Mauricio Salvador, da ABCOMM: "Cerca de 70% das lojas online fecham no primeiro ano de operação. Falta conhecimento"

  • Aposta repentina no negócio de vendas digitais combinada com falta de conhecimento resultam em frustração e encerramento dos negócios
  • Para o presidente da entidade, quem não está produzindo conteúdo para vender seus produtos está cometendo um erro. "É preciso criar comunidades engajadas"
Por Bruna Lencioni

[AGÊNCIA DC NEWS]. O comércio eletrônico no Brasil está em expansão. No ano passado, as vendas ultrapassaram os R$ 200 bilhões e a projeção é que alcance R$ 234,9 bilhões este ano, muito disso impulsionado pelos grandes marketplaces. No entanto, por trás desse crescimento, há um desafio persistente: a alta taxa de mortalidade das lojas virtuais, especificamente dos pequenos negócios. “Aproximadamente 70% das lojas online fecham no primeiro ano de operação”, disse em entrevista ao DC NEWS TALKS, Mauricio Salvador, presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABCOMM). O problema não está só na concorrência, em especial com as companhias gigantes. A falta de planejamento é apontada como uma das principais razões para o fracasso desses varejos digitais. Atualmente são cerca de 500 mil comércios ativos em vendas na internet, segundo a entidade, no Brasil.

Muitos empreendedores entram no mercado digital sem conhecimento adequado sobre como operar no e-commerce. “As pessoas abrem lojas virtuais com um capital limitado”, disse Salvador. Elas gastam tudo para a montagem das plataformas e, quando chega a hora de atrair clientes e gerar tráfego, não sobra dinheiro, segundo o presidente. Esse cenário é ainda mais comum em períodos de aumento do desemprego, quando muitos veem no e-commerce uma alternativa rápida de gerar renda, mas sem a preparação necessária. Além disso, a concorrência acirrada, especialmente com a entrada agressiva de marketplaces internacionais, como os chineses, dificulta a sobrevivência das pequenas lojas. “Muitas empresas não conseguem gerar tráfego suficiente para competir com grandes players ou marketplaces consolidados”, disse Salvador.

Para reduzir a mortalidade, Salvador enfatiza a importância de um planejamento sólido antes de abrir uma loja virtual. “A primeira regra é entender o negócio.” Existem cursos e materiais gratuitos disponíveis, como os oferecidos pela ABCOMM e pelo Sebrae, que podem ajudar o empreendedor a evitar erros comuns, de acordo com o presidente. Ele também recomenda que os novos lojistas comecem com um modelo de negócios mais simples, como vendas em marketplaces, antes de investir em uma operação própria.

Escolhas do Editor

Outro ponto crucial é a geração de conteúdo e a construção de uma audiência orgânica. Com o custo crescente de anúncios em plataformas como Google e TikTok, muitas lojas não conseguem se sustentar apenas com marketing pago. “O empreendedor precisa se tornar produtor de conteúdo e criar comunidades engajadas”, afirmou. Isso pode levar tempo, mas é essencial para gerar tráfego sem depender exclusivamente de anúncios, na análise de Salvador.

A adoção de novas tecnologias, como inteligência artificial (IA) e blockchain, também pode ser decisiva para a sobrevivência das lojas virtuais. A IA, por exemplo, pode otimizar a logística e a gestão de estoques, reduzindo custos operacionais. Já o blockchain pode ajudar a combater fraudes, um problema recorrente no e-commerce. “Essas ferramentas estão se tornando acessíveis até para pequenos empreendedores”, disse. Quem não se adaptar corre o risco de ficar para trás, na análise dele.

INTERNACIONAL – O mercado brasileiro de e-commerce tem ganhado destaque não apenas no cenário nacional, mas também internacional, especialmente na Europa, conforme Salvador. Produtos como moda fitness, moda praia e calçados têm conquistado consumidores europeus, pelo valor agregado e qualidade. “A moda fitness brasileira é um sucesso na Europa, assim como os biquínis e sapatos de couro, que são vendidos a preços competitivos”, disse Salvador. A ABComm tem trabalhado para facilitar essa internacionalização, promovendo parcerias e levando informações sobre o mercado brasileiro para outros países, contou o presidente. Com a ajuda de ferramentas como inteligência artificial, que elimina barreiras linguísticas, os empreendedores brasileiros estão encontrando novas oportunidades além das fronteiras.

A entrada de produtos chineses no Brasil tem sido um desafio para o comércio eletrônico local. Com preços baixos e isenção de impostos em alguns casos, os produtos deles competem diretamente com a indústria nacional. “Quando produtos concorrem sem pagar impostos, isso é predatório e pode fechar indústrias brasileiras”, afirmou Salvador. Ele destacou a necessidade de políticas que nivelem a competitividade, como a taxação de importações, para proteger o mercado interno. Além disso, há preocupações com a qualidade e a regulamentação de alguns produtos chineses, que nem sempre atendem às normas técnicas brasileiras.

PREMIAÇÃO – Anualmente a ABCOMM realiza um evento que premia os melhores do segmento de varejo online por votação popular. Este ano, o Prêmio de Inovação Digital da ABCOMM chegou à sua 10ª edição em 2025. “O objetivo é trazer à tona empresas que fazem um trabalho sério, mas que não têm visibilidade”, disse Salvador. Neste ano, a empresa Magazord, do Sul do Brasil, foi a vencedora na categoria de melhor plataforma de e-commerce. Além disso, pela primeira vez na história do prêmio, duas mulheres foram reconhecidas na categoria Empreendedor do Ano, refletindo o crescente protagonismo feminino no setor. Confira a entrevista em vídeo com Maurício Salvador.

Veja a relação de ganhadores e as modalidades do 10º Prêmio ABCOMM de Inovação Digital.

1. Melhores do E-commerce 2024

Melhor Agência de Performance Digital

1º – Wave Commerce

2º – E-Commerce Rocket

3º – Simples Inovação

Melhor Ferramenta de Marketing

1º – Mailbiz

2º – edrone

3º – Dinamize

Melhor Logística para E-commerce

1º – Total Express

2º – SmartEnvios

3º – JadLog

Melhor Marketplace

1º – Casas Bahia

2º – WebContinental

3º – Amazon

Melhor Plataforma de E-commerce

1º – Magazord

2º – Linx Commerce

3º – Wake e wBuy (empate)

Melhor Solução Financeira para E-commerce

1º – Tributei

2º – Sqala Pay

3º – Vindi

Melhor Startup de E-commerce

1º – WeDrop

2º – Zoppy

3º – Kobe

Melhor Tecnologia para E-commerce

1º – Magis5

2º – Grupo Ideal Trends

3º – Alternativa Sistemas

Melhor Fornecedor em Serviços Digitais

1º – FCamara

2º – Perto Digital

3º – YAV Digital

2. Destaques Profissionais

Profissional de Marketing Digital

1º – Lucas Renault

2º – Lucas Brum

3º – Bruno Romera

Empreendedor do Ano

1º – Daiane Lopes Dias

2º – Angelo Vicente

3º – Gabriela Pinheiro Cavicchioli

Melhor Profissional de E-commerce

1º – Diego Santana

2º – Patrick Scripilliti

3º – Wiliam Oliveira

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