Oscar Nunes, da loja de arte Gengibrão: “O Centro de São Paulo é muito pulsante e de iniciativas criativas”
Recorte de Matilda, print de Quérols, trabalho à venda na Gengibrão
(Reprodução)
"A ideia de criar a loja foi ter um espaço para artistas de quem gostávamos mas não víamos representados em alguns lugares que conhecíamos"
"Nenhum de nós é administrador de empresas, mas aprendemos a fazer. A loja se paga desde o primeiro mês e nunca teve perrengue"
Por Anna Scudeller
[AGÊNCIA DC NEWS]. A loja Gengibrão não passa despercebida na rua General Jardim, 287, Vila Buarque, região central de São Paulo. E tem razão de ser. Oscar Nunes, designer e criador do lugar, disse que seu estabelecimento “nunca será básico”. O motivo está alinhado ao objetivo da Gengibrão: ser sempre o mais autoral possível e dar espaço a artistas pouco conhecidos. Há criações de todo tipo, de vestuário a pôsteres até móveis e louças. Os produtos: todos de artistas que valorizam trabalhos únicos, artesanais, não produzidos para ser vendidos em larga escala, em grandes varejistas. “Queremos tornar o mundo da arte um lugar acessível”, disse Oscar Nunes, em entrevista à Agência DC NEWS.
Os preços variam bastante. De R$ 13 (um cartão de felicitações) a móveis que chegam a R$ 2 mil. A mobília é produto da criatividade de Nunes e de seu parceiro de negócios “e de vida”, Caio Casagrande. Além da loja, eles também são ativos no circuito artístico. Desde 2022, o casal realiza, duas vezes ao ano, a feira de arte Rasga & Quebra, no Vale do Anhangabaú. Agora, a expectativa é a Feira de Carnaval, que ocorrerá nos dias 15 e 16 de fevereiro. O evento é uma forma de gerar receita – a Gengibrão fatura cerca de R$ 100 mil mensalmente – e, principalmente, ajudar artistas menores a se manter. “Saem coisas muito inusitadas por ser temático de carnaval”, disse Nunes.
A última edição da Rasga & Quebra, em dezembro de 2024, teve 100 artistas, 66 a mais que na primeira edição. “Procuramos trazer artistas que não estavam sendo representados nem por outras galerias nem por lojas em São Paulo”, afirmou Nunes. Entre os planos do casal está aumentar a produção da própria marca Gengibrão e levar a Rasga & Quebra para outras cidades, assim como explorar modelos pop-up da loja. Confira a seguir a entrevista de Nunes.
AGÊNCIA DC NEWS – Por que decidiram criar a Gengibrão? Oscar Nunes – A primeira ideia foi de ter um espaço físico para comercializar o trabalho de artistas com os quais já tínhamos contato, e de quem gostávamos muito, mas não os víamos representados em alguns lugares que já conhecíamos. Além disso, sou designer e o Caio trabalha com cinema. Começamos a ver uma cena surgindo dentro da ilustração, da cerâmica aliada ao design… Acho que não tinha ainda nenhum lugar que representasse essa cena por aqui. Nenhuma iniciativa brasileira fazendo isso. Daí a Gengibrão.
AGÊNCIA DC NEWS – O nome surgiu como? Oscar Nunes – Começamos pelo logo da loja. Ele é uma coisa um pouco esquisita, parece uma flor e também um gengibre. Gostamos da ideia do gengibre porque ele cresce e tem uma aparência estranha, mas é super-saudável e marcante. Você sente a presença dele em uma bebida, por exemplo. Não passa despercebido.
AGÊNCIA DC NEWS – Por que escolheram o Centro? Oscar Nunes – Em 2025 completamos quatro anos de loja. Antes estávamos na Rua Amaral Gurgel, mas sempre no Centro. Quando completamos dois anos de loja, viemos para cá, que é um espaço maior. Nossa vontade era e é reunir o trabalho desses artistas do Brasil todo no Centro de São Paulo, que é um lugar muito pulsante e que reúne mesmo vários tipos de pessoas. E aqui tem essas iniciativas criativas. Mas fizemos de um jeito que a gente não tinha visto ainda.
AGÊNCIA DC NEWS – Qual o principal diferencial das artes da Gengibrão? Oscar Nunes – É uma arte brasileira, mas que sai de um lugar comum do tucano e da bananeira. Então, a gente foca numa arte bem autoral. Não temos nem teremos nada de básico na loja. A Gengibrão nunca será básica.
AGÊNCIA DC NEWS – Como é o contato com os artistas que expõem na Gengibrão? Oscar Nunes – Quando começamos, já tinha mapeado alguns artistas e comecei a entrar em contato com o que eu tinha. Um amigo arquiteto fez um render [exemplo gráfico digital] que dava para visualizar como seria a Gengibrão. Pedi o render não porque iríamos fazer uma grande reforma, mas porque as pessoas precisavam ver como seria.
