Empresa que une indústria com ociosidade a marcas com produção excedente pode elevar eficiência das fábricas brasileiras

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Growinco é uma plataforma de tecnologia e negócios já atende mais de 100 marcas
(Diego Padgurschi / Folhapress)
  • A Growinco atualmente atende mais de 100 marcas, incluindo gigantes como Danone, Bimbo, Mondelez, Kellogg’s, Natura&Co, Ajinomoto e Três Corações
  • Ao unir quem precisa aumentar produção terceirizada e pátio ocioso, Growinco tem 500 projetos em curso e meta de lançar mil produtos ao ano
Por Victor Marques

[AGÊNCIA DC NEWS]. Há pouco mais de cinco anos, em 2019, dois colegas de trabalho, Raphael Traticoski e Alejandro Devoto trabalhavam em uma multinacional do setor alimentício e identificaram uma oportunidade de mercado. Na época, a empresa onde trabalhavam enfrentava dificuldades para encontrar fornecedores destinados à criação de novos produtos, especialmente para a terceirização de produção. Com essa “dor” em mente, os dois criaram o próprio negócio, a Growinco, uma plataforma de tecnologia e negócios que conecta marcas e varejistas com indústrias que possuem linhas de produção ociosas – em maio deste ano, a ociosidade média na indústria nacional, segundo a CNI, estava em 30%. Não demorou para que o portfólio de clientes startup crescesse abarcasse grandes marcas, inclusive fora do Brasil.

Segundo Traticoski, a empresa nasce como a meta de encontrar alternativas para a terceirização da produção de novos produtos e acabar com a ociosidade das linhas de produção no Brasil. A esse processo, inclusive, eles dão o nome de comanufatura. “Queremos que nossa plataforma seja a principal referência para o lançamento de novos produtos em escala global”, disse o cofundador e CEO da Growinco. Com pouco capital e ainda sem um produto completamente estruturado, os fundadores apostaram no contato direto com as indústrias e marcas para validar o modelo de negócios. “Nós começamos basicamente fazendo ligações e visitas, tentando conectar manualmente marcas com indústrias que tinham capacidade de produção disponível”, disse.

Atualmente, a startup já atende mais de 100 marcas, incluindo gigantes como Ajinomoto, Bimbo, Danone, Kellogg’s, Mondelez, Natura&Co e Três Corações. Além disso, possui na plataforma 17 mil indústrias cadastradas apenas no Brasil, com uma operação global que já alcança países nas Américas e na Europa, com escritórios em Curitiba, Vitória, Chicago (EUA) e Amsterdã (NL). Em 2023, a empresa acumulou um GMV (volume bruto de mercadoria) de US$ 1,5 bilhão (crescimento de 60% em comparação com 2022) e espera atingir US$ 2 bilhões no indicador neste ano, representando um aumento de 33%.

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A empresa realizou sua última rodada de investimentos em outubro de 2023, totalizando R$ 4,8 milhões recebidos da Mandi Ventures, Urca Angels e GVAngels em um ano. Segundo Traticoski a companhia está prestes a atingir o break-even, graças às otimizações internas, incluindo o uso de inteligência artificial. Em 2024 a empresa conseguiu reduzir o tempo de lançamento de novos produtos no mercado, que tradicionalmente leva cerca de 20 meses, para um período médio de 12 a 15 meses, o objetivo é seguir com o foco na eficiência.

Para este ano, a aposta da empresa está na implementação de mais ferramentas de Inteligência Artificial direcionada à otimização dos processos da plataforma. Uma das novas funções com a IA é a de mapear as necessidades de produção a partir de uma simples foto de um produto similar, permitindo que o sistema identifique automaticamente as máquinas e processos necessários para fabricar o item – e assim encontrar o pátio fabril perfeito. Essa inovação permite à empresa realizar um match mais rápido e preciso entre as marcas e os fabricantes. Segundo Traticoski, a eficiência operacional proporcionada pelo uso da IA já reduziu o tempo de lançamento de novos produtos em até 40% e espera alcançar uma redução de 50% em breve. A empresa tem 500 novos projetos e ajuda a lançar mil produtos anualmente.

INTERNACIONAL – A empresa está de olho em novas oportunidades, especialmente no mercado dos Estados Unidos. “Abrir operações nos Estados Unidos foi um marco importante para nós”, disse Traticosk. Para apresentar o modelo de negócio para empresas do restante do mundo, a startup tem participado de grandes feiras de alimentos e bebidas como a IFPM em Chicago e participará da Expo West, em Anaheim (Califórnia), prevista para outubro. Hoje, cerca de 70% da receita vem de fora do Brasil, com os Estados Unidos representando 30%, o México, 8%, e o restante pulverizado entre diversos países.

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Queremos que nossa plataforma seja a principal referência para o lançamento de novos produtos em escala global

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Raphael Traticoski, Growinco

Com uma equipe enxuta, de 33 pessoas, a Growinco mantém o foco em alcançar o break-even financeiro ainda este ano e na inteligência artificial para realizar otimizações internas. “Será fundamental para atingir essa meta”, afirmou o cofundador. Com bons resultados e um plano consistente de crescimento, a Growinco deve contribuir com a redução da ociosidade da indústria enquanto ajuda as marcas a terceirizarem a produção de novos produtos.

INDÚSTRIA – Em maio de 2025, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o uso da capacidade instaladas da indústria brasileira atingiu 70%, ante aos 69% registrados em abril. Na prática o número signfica que 30% da capacidade das empresas estão ociosas. Segundo a entidade, a evolução da produção indústrial atingiu 52 pontos no quinto mês do ano, ante aos 47,8 ponto de abril. O indicador de produção vai de 0 a 100 e números inferiores a 50 indicam uma contração da atividade. No quesito empregabilidade, o indicador segue, desde março no campo do pessimismo, e atingiu 49,6 pontos em maio, ante aos 49,2 em março e abril.

No panorama industrial da CNI há ainda outros indicadores que ajudam a elocidar a situação geral dos empresários do ramo. Em maio, os estoques de produtos acabados da indústria avançaram tanto na comparação mensal quanto na anual, atingindo 50,4 pontos na única referência acima de 50 pontos desde novembro de 2024. Nesse recorte, cifras superiores a 50 indicam aumento acima do projetado no estoque. Ao olhar para os próximos meses, os industriais reportaram o índice de 55,6 pontos para demanda (em abril eram 54,2) e de 52,2 pontos na exportação (51,6 no mês anterior). No que tange as compras de matérias-prima, o indicador avançou 0,7 ponto e chegou a 53,9 – mantendo todos os indicadores futuros, na visão de abril, no campo positivo.

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