Melissa Aronson, modelo plus size: "Os varejistas perdem bilhões de dólares por não explorar mercado plus size"

Uma image de notas de 20 reais
Melissa Aronson, mais conhecida como Emme, ex-modelo plus size dos Estados Unidos
Crédito: Bill Westmoreland/Divulgação
Por Naira Zitei

O mercado da moda plus size tem ganhado luz nos últimos anos. De acordo com o mais recente relatório da Associação Brasil Plus Size (ABPS), que considera de 2012 até 2022, houve um crescimento de 75,4% no segmento. O faturamento chegou a R$ 9,6 bilhões em 2021 e a projeção é que atinja a marca de R$ 15 bilhões nos próximos cinco anos no país. O mundo segue a mesma tendência. Segundo estimativas da ABPS, dos cerca de 8 bilhões de habitantes do planeta, um terço consome moda plus size, pouco mais de 2,6 bilhões de pessoas. O número explica a estimativa do segmento de faturar US$ 216 bilhões entre 2017 e 2025.    

Com valores tão expressivos no setor, a norte-americana Melissa Aronson, mais conhecida como Emme e considerada a primeira modelo plus size dos Estados Unidos, vê como pouco estratégico empresas que não olham para esse público. Atenta a essa deficiência do mercado, Emme, 61 anos, criou o programa Fashion Without Limits, que ensina alunos de moda da Universidade de Syracuse, em Nova Iorque, a fazer roupas que vistam corpos fora dos padrões estabelecidos pela indústria da beleza. Para a modelo, os varejistas precisam conhecer os seus clientes e entender algo que ela considera óbvio: “Isso não é só sobre compaixão. É sobre economia. Quando uma empresa oferece uma variedade de looks, mais clientes compram e o seu faturamento aumenta”. Confira a entrevista exclusiva que Emme concedeu à DC NEWS.   

DC NEWS – O termo plus size é considerado pejorativo?
Melissa Aronson/Emme – Esse termo serve para que todos da cadeia produtiva de moda saibam que o público que eles têm de atingir é muito mais amplo. Numa loja, a indicação plus size mostra para o cliente que há roupas para ele naquele lugar. Por isso, o termo ainda se faz necessário.

Escolhas do Editor

DCN – Em que momento os varejistas lembram que existe o público plus size?
Emme – Quando a economia está ruim, varejistas que nunca tinham feito roupas plus size começam a produzir, com o único objetivo de ganhar dinheiro. Entre 2007 e 2008, nós passamos por tempos terríveis nos Estados Unidos, de dificuldade econômica. Daí, marcas como Calvin Klein e Michael Kors começaram a fazer linhas de roupa com tamanhos maiores, mas ninguém falou sobre como isso os ajudou a passar por aquele momento. Eles esconderam esse fato, porque ficaram com medo de que os seus clientes, que são em sua maioria pessoas magras, ficassem chateados ao saber que pessoas maiores do que eles, fora dos padrões, estavam usando as mesmas roupas. Mas acredito que, com o passar dos anos, isso não será mais um problema. Nós, pessoas que vestimos plus size, somos milhões nos Estados Unidos e no Canadá e sabemos que o que fazemos reflete no resto do mundo. Se não atendermos a todas essas pessoas, os outros países também não irão atender. 

DCN – O que ainda precisa mudar no mercado plus size?
Emme – Quando fabricamos roupas, temos de lembrar que estamos todos conectados. Não existe apenas um tipo de corpo no mundo. Por isso, temos de nos perguntar quem é o nosso cliente e refletir quando nossas crenças atrapalham o nosso trabalho, ou seja, quando a oferta não atende à demanda. Os corpos têm diferentes formas e estilos. Todos têm de ter o direito de se vestir como quiserem. No fim, isso não é só sobre compaixão. É sobre economia. Quando uma empresa oferece uma variedade de looks, mais clientes compram e o faturamento dela aumenta.   

DCN: Podemos dizer que uma das razões do sucesso dos sites de varejo é ter roupas plus size com preços acessíveis?
Emme – Eles fizeram sua lição de casa. Sabem quem é seu cliente e não têm problema em atendê-lo. É uma moda rápida e mais acessível. Os clientes recorrem aos sites, porque pode ser o único outlet de roupas plus size em que eles conseguem comprar, dependendo da onde moram. Portanto, há algo muito positivo em ter uma loja online, mas você também pode ter taxas de devolução muito altas.

DCN – Com que propósito você pensou no projeto Fashion Without Limits?
Emme – Atuando como modelo, eu sempre senti que faltavam roupas para corpos como o meu e que esse problema poderia ser resolvido pela educação. Os alunos de moda também começaram a exigir isso, porque eles entraram nesse universo para fazer roupas que fiquem bem neles mesmos. E isso inclui corpos não magros. Com isso, dois professores da Universidade de Syracuse gostaram da ideia e colocamos o programa Fashion Without Limits em prática. Agora, já estamos no décimo ano. Acredito que essa seja a chave para o futuro de como a moda será feita. Esses alunos serão contratados como designers em lojas de departamento e farão a diferença com uma moda verdadeiramente inclusiva.

DCN – Quanto o mercado da moda perde quando ignora o público que veste plus size?
Emme – Não temos esse número exato. Mas podemos dizer que os varejistas perdem bilhões de dólares por não explorarem o mercado plus size. Se nós, seres humanos, existimos de maneira diversa, o mundo dos negócios também deve pensar dessa forma para aumentar o faturamento. Mas também é preciso ser acessível, para que chegue ao alcance de todos.

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