BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), afirma que a subida de Pablo Marçal (PRTB) na corrida pela prefeitura de São Paulo não assusta o governo, mas que eleitores devem estar atentos para o candidato “amigo dos criminosos”.
O responsável pela articulação política do governo também afirma que o presidente Lula (PT) será mais atuante nas eleições nas cidades em que a extrema direita está na disputa.
Padilha também afirma que o governo Lula é experiente para “não cair na cilada” de buscar interferir na eleição para o comando da Câmara. O discurso é o mesmo do presidente, que lembra o episódio de Dilma Rousseff (PT), que buscou eleger um aliado em 2015 e acabou ganhando a inimizade de Eduardo Cunha (hoje no Republicanos-RJ).
Apesar das falas, Lula se reuniu com Arthur Lira (PP-AL) na quarta-feira (28) para tratar da sucessão.
Padilha afirma ainda que a tensão na relação dele com Lira é “episódio da temporada passada”.
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PERGUNTA – O senhor acredita que o acordo no STF (Supremo Tribunal Federal) e as negociações com o Congresso vão reverter a situação que o presidente Lula descreveu como o sequestro do orçamento?
ALEXANDRE PADILHA – A gente viveu no governo anterior uma relação em que o Executivo ameaçava invadir o Supremo com um jipe, um soldado e fechar o Supremo. Pode até existir posições diferentes entre os três Poderes, mas eles sentarem para construir balizas de como caminhar daqui para frente tem que ser visto como um momento simbólico de ostentação da civilidade.
Segundo, que ele [o acordo] define balizas e agora tem um trabalho do Executivo, do Legislativo […] para ao longo da tramitação da Lei de Diretrizes Orçamentárias, do orçamento do próximo ano, traduzir aquelas balizas em medidas práticas. Uma questão clara daquela baliza é que a ‘emenda Pix’, como ela existiu, não vai existir mais. Nós vamos instituir um repasse fundo a fundo rastreável, que vai ter o benefício de ser rápido e mais rastreável.
P – O presidente da Câmara criticou no almoço em que se selou o acordo a dobradinha do Executivo com o Judiciário contra o Legislativo, sugeriu uma articulação.
AP – Tenho certeza de que não teve qualquer articulação e acho que aquele almoço faz uma celebração da independência dos três Poderes. Não vou comentar nenhuma das falas que podem ter acontecido lá. Mas eu quero comentar o resultado da reunião. Está ali o texto que é muito positivo para construir um caminho comum, negociado, de melhor alocação dos recursos da União, valorizando o papel dos parlamentares e reforçando as políticas públicas que são aprovadas pelo próprio Congresso através do PPA [Plano Plurianual].
P – Por falar em Lira, como está a relação com ele?
AP – Isso aí é um episódio da temporada passada. Eu, desde o começo do ano, dizia que isso não ia atrapalhar em nada o diálogo do governo no Congresso Nacional, tanto que nós terminamos esse um ano e oito meses de governo com a maior taxa de aprovação de projetos de iniciativa do governo da história da redemocratização. Também conseguimos aprovar projetos fundamentais que estavam no Congresso Nacional, que tinham sido paralisados pelo governo anterior, como a reforma tributária e que vão contribuir muito para que o Brasil sustente esse novo ciclo de crescimento e cresça a mais de 2% por ano nesses quatro anos.
P – O governo tem preferência por algum nome posto na disputa para a presidência da Câmara?
AP – A concentração do governo é na aprovação dos projetos que são importantes no país neste segundo semestre. A nossa prioridade absoluta não é discutir nem a presidência da Câmara, nem a presidência do Senado. Nossa prioridade absoluta é concluir a regulamentação da reforma tributária, a votação do [programa de crédito] Acredita, os projetos da chamada transição ecológica.
Segundo, nós temos experiência suficiente para saber que não cabe ao governo fazer qualquer tipo de intervenção num processo como esse. Tem uma antecipação desse processo que não era benéfica. Enquanto deputado federal, inclusive, tenho apreço em relação a todos os pré-candidatos que já existem da Câmara, tenho apreço aos mesocandidatos, que são aqueles quase anunciados, aos pós-candidatos que possam surgir. A gente já viu que, quando um governo faz intervenção nesse processo, não dá certo. Temos experiência suficiente para não entrar nessa cilada de querer intervir.
P – O presidente Lula deve promover uma reforma ministerial após as eleições municipais, como fez em outros mandatos?
AP – Cada governo é um governo diferente. O presidente Lula fez reformas ministeriais um ano depois do primeiro ano do governo, não necessariamente depois de eleições municipais. Quem estabelece se faz ou não reforma ministerial e quando faz é o presidente. O que o presidente tem dito é que está contando com os ministros que ele tem, que esse é o ano da colheita, de acelerar a execução daquilo que foi criado e projetado, que não está na mesa dele um debate de reforma ministerial nesse momento.
P – Sobre eleições municipais, o crescimento de Pablo Marçal em São Paulo assusta o governo Lula?
AP – Nada nos assusta. A gente tem experiência, a gente já viu muito cavalo de troia surgindo, que as pessoas acham que é uma coisa e é outra. O povo da cidade de São Paulo tem que ver se não tem um cavalo de troia aí que se apresenta como candidato coach e, na verdade, pode ser o candidato amigo dos criminosos. A campanha vai começar agora. Estamos muito felizes é com a liderança do Guilherme Boulos [PSOL]. Estamos felizes com a liderança que ele está expressando nas pesquisas e na cidade e com os acertos que ele vem fazendo na campanha. Um deles é essa junção da juventude, da ousadia, da visão contemporânea do Guilherme Boulos, com a experiência mais bem-sucedida, mais amada, sobretudo da periferia, que é a Marta Suplicy.
P – Qual deve ser o papel do presidente Lula nas eleições municipais?
AP – O primeiro papel do presidente Lula, nesses próximos 40 dias, é continuar governando o país. Ele falou na reunião com líderes de vários partidos que vai gravar para vários candidatos do PT ou que o PT apoia. Vai ter uma participação mais intensa nessas cidades onde tem frentes amplas que vão derrotar ícones da extrema direita pervertida.