BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – São críticas já verbalizadas por diversos atores globais, mas desta vez elas vieram da ONU. O painel das Nações Unidas que esteve in loco na eleição presidencial na Venezuela do último 28 de julho afirma que as medidas do órgão eleitoral no país desrespeitaram os preceitos básicos para uma eleição com alguma credibilidade.
Em comunicado preliminar emitido no final desta terça (13), o braço da organização disse que o anúncio dos resultados, feito sem a publicação dos detalhes dessa votação, não tem nenhum precedente em eleições democráticas contemporâneas, segundo consta no histórico da ONU.
O informe afirma ainda que a transmissão eletrônica dos resultados das urnas funcionou bem no início, mas que depois “foi detida bruscamente nas horas que seguiram o fim da votação, sem que fosse proporcionada explicação a qualquer candidato”.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) afirma que seu sistema foi alvo de um ataque hacker que atrasou a contagem dos votos e o recebimento dos dados. A ONU, em resposta, lembra que o CNE “postergou e depois cancelou três auditorias-chave, incluindo uma sobre o sistema de comunicação que poderia ter jogado luz sob a ocorrência de ataques externos contra a infraestrutura de transmissão dos votos”.
Diferentemente da organização Carter Center, por exemplo, o painel de especialistas da ONU não tinha caráter de observador eleitoral nestas eleições, de modo que em teoria não foi formado para emitir uma avaliação sobre o resultado eleitoral. Mas seu comunicado é bem enfático.
O painel afirma ainda que o período pré-eleitoral também foi marcado por uma série de problemas e de “restrições ao espaço cívico e político”. Lista, entre outras coisas, que a campanha do regime pelo ditador Nicolás Maduro dominou os meios de comunicação estatais, com acesso muito limitado aos candidatos da oposição.
Diz ainda que “inúmeras restrições ao direito de candidatar-se para cargos públicos se mantiveram vigentes para várias figuras políticas proeminentes”. É uma menção indireta especialmente à líder opositora María Corina Machado, inabilitada para concorrer e hoje investigada pelo Ministério Público por afirmar que houve fraude no processo.
O painel das Nações Unidas, diferentemente do Carter Center, não afirma que as atas eleitorais divulgadas pela oposição confirmam a vitória do opositor Edmundo González.
No entanto, diante das acusações de Caracas de que essas atas são falsas, diz que as características de segurança presentes nesses documentos “parecem ser muito difíceis de falsificar”.