Mauá tem repeteco de 2020 em eleição marcada por ataques em reduto histórico da esquerda

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na sexta-feira (20), o aposentado Ademir Castilho, 69, enfrentou a ameaça de temporal e foi ao comício promovido no Jardim Pilar, área central de Mauá (SP). Ali, estava marcado um ato que reuniu o atual prefeito e candidato à reeleição, Marcelo Oliveira (PT), e seu principal apoiador, o presidente Lula (PT).

Mauá é uma cidade com histórico político à esquerda. Depois que foi fundada, em 1954, elegeu como primeiro prefeito Ennio Brancalion, um ex-comunista que chegou a ser eleito vereador de Santo André na década de 1940, mas foi cassado antes da posse com a proibição do PCB no país.

Antes da ditadura, a cidade foi dominada pelo PTB, de Getúlio Vargas, e pelo PDC, de Franco Montoro. Após o golpe de 1964, teve dois prefeitos da Arena, partido governista, mas ainda na década de 1970 viu uma série de vitórias do MDB, de oposição.

Das últimas sete eleições municipais realizadas em Mauá, cinco foram vencidas por candidatos do PT. Hoje, a cidade é uma das únicas duas governadas por um prefeito petista na Grande São Paulo, junto com Diadema.

Ademir é petista e acompanha Lula desde que ele era líder sindical. Para ele, o maior problema enfrentado na cidade hoje é “o ódio”. “Nunca vi um negócio desse. Todo mundo está com ódio. Tem cara que vota no outro por causa de ódio. Não é nem porque ele é bom ou ruim, é ódio só. É isso que eu não consigo entender.” Para o aposentado, o problema foi agravado pelo governo de Jair Bolsonaro (PL).

Neste ano, Mauá viu uma campanha com trocas de acusações entre os dois principais candidatos, o prefeito Marcelo Oliveira e o ex-prefeito e atual deputado estadual Átila Jacomussi (União Brasil), que antecedeu Marcelo.

Em um debate realizado pelo G1 no primeiro turno, Marcelo chamou Átila de “prefeito pinóquio”, o acusando de mentiras a seu respeito, e foi chamado de “prefeito home office” pelo adversário, que o acusou de não sair do gabinete.

Os dois já se enfrentaram nas urnas uma vez em 2020, quando Átila era o prefeito da vez, mas Marcelo saiu vencedor em uma virada no segundo turno, por uma margem de menos de 3.000 votos.

Para o prefeito, a campanha deste ano tem sido mais tensa. “Está sendo diferente agora. Agora eu sou governo e ele é oposição. E o que ele faz? Ele vem aqui e fica atacando a gente, fica atacando a minha pessoa”, disse após o comício com Lula.

A reportagem tentou contato com Átila, mas ele não enviou resposta até a publicação deste texto.

No palco do evento, Lula apareceu acompanhado de outras figuras de peso, como a primeira-dama Janja, os ministros Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Luiz Marinho (Trabalho) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), todos do PT.

Ele recordou o passado do partido em Mauá, dizendo que na década de 1980 tinha que apartar brigas no diretório municipal, porque o “PT era muito encrenqueiro”.

O presidente exaltou aos eleitores vários programas de seu governo, como o Mais Médicos e o Pé-de-Meia. “Eu queria que vocês me dessem um presente, porque eu faço aniversário dia 27 de outubro: me dê um Marcelo de presente, Mauá”, brincou o petista.

No primeiro turno de 2024, o petista saiu na frente, com 45,13% dos votos, seguido de Átila, com 35,56%. Outros três candidatos também concorreram: Sargento Simões (PL), que obteve 10,2% dos votos, Zé Lourencini (PSDB), 6,78%, e Amanda Bispo (UP), 2,33%.

Se os resultados do PT nos últimos pleitos podem ser um bom indicador para Marcelo, um outro preocupa o candidato: desde que a reeleição se tornou possível, em 1997, apenas um prefeito na cidade conseguiu ser reconduzido ao cargo.

Oswaldo Dias (PT), que morreu em agosto, foi eleito em 1996 e reeleito em 2000. Ele voltaria à prefeitura ainda outra vez, em 2008, mas não buscou um quarto mandato e foi sucedido por outro petista, Donisete Braga, derrotado por Átila em 2016.

Átila, que também não conseguiu se reeleger há quatro anos, agora enfrenta problemas na Justiça Eleitoral, e sua candidatura está sub judice. Ou seja, mesmo que vença o pleito, seu registro poderia ser cassado, o que levaria a uma nova eleição.

O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo e a Câmara Municipal de Mauá rejeitaram as contas dos quatro anos de mandato do candidato do União Brasil, o que o torna inelegível segundo a Lei da Ficha Limpa. Sua candidatura foi indeferida, mas ele recorreu, o que permite que esteja na urna, e até seja eleito, antes que uma decisão final seja proferida.

Enquanto foi prefeito, Átila foi alvo das Operações Prato Feito e Trato Feito, que investigaram suspeitas de desvios na merenda escolar e o pagamento de mesada a vereadores. Ao todo, 13 prefeitos paulistas –incluindo ele– foram alvos de inquérito.

O ex-prefeito foi preso em duas ocasiões em 2018 e teve o mandato cassado pela Câmara Municipal em abril de 2019, mas voltou ao cargo em setembro após uma decisão do Tribunal de Justiça.

Em agosto, a Justiça arquivou processo de corrupção envolvendo Átila, que comemorou nas redes sociais. “Nunca houve roubo de merenda, nunca teve dinheiro na panela”, afirmou.

Em debate, se esquivou de uma fala de Marcelo que lembrou as investigações deflagradas e respondeu acusando o PT de corrupção. “Histórico [de corrupção] tem o seu partido, que teve o [José] Genoíno preso, que teve o Zé Dirceu preso, a maior bandalheira, a maior corrupção desse país foi o seu partido que cometeu. Você não tem moral para falar.”

Átila também se defende de questionamentos do adversário sobre a regularidade de sua candidatura e tem usado uma decisão do relator do processo de impugnação no TRE-SP, a favor de seu registro.

“Acho que ele [Marcelo] não tá acompanhando o voto do relator Régis Castilho, do TRE. Minha candidatura está deferida”, disse no debate de segundo turno realizado pelo G1.

O órgão eleitoral ainda não chegou a uma decisão a respeito do registro da candidatura de Átila, que só deve ter o julgamento final após o segundo turno.

Caso Marcelo seja eleito no próximo domingo, Mauá, com 418 mil habitantes, será a maior cidade controlada pelo PT em São Paulo. Candidatos petistas ainda disputam o segundo turno em Diadema e Sumaré.

O candidato do PT diz que o que o partido tem o desafio de se reconstruir na região. “Passando as eleições, a gente tem que trabalhar, fortalecer o partido no estado, a presidência, vai ter eleição do presidente estadual, presidente nacional, nova direção do partido e a gente vai começar a dialogar com a população, dialogar com os militantes para voltar a ter as bases em alguns lugares onde nós perdemos.”

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