Marçal ignora regra de debate e dispensa embates com Tabata e Marina Helena

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Crédito: Divulgação ACSP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um debate esvaziado, sem a presença de três dos principais candidatos, Pablo Marçal (PRTB) subverteu as regras, recusando-se a fazer perguntas às adversárias e a respondê-las no evento organizado por Veja e ESPM nesta segunda-feira (19).

O debate teve a presença ainda de Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo), já que Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) e José Luiz Datena (PSDB) decidiram se ausentar, o que foi criticado pelos demais adversários.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, a decisão de não comparecer das três campanhas se deve à avaliação de que Marçal não tem cumprido as regras dos debates, além de ser agressivo e espalhar fake news.

“Colocaram na minha conta, de ser descontrolado, mas pelo menos sou homem para assumir o compromisso até o final”, disse Marçal em sua primeira aparição no debate. Em sua chegada ao evento, foi recebido com festa por estudantes de comunicação da ESPM.

No mesmo horário do debate, Nunes esteve em um evento promovido pela Jovem Pan sobre segurança alimentar. Já Boulos fez gravações para o horário eleitoral. E Datena visitou comércios na zona leste.

Ao chegarem para o programa, Marçal, Marina e Tabata chamaram de “covardia” a decisão dos demais de não participar.

Marcela Rahal, mediadora do debate, afirmou que os espaços vazios no estúdio marcavam “a falta daqueles que, em desrespeito aos eleitores de São Paulo, não apareceram hoje para democraticamente debater com os adversários e apresentar suas propostas”.

No debate desta segunda, Marçal seguiu a mesma toada dos anteriores, ao ignorar perguntas e respostas das adversárias e usar seu tempo para falar de outros assuntos e promover suas redes sociais.

Ao ser questionado por Tabata sobre insegurança alimentar, por exemplo, afirmou que a resposta apareceria em seu Instagram logo após o debate. Quando foi sua vez de perguntar, Marçal pediu que Marina Helena falasse sobre o que quisesse.

Mesmo quando a pergunta foi feita por jornalistas, Marçal se recusou a responder sobre o tema proposto.

O candidato do PRTB, inclusive, admitiu a estratégia ao final do programa. Ao ser questionado por jornalistas sobre fugir das perguntas, Marçal respondeu que o objetivo era fazer com que as pessoas visitassem suas redes sociais.

“A eleição mudou, antigamente quem não tinha horário de televisão perdia a eleição. Agora o debate é diferente”, disse.

Tabata, que disse ser uma covardia a ausência de Nunes, Boulos e Datena, afirmou no debate que Marçal também agia com covardia ao não responder as perguntas.

“A mesma covardia você vê com Marçal, quando ele se recusa a responder. Porque deve ter alguém lá pesquisando e formulando a pergunta para ele”, disse a candidata do PSB. “Não adianta vir ao debate se não vai participar.”

Em outro momento, disse que Marçal “é tipo aquele aluno só topa fazer prova com consulta”. “Não sei se vocês repararam, ele só responde depois que o assessor vem falar no ouvido dele ou só topa responder na rede social porque com certeza tem uma equipe dando um Google.”

No início do debate, Marçal afirmou “tirar o chapéu para as mulheres” que foram ao programa e, a respeito dos ausentes, disse haver um problema de “masculinidade e virilidade”. Ele aproveitou o evento para repetir em diversas ocasiões o número de urna de seu partido.

Marina Helena, que chegou ao debate com um cartaz de “fujões”, questionou como “alguém que tem medo do confronto de ideias” iria combater o PCC e a corrupção. “Quem tem medo de crítica não deve ir para a política”, emendou.

Ela aproveitou sua participação para afirmar que existe uma “ditadura do Judiciário” no país e pedir o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). A Folha de S.Paulo revelou que Moraes ordenou por mensagens e de forma não oficial a produção de relatórios pela Justiça Eleitoral para embasar decisões do próprio ministro contra bolsonaristas.

