Em agosto, 329.714 veículos eletrificados e híbridos leves circulavam pelas ruas brasileiras, segundo os últimos dados divulgados pela Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). No acumulado de janeiro a agosto, o mercado emplacou (ou seja, vendeu) 109.283 eletrificados leves, com aumento de 123%, sobre igual período de 2023 (49.052). A tendência está associada à economia de combustível e também guarda relação com o aumento na oferta de produtos no mercado. A chinesa BYD acelera nessa estrada de oportunidades. O vice-presidente da marca no Brasil, Alexandre Baldy, disse à DC NEWS que a rota é irreversível. “É um caminho sem volta”, afirmou.
O executivo disse que a montadora quer dar “acesso ao que é mais moderno, inovador e mais comprometido com o meio ambiente”. Mas que há entraves pelo caminho, como o imposto seletivo, que impacta a indústria de carros elétricos na reforma tributária: “é absolutamente sem sentido e sem qualquer justificativa técnica”.
O presidente da ABVE, Ricardo Bastos, chama a decisão de equivocada: “A base conceitual deste imposto é penalizar os produtos que fazem mal à saúde e ao meio ambiente. E a eletrificação não faz mal nem à saúde e nem ao meio ambiente”. Baldy destaca justamente a questão climática para criticar a inclusão dos carros elétricos no chamado imposto seletivo – uma decisão que o setor ainda tentará reverter.
O relator do projeto de regulamentação da reforma tributária no Senado é Eduardo Braga (MDB-AM). Com trânsito em Brasília – foi deputado e ministro –, Baldy disse esperar o início da tramitação formal para realizar uma “peregrinação” pelos gabinetes dos senadores. “Algumas pessoas questionam o processo produtivo das baterias para justificar a incidência do imposto. Há um desconhecimento enorme sobre o assunto.”
Ele também lembra que a BYD pretende também produzir baterias no Brasil. “Tudo que a BYD tem perspectiva de investir no Brasil é avaliado. A BYD tem projeção de produzir as baterias no Brasil e atender o mercado da eletromobilidade como um todo”. A montadora ainda se volta para outro segmento – o do transporte por aplicativos. Depois da 99, em julho último firmou parceria com a Uber para colocar nas ruas 100 mil veículos elétricos, começando por Europa e América Latina.
Ao concentrar aqui sua maior operação fora da China (além da fábrica, já existem 129 concessionárias e 80 em construção, com expectativa de chegar a 250 revendedoras em 2025), a BYD espera, segundo Baldy, mudar a visão dos brasileiros “de que o carro elétrico era muito distante da realidade”.
INDÚSTRIA – A indústria automobilística vive momento positivo, com anúncios de investimentos por algumas companhias. De janeiro a agosto, a produção (1,644 milhão) cresceu 6,6%, segundo a Anfavea, enquanto os licenciamentos (1,623 milhão) aumentaram 13,3%. De acordo com a ABVE, 2024 deve terminar com 150 mil veículos eletrificados leves vendidos. São 320 modelos, produzidos por 46 montadoras.
Em agosto de 2023, só a BYD teve 1.455 automóveis emplacados, 0,95% do total, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Em igual mês deste ano, foram 6.707 (3,92%), crescimento de 361%. O acumulado no ano saltou de 3.918 para 45.244, alta de 1.055%, com 3,78% do mercado de automóveis.
CAMAÇARI – A partir de 2025, com a conclusão das obras em Camaçari, na região metropolitana de Salvador, a 50 quilômetros da capital, a BYD passará a produzir seus veículos no Brasil, substituindo os importados. Será a fase da nacionalização da produção. Até o final deste ano, a produção deve começar a partir da montagem de kits vindos da China.
“É a marca mais verticalizada da indústria do planeta. Mais de 73% dos componentes são fabricados internamente”, disse Baldy, lembrando que durante pandemia a indústria automobilística brasileira sofreu com falta de insumos. Segundo ele, Camaçari será “o coração” da empresa na América do Sul.
Já foram investidos R$ 500 milhões no complexo, quase 10% dos R$ 5,5 bilhões de investimentos no Brasil anunciados neste ano. O VP acredita que a produção completa comece ainda no primeiro semestre de 2025. “O nosso objetivo é que o primeiro prédio esteja concluído em outubro [deste ano].” Até 2021, o local abrigava uma fábrica da Ford, que encerrou atividades no Brasil.