SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em queda nesta sexta-feira (23), com os investidores à espera do discurso de Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), em simpósio em Jackson Hole. A expectativa é que ele faça indicações sobre a trajetória dos juros americanos.
Por volta das 9h05, a cotação da moeda caía 0,38%, a R$ 5,5688. Na quinta-feira (22), o dólar subiu 1,97%, maior alta desde 19 de abril de 2023, quando saltou 2,21%
O presidente do Fed fala às 11h (horário de Brasília) no encontro anual de autoridades de bancos centrais, no que é o evento mais aguardado da semana por investidores.
A tônica dos últimos dias tem sido o estado da economia e a política monetária dos Estados Unidos, diante de apostas cada vez mais consolidadas de que o Fed irá reduzir os juros na próxima reunião, em setembro. Dados do mercado de trabalho e sinalizações da ata do último encontro do banco central americano reforçaram essa percepção.
Em relatório divulgado na quinta-feira, os pedidos de auxílio desemprego aceleraram para 232 mil na semana encerrada em 17 de agosto, ante expectativa de 230 mil de analistas consultados pela Reuters. Na leitura semanal anterior, haviam sido 228 mil pedidos.
O resultado endossou a leitura de que o mercado de trabalho está resfriando, após uma revisão na quarta-feira mostrar que os Estados Unidos criaram 818 mil empregos a menos do que o divulgado anteriormente nos 12 meses até março.
O Fed trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto dados de inflação e do mercado de trabalho. O objetivo é atingir o chamado “pouso suave”, no qual o índice inflacionário converge para a meta sem maiores danos à empregabilidade do país.
A meta de inflação é de 2%, e, nas últimas leituras, os indicadores têm mostrado uma desaceleração na alta de preços. Temores em relação aos números de desemprego, no entanto, têm criado uma ansiedade adicional sobre o início do ciclo de afrouxamento monetário americano.
Além disso, a autoridade monetária divulgou, na quarta-feira, a ata da reunião de julho, cuja resolução foi por manter a taxa de juros inalterada na faixa de 5,25% e 5,50%.
A minuta indicou que a grande maioria dos diretores de Política Monetária está inclinada a um corte na taxa a partir do encontro de setembro “se os dados permanecerem dentro do esperado”. Vários deles, aliás, se mostraram dispostos a um corte na própria reunião passada.
Os operadores financeiros dão como certo que a flexibilização terá início no próximo encontro. Agora, 72% dos investidores apostam em um corte de 0,25 ponto percentual, enquanto os 28% restantes vêem probabilidade de uma redução maior, de 0,50 ponto, segundo a ferramenta CME FedWatch.
As apostas em um afrouxamento mais gradual fez os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro americano, subirem na véspera. Quanto mais crescem, melhor para o dólar, que se torna comparativamente mais atraente do que ativos de maior risco, prejudicando o apetite por moedas de países emergentes, incluindo o Brasil.
A pressão dos Treasuries se somou a ruídos domésticos sobre a taxa básica de juros do país, a Selic, no desempenho da moeda brasileira na quinta-feira. O dólar fechou em forte alta de 1,97%, aos R$ 5,589, no que foi a maior disparada da moeda desde 19 de abril de 2023, quando subiu 2,21%.
Já a Bolsa interrompeu a sequência de avanços e caiu 0,95%, aos 135.173 pontos, em dia de realização de lucros após o Ibovespa renovar recordes por três pregões consecutivos.
Nos últimos dias, a avaliação de que o BC (Banco Central) irá subir os juros em ao menos 0,25 ponto percentual na próxima reunião, também em setembro, tem ganhado força entre agentes financeiros.
O motivo recai em falas mais duras de membros do BC, em especial Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e favorito à presidência da autarquia ao término do mandato de Roberto Campos Neto.
Os discursos, na análise do mercado, impõem a necessidade de aperto na Selic mesmo diante da relativa melhora do cenário externo, já que as taxas futuras precificam isso.
Galípolo, porém, disse discordar “respeitosamente” das interpretações do mercado sobre o BC ter ficado em uma “situação difícil” por causa de seus discursos recentes.
Ao mesmo tempo, reforçou as falas das últimas semanas: “Inflação fora da meta é situação desconfortável, e ter que subir juros é situação cotidiana para quem está no BC”, disse em evento na Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores).
Os ruídos na comunicação do BC deram ainda mais tração à forte desvalorização do real na quinta-feira, disse André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais.
“Depois de ter assumido um discurso mais conservador ao longo dos últimos dias, Galípolo procurou diminuir o tom, reforçando que suas falas recentes não representavam uma antecipação dos próximos movimentos do Copom”, explica.