Eduardo Terra, IRTT: "Observatório do Varejo chega para ampliar leitura do setor"

  • O novo Observatório do Varejo vem para preencher uma lacuna informacional, na avaliação de Terra. "O que não tem no IBGE vai ter ali"
  • IRTT tem estrutura técnica com estatísticos e analistas dedicados a estudos econômicos, financiados por patrocinadores como Mastercard
Por Bruna Lencioni

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
O varejo brasileiro movimenta R$ 1,3 trilhão e emprega 1,7 milhão de pessoas entre as 300 maiores redes do país (2024), segundo o ranking do Instituto Retail Think Tank (IRTT). O instituto, cofundado por Eduardo Terra – especialista em varejo, consumo e transformação digital, sócio da High Partners, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) e conselheiro de grupos como Petz, Boticário e Savegnago – lança agora, em novembro, o Observatório do Varejo Brasileiro, seu segundo estudo. “O estudo deve ampliar a leitura do setor, estratégico para o varejo brasileiro”, disse Terra. A informação foi divulgada durante entrevista no videocast DC NEWS TALKS, um programa da Agência DC NEWS.

O novo Observatório do Varejo vem para preencher uma lacuna informacional, na avaliação de Terra. Será um repositório público e gratuito com dados cruzados de fontes oficiais, como IBGE e Banco Central, sobre PIB, emprego e peso setorial. “Qualquer pessoa poderá consultar quanto o varejo representa da economia”, afirmou. “E o que não tem no IBGE vai ter ali.” O levantamento será anual e faz parte da estratégia do IRTT de fortalecer a inteligência de mercado no país dentro do ecossistema varejista. “O varejo brasileiro ainda tem pouca informação. Sem dados de qualidade, não há decisão de qualidade”, disse Terra. O estudo ficará disponível na página do IRTT gratuitamente.

O IRTT mantém estrutura técnica com estatísticos e analistas dedicados a estudos primários e econômicos, financiados por patrocinadores como a Mastercard. “O objetivo é devolver ao mercado informação nova e confiável”, afirmou Terra. A referência internacional continua sendo a China, onde dados e tecnologia sustentam decisões de varejo. “Parece que eu estou indo para o futuro e depois volto para o Brasil”, disse. “O Brasil precisa transformar informação em inteligência para não ficar para trás.” Terra foi oito vezes para a China em missões com empresários para imersões. “Estão muito adiante. E precisamos entender o que podemos replicar aqui.”

O ranking das 300 maiores, publicado em 2025, revelou um crescimento de 9,6% em 2024 (entre as rankeadas), acima da média da economia, impulsionado por supermercados e drogarias. Terra lembra que o dado é positivo, mas exige leitura crítica. “Supermercados e farmácias ganharam mais relevância. Isso não é uma boa notícia”, afirmou. Para ele, o desempenho reflete o foco do consumo no básico, e não no aspiracional. “A gente voltou a comprar o essencial. Isso é característica de país pouco desenvolvido”, disse. A previsão, segundo ele, é de desaceleração. “A taxa de juros real próxima de 10% sufoca empresas e consumidores.”

CONCENTRAÇÃO – A baixa concentração é uma das marcas do varejo brasileiro. “No Brasil as 10 maiores são 18% do varejo brasileiro”, disse Terra. Nos Estados Unidos, a participação chega a 60%; na Europa, a 70%. “Somos um país continental com diferenças regionais e tributárias.” O cenário abre espaço para marcas regionais crescerem. “Tem muita oportunidade para as médias e pequenas expandirem”, afirmou. Segundo ele, gigantes internacionais não entenderam a dinâmica brasileira. “O Walmart é o exemplo clássico de quem não entendeu o Brasil”, disse.

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ELETRÔNICO – O comércio eletrônico representa vem avançando. Segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABCOMM), no ano passado, o setor faturou R$ 200 bilhões com previsão de alta de 10% em 2025. “De cada R$ 100, 15 acontecem pelo e-commerce”, afirmou Terra. Desses, 80% estão nas mãos de cinco marketplaces. “Mercado Livre, Amazon, Magalu, Shopee e Temu”, disse. “O varejo precisa navegar boas parcerias com essas plataformas.” A tendência, de acordo com ele, repete o padrão chinês. “Na China e nos Estados Unidos é assim: os marketplaces dominam o mundo digital”, disse. Mas o executivo faz alerta. A transformação digital não é sinônimo de e-commerce. “A jornada do cliente hoje é toda digital, mas pode começar online e terminar no físico.” Quem está fora, não está preparado para jogar o jogo, na visão de Terra. Confira a entrevista.

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