Três mil empresas exportam e 40 mil importam da China. Total de micro cresce 277% de 2008 a 2024

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Embarque de farelo de soja no Porto de Santos: exportações são concentradas em commodities
(Moacyr Lopes Junior/Folhapress)
  • Pauta exportadora brasileira ainda é concentrada em commodities – 80% do total é da indústria extrativa ou da agricultura
  • Participação das exportações para a China sai de 2% para 28% desde 2000. Superávit em dez anos é metade do saldo comercial total
Por Vitor Nuzzi

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
O Brasil discute como ampliar a pauta de exportações para a China, ainda concentrada em commodities. Mas, aos poucos, a relação comercial está se diversificando, inclusive pelo crescimento de micro, pequenas e médias empresas. Nas duas direções. De 2008 a 2024, a quantidade de microempresas exportadoras aumentou 277%, de 83 para 313. Já as que importaram foram de 1,9 mil para 11 mil – alta de 479%. Os dados são do estudo Análise Socioeconômica do Comércio Brasil–China, elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O governo promoveu na quinta-feira (9) debate sobre possibilidade de ampliar as vendas por meio do comércio eletrônico. Segundo o secretário-executivo do MDIC, Márcio Elias Rosa, a China já movimenta US$ 2 trilhões nessa modalidade.

No ano passado, 3 mil empresas brasileiras exportaram para a China. Desde 2000, a média anual de crescimento é de 6,7%. O número de empresas importadoras de produtos chineses é bem maior: 40 mil (+10,9%/ano). Quase 10 vezes mais do que as que importaram do Mercosul, o dobro da União Europeia e 14 vezes mais em relação às que importaram de países da América do Sul. No caso das exportações, segundo o ministério, a participação relativamente baixa “é explicada pela forte concentração da pauta em poucos produtos e pelo predomínio de grandes empresas”, como nos setores de soja, minério de ferro e petróleo. Da pauta exportadora brasileira para os chineses, 44% se concentra na indústria extrativa, 36% na agricultura e 20% na indústria de transformação. Nesse último setor, a participação sobe para 93% no Mercosul e para 78% com os Estados Unidos.

Ainda que a pauta continue concentrada, o número de produtos aumenta. De acordo com o estudo, em 1997 o país exportava para a China 673 categorias de produtos. Em 2024, foram 2,6 mil (+284,7%). No mesmo período, também houve aumento, em menor medida, para Estados Unidos (68%), União Europeia (68%) e o Mercosul (14%). Mas esses parceiros comerciais recebem mais categorias de produtos do Brasil. São 5 mil no mercado norte-americano, 5,4 mil para os europeus e 6,1 mil no Mercosul. Para o MDIC, a progressiva diversificação mostra que “o Brasil tem conseguido inserir uma gama mais ampla de bens no mercado chinês”. Isso inclui manufaturados, semimanufaturados e produtos de maior valor agregado. “O crescimento contínuo nas vendas de carnes, celulose, café – e até mesmo algumas manufaturas industriais – ilustra esse processo.”

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A China tornou-se o principal parceiro comercial do Brasil em 2009. E há mais de uma década é o maior comprador de diversos produtos. “Somente em 2024, o país asiático absorveu 73% da soja, 67% do minério de ferro e 44% do petróleo bruto exportados pelo Brasil”, afirmou o MDIC. “No mesmo ano, comprou 51% da carne bovina, 44% da celulose e 51% do algodão vendidos ao exterior.” O governo brasileiro avalia que a demanda por itens como cobre, lítio, manganês e nióbio deverá crescer nos próximos anos – “minerais essenciais à transição energética “. O fortalecimento das relações entre China e Brasil é parte do projeto do governo Lula e do chinês Xi Jinping em desenvolver relações comerciais entre os países do Brics (Brasil, Russia, Índia e África do Sul). Em agosto, depois da imposição do tarifaço promovido pelo Estados Unidos aos produtos produzidos no Brasil, o líder chinês mostrou apoio ao Brasil, inclusive, aumentando as trocas comerciais “para dar o exemplo de unidade e autossuficiência entre os principais países do sul global”, disse à época.

Desde 2000, a participação da China nas exportações brasileiras foi de 2% para 28%. Nesse período, caiu a participação dos Estados Unidos (de 24% para 12%), da União Europeia (de 25% para 14%), do Mercosul (de 14% para 6%) e demais países da América do Sul (de 6% para 5%). E a presença chinesa nas importações foi de 2% para 24%. Se a exportação ainda é limitada, a importação de origem chinesa é “altamente diversificada”, segundo o MIDC. Com perfil “composto quase integralmente por produtos da indústria de transformação, incluindo eletrônicos, automóveis, químicos, têxteis e diversos insumos”. As categorias de produtos chegam a 6,9 mil.

Mas o Brasil acumula superávits na relação com seu principal parceiro comercial. Nos últimos dez anos, o saldo soma US$ 276 bilhões, “o equivalente a 51% do superávit total com o mundo no período”. Com Estados Unidos e União Europeia, o Brasil tem déficit de US$ 224 bilhões. O comércio com a China foi “essencial para reduzir a vulnerabilidade externa e elevar as reservas internacionais do Brasil”.

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