Shopping Iguatemi entra com ação de despejo contra Americanas. Grupo pede saída da loja na avenida Faria Lima, em SP

Uma image de notas de 20 reais
Grupo Iguatemi pede saída da loja na Avenida Faria Lima, centro financeiro de SP
Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O shopping center Iguatemi, um dos centros comerciais mais sofisticados de São Paulo, entrou na Justiça para despejar a loja Americanas do seu endereço, na avenida Brigadeiro Faria Lima, centro financeiro da capital paulista. O shopping cobra aluguéis atrasados da varejista. O valor da ação é de R$ 2,98 milhões.

A notícia foi dada pelo jornal Valor Econômico e confirmada pela reportagem. A dívida da Americanas com o shopping por aluguéis atrasados foi arrolada no processo de recuperação judicial e não soma os R$ 2,98 milhões do valor da ação, mas sim R$ 662,2 mil, conforme a lista de credores da varejista.

A assembleia-geral de credores (AGC) da Americanas aprovou em dezembro o plano de recuperação judicial da rede, com a proposta de deságios aos fornecedores que vão de 50% a 80% da dívida, para pagamento entre 4 e 20 anos.

A ação de despejo, protocolada na 33ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, é movida pelo escritório Lobo&Lira Advogados, que atende o Iguatemi S.A, do grupo Jereissati, administrador do centro comercial. Já a defesa da Americanas compete à Basilio Advogados.

Procurada pela reportagem, a Americanas afirmou, em nota, que “segue pagando seus fornecedores rigorosamente em dia e sem atrasos. A companhia informa que a unidade localizada no shopping em questão continua operando normalmente e que já apresentou defesa contra a ação mencionada. A Americanas reitera que os créditos concursais referentes à recuperação judicial estão devidamente endereçados no cronograma de pagamentos já em execução.”

Já o Iguatemi respondeu, por meio da sua assessoria de imprensa, que “não comenta processos em andamento.”

Na ação de despejo por infração contratual, à qual a reportagem teve acesso, o Iguatemi afirma que “a loja da ré tem estado desabastecida de produtos, com prateleiras vazias, denotando ausência de estoque de mercadorias para atendimento à demanda do público frequentador do Shopping Center Iguatemi”. O shopping reclama, ainda, de “diversas prateleiras desorganizadas.”

Na ação, o Lobo&Lira destaca “o péssimo desempenho da loja da ré no Shopping Iguatemi ao longo dos anos de 2023 e 2024”. Na comparação com 2013, por exemplo, diz que as vendas da Americanas em 2023 caíram 26% e que “o ano de 2024 segue no mesmo caminho”.

“Além disso, comparativos de vendas da ré com outras lojas no Shopping Iguatemi demonstram que a ré vem apresentando um desempenho muitíssimo inferior aos demais lojistas, sejam eles lojas de semelhante metragem [âncoras], lojas com 1/4 de sua metragem ou lojas com 1/8 de sua metragem”, diz.

O valor do aluguel do espaço de 1.565,78 m² é de R$ 248.228,15. Pelos autos, a Americanas propôs uma renovação do contrato de locação pelo prazo de cinco anos, iniciando em 2 de janeiro de 2024, com término em 1º de janeiro de 2029, pelo valor de R$ 180 mil, que não foi aceito pelo Iguatemi.

O shopping quer usar a área para fazer uma reforma do espaço e abrir sete novas lojas e diz já ter interessadas. “A retomada do imóvel é indispensável para a implementação do projeto de remodelação que resultará na construção de sete novas lojas”, diz a defesa do Iguatemi. “Em um período de quatro anos, o potencial ganho adicional para o shopping com a locação das novas lojas será de aproximadamente R$ 24 milhões.”

Antes da crise da Americanas –desencadeada a partir da descoberta de uma fraude de R$ 25,3 bilhões nos balanços da empresa nos últimos anos–, a lojista era uma das âncoras do Iguatemi. Apesar de ser uma loja com perfil popular, em meio a um shopping voltado à classe A, a Americanas atraía fluxo ao shopping.

Situada no térreo, a loja foi aberta em 1981, 15 anos depois da inauguração do Iguatemi, em 1966. A loja de hoje, porém, não tem o mesmo apelo de venda de celulares e outros aparelhos eletrônicos que tinha antes da crise. Hoje a empresa aposta em guloseimas, higiene e beleza, utilidades domésticas e brinquedos.

Segundo um executivo do setor de shopping centers, ouvido pela reportagem em condição de anonimato, a Americanas tem hoje um mix “ultrapassado”, que não atrai mais o público. Segundo ele, antes o consumidor saía de casa para ir à Americanas -mas se for para comprar chocolates, ele tem opções melhores, especializadas, com desembolso semelhante.

Ao mesmo tempo, de acordo com essa fonte, o mix da Americanas empobreceu, o que faz com que o perfil da loja destoe ainda mais de outros varejistas do Iguatemi, endereço de grifes como Hermès, Hugo Boss e Valentino.

De acordo com o consultor Alberto Serrentino, da Varese Retail, no Brasil, um contrato de locação comercial de mais de cinco anos dá direito à renovação vitalícia, desde que haja o reajuste a valores de mercado. “O shopping não tem o direito de tirar um locatário unilateralmente, a não ser que haja uma violação de contrato”, diz.

No caso do Iguatemi, afirma, o shopping está se posicionando cada vez mais como um centro comercial de luxo. “Ter uma Americanas é algo que não bate com o seu posicionamento atual.”

Voltar ao topo