débito. Segundo o estudo, o uso de créditos, como cashback, pontos e milhas, também se destaca, atraindo um número crescente de consumidores que estão aprendendo a utilizá-los de forma mais eficiente. No entanto, a pesquisa aponta duas vertentes para esse tipo de pagamento: embora ofereça conveniência e ajude na fidelização do cliente, por outro lado ele não circula diretamente para a compra de outros produtos ou serviços.
LARES – O estudo identificou algumas mudanças no comportamento do consumidor que estão impactando a forma de compra, além das questões econômicas do país. Entre elas está o aumento do número de idosos e o crescimento dos lares unipessoais ou compostos apenas por adultos e impulsionam a demanda por produtos e serviços específicos, como cuidados de especializados de saúde e habitações adaptadas. Segundo o Censo de 2022, a média de moradores por domicílio caiu de 3,31 (Censo 2010) para 2,79 pessoas. Entre 2021 e 2024, o número de pessoas morando sozinhas subiu de 8% para 10%. Já os lares compostos por um a dois adultos, sem crianças, cresceram de 29% para 33%. Em contraste, a proporção de lares com crianças diminuiu de 48% para 45%.