SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar tinha forte alta nesta quinta-feira (29), conforme dados sobre a economia dos Estados Unidos consolidavam apostas de um afrouxamento gradual na taxa de juros norte-americana.
Às 11h16, a moeda subia 1,58%, cotada a R$ 5,643, em linha com o avanço da divisa no exterior. Já a Bolsa recuava 0,63%, aos 136.473 pontos, depois de renovar a máxima histórica na véspera e ultrapassar a marca de 137 mil pontos pela primeira vez no fechamento.
O PIB (Produto Interno Bruto) anualizado dos Estados Unidos cresceu 3% no segundo trimestre, superando a estimativa inicial de 2,8% apresentada na primeira leitura preliminar. Economistas consultados pela Reuters previam que não haveria revisão.
O dado ainda acelerou em relação ao 1,4% registrado no primeiro trimestre, afastando ainda mais os temores de que uma desaceleração acentuada estaria em curso na maior economia do mundo.
Ao mesmo tempo, o número de pedidos iniciais de auxílio-desemprego recuaram na semana encerrada em 24 de agosto para 231.000, ante 233.000 da semana anterior e abaixo das estimativas de 232.000 pedidos.
A leitura é que a economia continua forte e que o mercado de trabalho, apesar de apresentar sinais leves de resfriamento, está mais resiliência do que se especulava no começo do mês.
O rimo da atividade americana impacta na tomada de decisões do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA). A dúvida não é mais se o ciclo de cortes terá início na próxima reunião da autoridade monetária, em 17 e 18 de setembro, mas sobre a magnitude das reduções.
Com confirmação de que a economia continua forte e não precisa de estímulos urgentes, o Fed provavelmente vai “adotar uma postura mais cautelosa no início do ciclo de cortes de juros”, diz André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais.
A ferramenta CME FedWatch indicava que 67,5% dos agentes financeiros precificavam um corte de 0,25 ponto percentual na próxima reunião, acima dos 65% da véspera. O de maior magnitude, de 0,50 ponto, reunia 32,5% das apostas, ante 35% na quarta-feira.
A perspectiva de um afrouxamento monetário gradual elevava os rendimentos dos Treasuries, os títulos do Tesouro norte-americano, o que tornava o dólar mais atraente no exterior.
O rendimento do Treasury de dois anos que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo tinha alta de 0,03 ponto percentual, a 3,898%. Com isso, o dólar avançava sobre a maioria das moedas emergentes, com altas frente ao peso mexicano, ao peso chileno e ao peso colombiano.
No Brasil, dados do IGP-M, a “inflação do aluguel”, acentuavam a desvalorização do real.
O Índice Geral de Preços-Mercado desacelerou mais do que o esperado por analistas em agosto, em alta de 0,29%, depois de ter avançado 0,61% no mês anterior, informou a FGV (Fundação Getulio Vargas). A expectativa era de avanço de 0,46%. O índice agora acumula alta de 4,26% em 12 meses.
“Com o IGP-M abaixo das projeções do mercado, aumentam as apostas de que o Copom (Comitê de Política Monetária) manterá a taxa Selic inalterada na próxima reunião”, diz Galhardo. A taxa básica de juros do país está em 10,50% ao ano.
Os próximos passos do BC (Banco Central) têm sido observados de perto pelo mercado. Na quarta-feira, foi confirmada a indicação de Gabriel Galípolo à presidência da autarquia, após o término do mandato de Roberto Campos Neto em 31 de dezembro deste ano.
Se aprovado pelo Senado Federal, o atual diretor de Política Monetária assume o comando da instituição com a missão de angariar a confiança do mercado financeiro, que teme um BC leniente no combate à inflação em 2025, quando o Copom terá maioria dos integrantes indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A indicação de Galípolo já era amplamente esperada. “Desde o ano passado, os agentes financeiros já trabalhavam com a hipótese dele estar à frente do BC, e de lá para cá houve uma mudança quanto à percepção que o mercado tinha dele”, diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimento.
“Esperava-se que Galípolo sucumbiria às pressões do governo, mas a postura mais dura no combate à inflação reduziu essa percepção.”
No mercado de juros futuros, as taxas tiveram altas firmes após o anúncio. A reação da curva brasileira traduziu a percepção de que aumentaram as chances de alta da Selic em setembro ainda que Galípolo só vá assumir o comando do BC em 2025. Isso porque o diretor, em suas falas mais recentes, tem reforçado que o Copom elevará a taxa básica se for necessário.
Com a desaceleração do IGP-M e da inflação medida pelo IPCA-15, a dúvida é se os dados estão “desconfortáveis” o suficiente para o comitê considerar um aperto monetário no próximo encontro.
Quanto mais o Fed cortar a taxa americana e mais o BC subir a Selic por aqui, melhor para o real, que fica mais atraente a investimentos que levam o diferencial de juros em consideração.