[AGÊNCIA DC NEWS]. Na entrada, um quadro escrito à mão avisa: “Bem-vindos ao mais antigo de São Paulo!” É o restaurante Carlino, 144 anos neste 2025, e que em maio completará 20 neste que é seu terceiro endereço, em uma rua (Epitácio Pessoa) tranquila na região da praça da República, ao lado do antigo Hotel Hilton e perto do Copan. Agora estão por ali vários estabelecimentos do ramo da alimentação, mas era bem diferente quando Antonio Carlos Marino decidiu se instalar, saindo da avenida Vieira de Carvalho, entre a praça da República e o largo do Arouche, área nobre, mas em decadência. Não havia comércio. Alguns chegaram a dizer que ele estava louco de escolher aquele lugar deserto. Também foram várias as sugestões para que ele levasse o Carlino a áreas consideradas mais seguras, como os Jardins. Mesmo com todos os problemas, que levaram o Carlino a fechar durante três anos, de 2002 a 2005, Marino decidiu permanecer no Centro. Onde está desde 1881, quando abriu as portas no Largo do Paissandu, na área onde está a Galeria do Rock, o Centro de Memória do Circo e o Ponto Chic original (aberto em 1922 por um dos filhos do pioneiro do Carlino). Três endereços. Três famílias. Todas com raízes em Lucca, na Toscana, na região central da Itália. Agora, os atuais donos, filhos de Antonio Carlos Marino, sabem que têm tempo pela frente, mas já pensam no futuro. Sabem que têm história também, mas aos poucos atualizam o cardápio, que “era bem raiz”. Agora, o atendimento é apenas para o almoço (das 11h às 16h). Em tempos de boemia paulistana, o Carlino da Vieira de Carvalho funcionava até a 1h da madrugada aos sábados.
A chef Bianca, 36 anos completados em março, conta que as festinhas de aniversário da escola em feitas no próprio Carlino, ainda no endereço anterior – a família morava em frente. “A gente se sentia importante…” Vontade de comer pudim? Era só ligar para o pai que ele atravessava a rua para fazer a entrega a Bianca e Bruno, que completará 39 anos em abril (ele cuida da parte administrativa do restaurante). Seu Marino completaria 80 anos em novembro do ano passado. Morreu em janeiro de 2021, aos 76. Trabalhava desde os 9, como açougueiro, no bairro do Ipiranga, com o pai, Stanislao, migrante italiano que levou quase um mês de navio atravessando o oceano para se estabelecer aqui. Mais tarde, o jovem Marino abriu um restaurante na região central e depois uma pizzaria na rua da Consolação (não por acaso, chamada La Toscanina), até chegar ao Carlino, adquirido entre 1977 e 1978 de Marcello Gianni, outro italiano de Lucca. Era o dono desde 1949. O pioneiro, em 1881, foi Carlo Cecchini, e é dele que vem o nome do restaurante. Semanas atrás, Bianca e Bruno receberam uma visita que os emocionou: tataranetos do próprio Carlino foram almoçar ali. Levaram uma fotografia dele com filhos, andando pela rua. A foto agora está na parede à esquerda de quem entra. Outro quadro mostra cantores de ópera, que cantavam no Teatro Municipal e iam jantar no Carlino. Sobraram poucos quadros e nenhum mobiliário: o depósito na rua Apa para onde tudo foi levado em 2002, quando o estabelecimento fechou, teve um alagamento. Perda praticamente total.
Permaneceram as memórias e o jeito de atender que Marino transmitiu aos filhos. Receber os clientes, passar pelas mesas, perguntar sobre o serviço. Alguém da família está sempre lá. Normalmente, os três. Além dos filhos, dona Rosana, 72 anos, também de origem italiana (seu sobrenome é Gramigna). Bianca e Bruno fizeram faculdade de gastronomia. Foram a Lucca, conheceram a cozinha matriz. A chef lembra do Buca di Sant´Antonio, restaurante aberto quase um século antes do Carlino, em 1782. Desde que assumiram, ainda com a presença e sob supervisão do pai, eles começaram a mudar o cardápio, que, como diz Bianca, tinha muita comida de caça. Entre as novidades, o polpettone vegano. Com presença maior de clientes vegetarianos e veganos, a casa teve que se adaptar. Por exemplo, o coniglio alla luchese (coelho cozido com funghi, pomodoro e vinho tinto) ainda é um clássico, mas menos pedido. Outro prato tradicional é o papardelle al ragú di ossobuco, além de massas com frutos do mar. Além disso, o menu traz o aviso: Caso queira algum prato que não esteja no cardápio, solicitar à chef. Como nos tempos de seu Marino, que muitas vezes já sabia qual seria o pedido do cliente.

Bianca vê dois desafios: garantir que o Carlino chegue a outras gerações e fazer com que o Centro atraia cada vez mais jovens. Está dando certo, ela diz. A rua que era isolada agora tem casas sempre movimentadas, como o Hot Pork, a Sorveteria do Centro, o Merenda da Cidade (de Janaína Torres e Jefferson Rueda), o bar Cordial e a Bullguer, esta já na vizinha avenida Ipiranga. “Cada dia está vindo mais gente”, afirmou a chef, que costuma receber muitos jovens casais – o domingo ainda é “bastante família”. Quanto ao futuro, seu irmão Bruno foi pai recentemente. Tem uma filha de 1 ano. Em breve, ela estará sentindo os aromas da cozinha e, como pai e tia, fazendo do Carlino sua principal memória de infância, um Amarcord paulistano. Com essa receita de ingredientes históricos, o Carlino foi um dos dez primeiros contemplados com o prêmio Comércio Histórico – Estabelecimentos Tradicionais de São Paulo, criado pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e sua agência de notícias, a DC NEWS.
Eu continuo acreditando no potencial do Centro

Carlino
R. Epitácio Pessoa, 85
Terça a quarta-feira, das 11:00 às 15:00, na quinta-feira das 11:30 às 15:00, na sexta-feira das 11:00 às 15:00, aos sábados das 11:00 às 16:00 e aos domingos das 11:00 às 16:00
(11) 3258-5055
www.ristorantecarlino.com.br
Instaram: @carlinoristorante

Antonio, que comandou a casa, até 2021, com os filhos Bianca e Bruno: tradição

No antigo endereço da Vieira de Carvalho: fechamento em 2002, reabertura em 2005 na Epitácio Pessoa

Restaurante Carlino hoje: "Bem-vindos ao mais antigo de São Paulo"