Em um segundo confronto com Marçal, Tabata mencionou as propostas do candidato —que ela chamou de descoladas da realidade e de “caos na terra”—, como a construção de um teleférico e de um arranha-céu.

Também trouxe ações dele que chamou de irresponsáveis, como a expedição que ele liderou no pico dos Marins e que terminou com um resgate dos bombeiros. O candidato respondeu que ela falava de “fábulas”.

Tabata também buscou associar Marçal ao ex-prefeito e ex-governador João Doria (ex-PSDB), mencionando nomes da equipe do candidato do PRTB, como Filipe Sabará e Wilson Pedroso, que foram secretários do ex-tucano.

“Até a calça dele [Marçal] já está mais apertadinha”, disse ela, referindo-se ao apelido “calça apertada” que Doria ganhou de seus detratores.

A candidata do PSB também fustigou Marçal com as falas de Bolsonaro sobre ele —depois de elogiar o influenciador e causar uma crise na campanha de Nunes, o ex-presidente se recompôs com o prefeito e passou a criticar o candidato do PRTB.

“A verdade é que nem o Bolsonaro confia em você, ele falou nessa semana que você é um produto estragado”, disse Tabata a Marçal.

O influenciador, por sua vez, respondeu que vai acabar com o governo Doria “que já dura 10 anos”, em referência à continuidade entre Doria-Bruno Covas-Nunes.

Marçal também voltou a insinuar, sem apresentar provas, que Boulos consome cocaína, ignorando decisões judiciais favoráveis ao deputado do PSOL, que obteve direito de resposta nas redes do influenciador.

“Boulos não veio hoje porque é segunda, deve ter emendado desde quinta. […] Deve estar em alguma clínica se recuperando”, disse o candidato do PRTB.

Nos blocos dedicados a responder perguntas de jornalistas e professores, os candidatos tentaram demonstrar interesse na discussão de propostas, falando de assuntos como meio ambiente e saúde.

Marina Helena, por exemplo, reciclou proposta de Doria, o Corujão da Saúde, que reduziu filas em exames. Tabata citou que fará valer uma lei que aprovou na Câmara dos Deputados para envio de recursos para combate a eventos climáticos extremos.

O discurso entre as duas chegou a se afinar quando o assunto foi o destino do elevado João Goulart, o Minhocão. Tabata defendeu a realização de um plebiscito sobre desativação ou transformação do elevado, com o que Marina concordou.

Em entrevista a jornalistas ao final do debate, Marçal chamou Tabata de brilhante e disse que a deputada federal é a mais estudiosa em comparação com o restante dos candidatos. Segundo ele, isso só é possível uma vez que ela não é casada nem tem filhos.

Em resposta, ela disse que o candidato do PRTB não tem o que falar dela, uma vez que ele tem inúmeros “BOs e esqueletos no armário”. “Até da morte do meu pai ele falou, eu não cheguei até aqui baixando cabeça para moleque e não vou baixar a cabeça para ele.”

“Nem no meu olho ele me olha. Ele tem medo de mim. É engraçado que o machão tem medo da mulher. O palhaço tem medo de quem se prepara”, acrescentou.

Logo após o último debate, há uma semana, as equipes de Nunes, Boulos, Tabata e Datena conversaram sobre estratégias para enquadrar Marçal e cogitaram se ausentar em alguns debates —a avaliação comum era a de que ele não estava seguindo as regras impostas pelos organizadores.

As equipes se insurgiram contra o que consideram desrespeito aos acordos pré-debate, como o veto à exibição de objetos e a gravações privadas por assessores durante o programa.

Naquele debate, por exemplo, Marçal levou ao palco uma carteira de trabalho para exibi-la ao deputado do PSOL, que saiu com a imagem arranhada após tentar pegar o objeto das mãos do influenciador.

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