AGÊNCIA DC NEWS – E como foi a recepção? Oscar Nunes – Muita gente topou. Era final de pandemia, o comércio estava reabrindo… ainda entramos em contato, mas hoje os artistas nos procuram.
AGÊNCIA DC NEWS – Como alguém interessado deve procurar vocês? Oscar Nunes – Temos um formulário no nosso Instagram que olhamos quinzenalmente. Respondemos todos, seja com sim ou não. Temos muito mais em mente hoje o que tem a ver com a loja.
AGÊNCIA DC NEWS – Podemos dizer que a Gengibrão é uma galeria? Oscar Nunes – Não, não usamos essa palavra.
AGÊNCIA DC NEWS – Por quê? Oscar Nunes – Porque acredito que quando pensamos em galeria, primeiro pensamos em um lugar com paredes brancas e um quadro na parede. Nossa pegada não é essa. A palavra é loja mesmo, loja de arte. Queremos tornar o mundo da arte um lugar acessível.
AGÊNCIA DC NEWS – O que torna o termo loja tão importante? Oscar Nunes – Trabalhamos com técnicas de reprodução, como serigrafia. Também temos peças únicas, mas com a pegada de loja mesmo. Nesse sentido, nossa inspiração são lojas de museu.
AGÊNCIA DC NEWS – Vocês têm um pouco de tudo entre os produtos. Oscar Nunes – Diria que temos quatro focos. Primeiro, a arte gráfica, que são os quadros, pôsteres… trabalhamos com papel, não com tela, então temos diversos métodos feitos no papel, impressos ou originais. A segunda frente é a cerâmica decorativa e utilitária, mas sempre muito ousada. Temos uma linha de moda, com roupas e acessórios. E agora estamos fazendo produtos para a casa.
AGÊNCIA DC NEWS – O que entra em “produtos para a casa”? Oscar Nunes – Estamos fazendo móveis, como cadeiras, e entram também mantas, almofadas…
AGÊNCIA DC NEWS – E por que uma linha de roupas? Oscar Nunes – Aprendemos com o tempo que as pessoas são mais suscetíveis a comprar uma roupa de R$ 500 a um quadro no mesmo valor. Sinceramente, não é nosso foco principal, mas uma das propostas para este ano é aumentar a arara de roupas. Teremos uma pequena reforma para isso. No contexto da Gengibrão, a roupa entra no lugar entre comercial e autoral. Interessa muito para gente.
AGÊNCIA DC NEWS – E a feira Rasga & Quebra surge como? Oscar Nunes – No segundo ano de loja, recebemos um convite para participar da Semana do Design. Podíamos ocupar aquele espaço como quiséssemos e optamos por fazer a feira. Ela é diferente de outras feiras, é focada em arte gráfica e cerâmica.
AGÊNCIA DC NEWS – Por que escolheram esse nome? Oscar Nunes – Porque é uma feira de impressos, que rasgam, e de cerâmicas, que quebram. Sempre tentamos ir para o lado divertido. E também é despretensioso. Quando se faz uma feira, alguns pôsteres vão rasgar, algumas cerâmicas vão quebrar. Faz parte da vida do artista assumir que isso acontece.
AGÊNCIA DC NEWS – Agora acontece no Vale do Anhangabaú, certo? Oscar Nunes – Sim, tivemos três edições na Ocupação Nove de Julho, e a última no Anhangabaú. Para nós, foi muito interessante ocupar um espaço público com uma quantidade tão grande de artistas.
AGÊNCIA DC NEWS – Quais os próximos passos da feira? Oscar Nunes – Não temos vontade de torná-la uma feira mensal, mas de ser duas vezes ao ano. E desejamos viajar com a feira, acontecendo em outras cidades.
AGÊNCIA DC NEWS – O foco no momento é a Feira de Carnaval? Oscar Nunes – Sim, é a terceira edição. Início de ano é difícil para o comércio, mas conseguimos manter nosso tíquete médio e as vendas investindo no carnaval. Os artistas produzem coisas temáticas. Saem coisas muito inusitadas, por ser temático de carnaval, e os artistas conseguem se manter fazendo isso.
AGÊNCIA DC NEWS – Financeiramente, como anda a Gengibrão? Oscar Nunes – Muito bem. Fechamos o ano positivamente, e temos uma média de faturamento de R$ 100 mil. Nenhum de nós é administrador de empresas, mas aprendemos a fazer. A loja se pagou desde o primeiro mês e nos deixa muito felizes. Construímos um modelo que nunca teve perrengue.
AGÊNCIAS DC NEWS – Há planos de expansão da loja? Oscar Nunes – Se formos fazer isso, talvez seria uma coisa menor. Já pensamos muito em modelos pop-up em outros lugares.