Em 2018, a cidade de Olímpia, no interior de São Paulo – a 430km da capital – recebeu cerca de 2,7 milhões de turistas. Ano passado, esse número chegou a pouco mais de 4,8 milhões, alta de 81% em relação a 2018. Não por acaso, o município tem se apresentado como um dos mais importantes polos turísticos do Estado – enquanto a cidade de São Paulo recebe anualmente dois turistas por habitante, Olímpia tem 88 turistas por habitante. O setor decolou de fato nos últimos anos, mas esse movimento começou há muito mais tempo. Em 1950, uma operação liderada pela Petrobras não achou o petróleo que a companhia imaginava existir na região, mas resultou na descoberta de várias fontes de águas termais. Com temperaturas que chegam a 38ºC, essas fontes passaram a atrair visitantes de todo o país, dando início ao processo de transformação de Olímpia. De município com economia focada no agronegócio – hoje, o setor representa 20% do PIB local –, Olímpia passou a ter no turismo sua principal fonte de renda. Hoje, o segmento é responsável por 65% do PIB, com faturamento de R$ 2,6 bilhões.
O primeiro grande passo para essa mudança foi dado em 1985, quando o empresário Benito Benatti viu uma oportunidade nas águas termais e criou um parque aquático para lazer da população local. Dois anos depois, foi inaugurado o Thermas dos Laranjais como um clube associativo. Nos anos 2000, o parque passou a receber visitantes em regime day use. Cresceu em dimensão e reconhecimento, despertando cada vez mais a atenção de visitantes e atraindo novos investimentos para a cidade, como o novo parque aquático Hot Beach, inaugurado em 2017, recebendo mais de 1 milhão de visitantes em 2023, parques temáticos secos e crescimento da infraestrutura hoteleira.
Atualmente, o município se encontra no terceiro ciclo do turismo, conhecido como o ciclo da multipropriedade – o primeiro foi a abertura do parque aquático e o segundo foi a expansão do setor de hotelaria. Nesse terceiro modelo, vários proprietários compram uma fração do mesmo imóvel, ganhando o direito de usá-lo por períodos específicos do ano. Esse sistema permite que mais pessoas tenham acesso a acomodações em Olímpia, sem arcar com os custos totais de uma propriedade. Além de atrair um número maior de visitantes, a multipropriedade contribui para a fidelização dos turistas, pois garante que eles retornem regularmente para usufruir de suas unidades. O setor do turismo representa 65% do PIB de Olímpia, totalizando cerca de R$ 2,6 bilhões.
No setor de hotelaria, Olímpia tem cerca de 100 estabelecimentos de hospedagem, incluindo resorts, hotéis e pousadas, além dos imóveis de temporada no Registro de Hospedagem Caseira. Esses estabelecimentos somam 34 mil leitos hoteleiros, mais do que o triplo do que havia em 2016 (10 mil). Segundo dados da Secretaria de Planejamento e Finanças, em 2023 foram inaugurados 11 novos estabelecimentos, dos quais 8 são hotéis e 3 pousadas. Em 2024, entre janeiro e junho, mais 2 hotéis abriram suas portas. Além disso, há uma previsão de expansão significativa, com mais 6 mil leitos já licenciados para construção nos próximos anos.
EMPREGOS — De acordo com informações do Ministério do Turismo, o segmento é uma atividade que impacta em cerca de 50 setores da economia, contribuindo para a geração de empregos, renda e cadeiras produtivas de bens e serviços. Em Olímpia, com uma população de 55 mil habitantes, não é diferente. A geração de emprego formal cresceu 24% de 2020 para 2024, o que resultou em mais de 19 mil empregos com carteira assinada, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Dos empregos formais, 8,4 mil são ligados ao setor de serviços, 5,4 mil da indústria, 3,7 mil do comércio, 780 da agropecuária e 740 da construção civil.
Segundo uma pesquisa realizada pela Caravela, startup especializada em análise econômica regional e setorial, os hotéis, restaurantes e bares se destacam pelo alto volume de trabalhadores per capita. No caso dos hotéis são 840 funcionários para cada 10 mil habitantes na cidade, superando a média em outros municípios que é de 704. Em restaurantes e bares, o município possui 116 funcionários a mais para cada 10 mil habitantes comparado a outras cidades. No entanto, as atividades do comércio atacadista de alimentos e bebidas, mercadorias em geral e os serviços de bufê demonstram um grande potencial para novos investimentos locais. O comércio atacadista de alimentos e bebidas geralmente possui uma taxa de 855 trabalhadores para cada 10 mil habitantes, enquanto Olímpia tem uma taxa de 840. O mesmo potencial é observado no setor de comércio atacadista de mercadorias em geral.
A remuneração média dos trabalhadores formais é de R$ 3 mil, segundo a startup. A concentração de renda entre as classes econômicas em Olímpia é considerada alta e relativamente superior à média estadual – R$ 3.718, segundo o IBGE. As faixas de menor poder aquisitivo (E, até 2 salários mínimos, e D, de 2 a 4 salários mínimos) participam com 47,6% do total de remunerações da cidade, enquanto as classes mais altas representam 27,6%.
ESTRATÉGIAS — Para contribuir com os avanços da economia de Olímpia, a Prefeitura elaborou, em 2021, o Programa de Desenvolvimento Econômico de Olímpia (PDEO), que concede incentivos fiscais para empresas que se instalarem no Distrito Industrial, Baguaçu e Ribeiro dos Santos. Este ano o município também criou o Programa de Incubadora de Novas Empresas. Atualmente, existem 6.358 contribuintes mobiliários ativos no município, sendo 6.272 empresas e 559 autônomos. Em 2023, foram abertos 786 novos cadastros mobiliários, sendo 754 empresas e 32 autônomos. Já em 2024, de janeiro a junho, somam-se 493 cadastros mobiliários, sendo 472 empresas e 21 autônomos.
Em 2023, a Prefeitura criou o Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico (PDDT) dividido em quatro volumes. O primeiro trata da caracterização do município e inventário da oferta turística, oferecendo uma visão detalhada dos recursos disponíveis. O segundo volume contém relatórios da pesquisa do perfil da demanda turística, que identifica o perfil e as preferências dos turistas que visitam a cidade. Já o terceiro apresenta relatórios da pesquisa de taxas de ocupação Hoteleira, fornecendo dados essenciais para a gestão e planejamento do setor hoteleiro. Por fim, o quarto volume é dedicado ao planejamento estratégico, delineando os principais projetos e diretrizes para o crescimento ordenado e sustentável do turismo em Olímpia.
Segundo o prefeito da cidade, Fernando Cunha, os destinos turísticos precisam ter uma atenção especial com a população local. “É importante que os moradores vejam o turismo como um fator positivo na qualidade de vida, no desenvolvimento e na geração de empregos e renda”, afirmou Cunha. Ele explicou que Olímpia está entrando no quarto ciclo da evolução do turismo, que será marcado pela construção do Aeroporto Internacional do Norte Paulista. Esse projeto, que está previsto para ser inaugurado até o primeiro semestre de 2026, visa expandir a região para visitantes do exterior e melhorar a logística e o transporte de cargas, para atender às demandas locais do comércio e da população.