Mercado Livre reforça vocação como instituição financeira e valor de mercado já passa dos US$ 100 bilhões

Uma image de notas de 20 reais
Cenrtro de Distribuição (CD) em Cajamar (SP): empresa vai sair de 10 CDs para 21 até 2025
Crédito: Karime Xavier/FolhaPress
  • Companhia é a segunda empresa latino-americana mais valiosa - US$ 106,5 bilhões. Passou a Petrobrás (US$ 88 bilhões) e só está atrás da Fomento Económico Mexicano (US$ 176 bilhões)
  • No segundo trimestre deste ano, do total de receita líquida mais receita financeira (US$ 5,1 bilhões) o mercado brasileiro respondeu por 55% (US$ 2,8 bilhões).
Por Edson Rossi e Victor Marques

Existe uma maneira quase indefectível de fazer uma avaliação técnica: checar o quanto o discurso se transforma em ações. Vale para um profissional. Vale para uma empresa. Sob esse prisma, na página de abertura do site de relações com investidores do Mercado Livre a mensagem é clara. “Estamos democratizando o comércio e os serviços financeiros na América Latina”. Fato. Segue-se um complemento: “Há 25 anos criamos tecnologia para mudar milhões de vidas por meio da inovação.” Fato também. No segundo trimestre deste ano (os resultados do terceiro trimestre serão apresentados dia 6 de novembro), os compradores únicos foram 56,6 milhões (+18,3% sobre o mesmo período de 2023). No braço financeiro, os usuários ativos mensais passaram pela primeira vez a marca de 50 milhões – chegaram a 52 milhões (+37,2% na comparação anual). “Os números do Mercado Pago mostram sua posição central como um player-chave em serviços financeiros”, afirmou a empresa na carta de divulgação de resultados.

Por toda essa jornada, classificar o Mercado Livre como uma varejista é algo limitante. Além da vocação natural de e-commerce, existem pelo menos três definições igualmente verdadeiras. A principal delas é o valor de mercado que o grupo alcançou. Hoje, a companhia é a segunda empresa latino-americana mais valiosa do mundo (US$ 106,5 bilhões). Passou a Petrobrás (US$ 88,6 bilhões) e só tem à frente a Fomento Económico Mexicano (US$ 175,7 bilhões) – o colosso por trás da maior engarrafadora de Coca-Cola do planeta, da rede Oxxo e de inúmeras outras operações. Mas há uma diferença e tanto nessa história. O grupo mexicano tem 134 anos. A petroleira brasileira, 71. O Mercado Livre recém-completou 25.

Outra forma de se referir ao Mercado Livre é por seu braço logístico, a Mercado Envios. Surgido de uma dor dos usuários, que tinham na demora ou não entrega de produtos as maiores queixas, a plataforma resolveu verticalizar a operação e ao mesmo tempo oferecer o serviço a parceiros. Desde a pandemia, o delivery em prazos ultravelozes – no mesmo dia – virou obsessão dos consumidores. Para atender a esse anseio, existem duas frentes dentro da empresa. Uma é tecnológica. Há pouco mais de três meses, por exemplo, entrou em operação um sistema de robôs no Centro de Distribuição (CD) de Cajamar (SP). Conhecida como Shelves to Person [da prateleira para as pessoas], essa solução integra mais de 100 robôs móveis autônomos com capacidade de processamento de até 20 mil itens por dia. A outra frente de investimento é física. Os atuais dez Centros de Distribuição serão 21 até o fim do ano que vem. O porcentual de entregas no mesmo dia ou no dia seguinte foi de 53% no segundo trimestre 2024 e sistematicamente tem ficado acima de 50%. Não é pouco frente ao total de itens vendidos na América Latina: 421 milhões (+29,4% sobre 2023).

Mais da metade de toda essa performance acontece no Brasil, o principal mercado do grupo. No segundo trimestre deste ano, do total de receita líquida + receita financeira (US$ 5,1 bilhões) o mercado brasileiro respondeu por 55% (US$ 2,8 bilhões). O lucro líquido do grupo no período mais que dobrou, saindo de US$ 262 milhões (2tri 2023) para US$ 531 milhões (2tri 2024). Por aqui, no e-commerce a marca lidera em audiência na web com 224 milhões de visitas, contra 170 milhões da Amazon e 118 milhões da Shopee, a terceira colocada. Os dados são da SimilarWeb referentes ao mês de setembro.

FINTECH – A terceira, e talvez mais precisa forma de enxergar o Mercado Livre, é sua versão fintech. O Mercado Pago, que já atua em oito países (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru e Uruguai) – a plataforma comercial está em 18 países. No México, aliás, a fintech acaba de fazer o pedido para se tornar formalmente um banco. A empresa atua no país há dois anos como Instituição de Fundos de Pagamento Eletrônico (IFPE). Depois de quintuplicar a base de usuários, e se tornar uma das principais contas digitais dos mexicanos, iniciou no fim de setembro o processo junto à Comissão Nacional de Bancos e Valores Mobiliários (CNBV) para operar como instituição financeira. “Oferecemos serviços semelhantes aos dos bancos tradicionais de forma digital, inclusiva e eficiente”, afirmou Pedro Rivas, diretor-geral do Mercado Pago no México no anúncio oficial. “Nossos milhões de usuários nos veem como seu banco. Agora queremos formalizar isso e nos tornar o maior banco 100% digital do México.” Na média latino-americana o número de usuários ativos mensais do Mercado Pago cresceu 37% em um ano. No Brasil, a alta foi de 48%.

Por essas o Mercado Livre é bem mais que uma varejista. É, claro, uma plataforma de e-commerce. Também é uma empresa de logística. E uma fintech. Mas acima de tudo é uma eterna startup. Porque na cultura dela está deixar verdadeiramente o cliente no centro de tudo. A partir disso identificar suas dores e buscar soluções. Por essa obsessão é que a palavra ecossistema encontrou a sua mais perfeita tradução. E nessas duas décadas e meia de vida, isso não mudou para a companhia nascida no bairro Saavedra, em Buenos Aires (Argentina). Ou, como a empresa afirma a todos os seus stakeholders: “Estamos democratizando o comércio e os serviços financeiros na América Latina. Há 25 anos criamos tecnologia para mudar milhões de vidas por meio da inovação”. Fato.

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