WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Aliados de Donald Trump no órgão responsável por supervisionar as eleições na Geórgia aprovaram nesta sexta-feira (20) uma nova regra que obriga todos os condados do estado a contarem os votos à mão.
A determinação, feito a menos de sete semanas do pleito, em 5 de novembro, deve atrasar a divulgação do resultado em um estado crucial para a eleição deste ano. Críticos afirmam que o método é mais propenso a erros, vulnerável a fraudes e custoso para o contribuinte. O temor é que a situação abra caminho para um cenário caótico.
Uma contagem de 2,1 milhões de votos feita à mão em um condado do Arizona na eleição de 2020 demorou mais de dois meses para ser concluída. A Geórgia tem cerca de 8 milhões de eleitores registrados.
Como a Folha mostrou no inicio do mês, aliados de Trump têm feito campanha para que estados contem votos à mão, sob a justificativa infundada de que o método é mais seguro do que a tabulação por máquinas de leitura óptica, como ocorre na maior parte do país. Agora, a Geórgia vai usar ambos.
Em 2020, Trump afirmou, sem provas, que esses equipamentos foram adulterados para favorecer Joe Biden. O democrata venceu o estado por uma diferença de menos de 12 mil votos. Na disputa atual, o republicano aparece apenas 1,7 ponto percentual à frente de Kamala Harris na Geórgia, segundo a média de pesquisas calculada pelo agregador RealClearPolling.
Nos EUA, cerca de 70% do eleitorado vota preenchendo uma cédula de papel à mão apenas 5% usam o método eletrônico (semelhante ao adotado no Brasil), segundo a organização apartidária Verified Voting. Esse percentual é inferior ao da última eleição presidencial (12%), e o menor desde pelo menos 2006.
O restante dos votos é feito por uma máquina que gera um voto impresso. O dado não é armazenado eletronicamente. As cédulas de papel sejam as preenchidas na seção eleitoral à mão ou por máquina e as enviadas por correio são contabilizadas em geral usando uma máquina de leitura óptica.
A mudança na Geórgia foi aprovada por 3 votos a 2, e se soma a outras alterações receitas feitas pelo órgão eleitoral do estado após ele passar para domínio republicano. Em um comício em Atlanta no começo de agosto, Trump chamou os aliados de “pitbulls lutando por honestidade, transparência e vitória”.
Outra mudança foi a criação da possibilidade de funcionários locais conduzirem “investigações razoáveis” antes de certificar os resultados. O temor é que essas pessoas argumentem que há irregularidades pontuais para se negarem a validar as contagens, inviabilizando a certificação pelo estado.
Democratas já entraram com uma ação contra a mudança, afirmando que ela vai contra o que entendem ser o dever estabelecido na Constituição estadual de certificar o resultado.
Trump é alvo de um processo criminal na Geórgia por supostamente ter tentado reverter sua derrota no estado em 2020. A ação cita, por exemplo, uma conversa telefônica do então presidente com um secretário estadual, na qual Trump diz que “apenas quer achar 11.780 votos”. Ainda não há data para julgamento.
O republicano e seus aliados vêm preparando o terreno para questionar o resultado da eleição presidencial. A estratégia vai além de acusações sem provas, como as feitas em 2020, e mira os processos de registro de eleitores, contagem e certificação de votos.
Democratas veem com apreensão a estratégia, diante de um placar final que deve ser ainda mais apertado do que o da última eleição, e preparam times de advogados para contra-atacar.
“Nosso foco principal não é levar as pessoas para votar. É garantir que eles [democratas] não trapaceiem, porque nós temos todos os votos de que precisamos”, disse Trump durante um comício na Carolina do Norte no mês passado.
O ex-presidente e seus apoiadores, entre eles o dono do X, Elon Musk, também têm afirmado que democratas estão ilegalmente registrando o fluxo recorde de pessoas que entrou no país de modo ilegal durante o governo Joe Biden como eleitores.
Embora dados mostrem que o número de não cidadãos tentando votar nas eleições é irrisório, uma pesquisa Ipsos divulgada em setembro apontou que um terço dos americanos acredita que imigrantes em situação irregular no país votarão em novembro. Entre republicanos, o percentual quase dobra: 65%.
A tese tem sido usada como base por alguns estados para justificar a adoção de novas regras que, na visão de especialistas, dificultam o acesso ao voto especialmente negros, hispânicos, jovens e os mais pobres.