[AGÊNCIA DC NEWS]. Apesar de dedicarem mais tempo e recursos para ampliarem sua qualificação profissional, as mulheres empreendedoras no Brasil ganham menos do que os homens. Segundo pesquisa do MaisMEI, que auxilia a gestão de negócios para MEIs por meio de superapp, entre os microempreendedores individuais do Brasil, 22,2% das mulheres possuem o ensino superior completo, enquanto 8,8% dos homens alcançam esse nível de escolaridade. Porém, 33,1% dos homens têm rendimentos superiores a R$ 4 mil, ao passo que 16,3% das mulheres faturam acima desse valor com suas atividades. Considerando ganhos acima de R$6 mil mensais, 11,3% dos homens microempreendedores estão neste patamar, comparado a 4,9% das mulheres. Segundo Ana Flávia Silva, gerente estadual do Sebrae Delas em São Paulo, essa proporção não reflete na sala de aula. “A realidade é que mais de 60% das aulas que oferecemos são frequentadas por mulheres,” disse à AGÊNCIA DC NEWS. A população feminina representa 34,1% dos donos de negócios no país, conforme dados do Data Sebrae, sendo metade delas (50,4%) negras.
“São várias questões que influenciam as mulheres a buscarem mais capacitação”, afirmou Silva. A profissional explica que, em geral, homens são mais confiantes durante o gerenciamento do negócio mesmo quando não têm o preparo para lidar com uma empresa ou com as dificuldades que a posição possa gerar. As mulheres, por outro lado, mesmo quando capacitadas, sentem insegurança. A pesquisa do Grupo X, hub de educação, mostra que o medo de falhar é o maior desafio para 39,7% das empreendedoras, seguido da dupla jornada (25,9%), burocracia (17,2%) e dificuldade de acesso ao crédito (17,2%). A maioria (74,4%) afirmou já ter enfrentado preconceito ou resistência no mercado de trabalho devido ao gênero.
Há, ainda, disparidade no chamado trabalho do cuidado, referente às atividades relacionadas a casa, filhos e família – a dupla jornada. “Em média, as mulheres trabalham três horas a mais que os homens diariamente ao considerarmos as necessidades de cuidado”, disse. Considerando os dados finais de 2024 divulgados pelo Data Sebrae, 52,3% das mulheres empreendedoras são chefes de seus domicílios. Silva aponta que esse cenário faz com que estas profissionais procurem por mais capacitação com maior frequência que os homens, o estudo como forma de garantir o sustento do núcleo familiar. “A idade também influencia bastante nessa tomada de decisão.” Quase 70% das empreendedoras têm mais de 30 anos. Conforme o Data Sebrae, 27% têm entre 30 e 39 anos, seguida por entre 40 e 49 anos (24,8%) e mulheres entre 50 e 59 anos (18,9%).
Ao analisarmos a última década, o quadro de qualificação destas profissionais mudou, especialmente ao considerarmos o recorte racial, como demonstrado pelo Data Sebrae. Em 2014, 31,4% das mulheres brancas tinham ensino superior incompleto ou mais. Hoje, são 46,6%, aumento de 48,4% em dez anos. O número de mulheres brancas empreendedoras com fundamental incompleto caiu de 20,2% para 10,6%, retração de 47,5%. Entre as mulheres negras, apenas 11,8% tinham ensino superior incompleto ou mais em 2014, atuais 22,8% – crescimento de 93,2% em dez anos. Também houve queda no número de empreendedoras com fundamental incompleto, retração de 33,9% para 18,2%. A maioria das empreendedoras negras (42,6%) apresenta ensino médio completo.
Atualmente, 37,9% das donas de negócios têm ensino médio completo, 34,5% têm ensino superior incompleto ou mais e 14,5% têm ensino fundamental incompleto. Em comparação, 33,5% dos homens têm ensino médio completo, 21,4% apresenta superior incompleto ou mais e 26,6% têm fundamental incompleto.