Nunes acusa golpe de efeito Marçal, é pressionado e busca ter Bolsonaro logo na campanha

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Crédito: Divulgação ACSP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após a crise escancarada nesta semana entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e a família Bolsonaro, que acaba privilegiando Pablo Marçal (PRTB) na eleição paulistana, a equipe emedebista estuda trazer o ex-presidente para a campanha, mas já admite disputar apenas uma parte do eleitorado bolsonarista —a que não foi capturada pelo influenciador de direita.

Na véspera da estreia da campanha, Nunes se reuniu, na noite de quinta (15), com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu aliado e fiel escudeiro de Bolsonaro, no Palácio dos Bandeirantes, para recalcular a rota.

Há uma pressão forte para que Nunes embarque de vez na agenda ideológica bolsonarista e parta para o embate com Guilherme Boulos (PSOL), frentes que Marçal tem dominado.

Segundo um aliado de Bolsonaro, ou Nunes muda a orientação da sua campanha, que tem priorizado apresentar entregas da gestão, ou o voto bolsonarista vai migrar em massa para Marçal.

Quem acompanhou o encontro, que contou ainda com o marqueteiro da campanha Duda Lima e o deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG), afirma que houve troca de ideias e diagnósticos sobre a campanha enquanto comiam pizza.

Segundo relatos, Duda Lima foi cobrado pela relação ruim com o bolsonarismo. Mas, de acordo com aliados de Tarcísio, a conversa foi tranquila e colaborativa.

Entre os argumentos dos emedebistas para trazer Bolsonaro de volta ao barco, está a avaliação de que Marçal, na verdade, compete com o ex-presidente e quer tomar seu espaço político. A expectativa é a de que Bolsonaro perceba que prejudica a si próprio ao dar força ao candidato do PRTB em vez de Nunes.

Além disso, Nunes e seus aliados têm lembrado as críticas que o influenciador já fez a Bolsonaro.

Na manhã desta sexta (16), depois de uma missa em Santo Amaro (zona sul), que marcou o início da sua campanha, o prefeito acusou o golpe ao mirar em Marçal e disparar uma série de críticas ao ex-coach.

O prefeito afirmou que “não tem outro M para a cidade que não o M da verdade” e disse que melhor que rede social é ação social.

“A gente está falando de uma ação da vida real. Isso aqui não é o pico dos Marins”, disse em referência ao local onde Marçal liderou uma excursão e precisou ser resgatado pelos bombeiros.

Sobre Bolsonaro ter dito que Nunes não é seu candidato dos sonhos, o prefeito afirmou que “não estamos vivendo de sonho, mas de realidade” e que “vender sonho é para outro candidato”.

Quem integra a campanha do prefeito afirma que Marçal levou por água abaixo o trabalho no início do ano para unificar a direita em torno de Nunes e evitar que o PL lançasse um bolsonarista raiz —o nome cogitado era Ricardo Salles (Novo), que desistiu após Bolsonaro ser convencido a fechar com Nunes.

Auxiliares do prefeito têm conversado com Jair e Eduardo Bolsonaro para tentar baixar a pressão. A ideia é trazer o ex-presidente para agendas de rua com Nunes. Até agora, Bolsonaro não teve protagonismo na campanha do MDB.

Mas, mesmo que Bolsonaro mergulhe de vez na reeleição de Nunes, a leitura de emedebistas é a de que a tensão com o bolsonarismo será frequente, já que Nunes, apesar de conservador, não cabe perfeitamente no figurino extremista nem gostaria de adotá-lo.

Os gestos do prefeito ao aliado, dizem eles, será no campo da política e não do espetáculo.

Como a crise aconteceu no início da campanha, emedebistas afirmam ainda que há tempo para reverter o quadro, mas admitem que um fogo amigo bolsonarista na reta final seria fatal.

Em relação a Marçal, a expectativa de integrantes da campanha de Nunes é a de que haja uma resposta coordenada da política tradicional à falta de comprometimento do influenciador com as regras do jogo, por ele ser agressivo nos debates e espalhar fake news.

Eles avaliam que o candidato do PRTB tem fragilidades a serem exploradas, como processos judiciais e a briga interna no seu partido.

O movimento, porém, é cogitado com cautela, já que, se falhar, iria apenas fortalecer Marçal como o candidato antissistema.

Em conjunto, integrantes das campanhas de Nunes, Boulos, Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB) estudam se devem ou não participar de todos os debates diante das agressões de Marçal nos encontros anteriores. Também cobram dos organizadores compromisso rígido com as regras e com direito de resposta em caso de afirmações falsas.

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