Marçal repete Bolsonaro em 2022 e silencia após derrota em SP

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O influenciador Pablo Marçal (PRTB) cancelou entrevista que daria à imprensa na noite deste domingo (6), após derrota nas urnas para o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL).

Com isso, o autointitulado ex-coach repete comportamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que também silenciou após a vitória do presidente Lula (PT) em 2022.

Marçal havia organizado um evento na zona oeste da cidade para receber pessoas envolvidas na campanha e jornalistas. A entrevista estava prevista para as 19h, mas ele nunca apareceu no espaço. Quem falou com a imprensa após a derrota foi Leonardo Avalanche, presidente do PRTB, que disse que o influenciador não deve contestar as urnas.

Às 20h30, a assessoria de imprensa de Marçal repassou aos jornalistas um recado do autointitulado ex-coach: ele vai se pronunciar via redes sociais, quando recuperar seu perfil. Neste sábado, a Justiça Eleitoral suspendeu a conta reserva do influenciador no Instagram, depois de ele publicar um laudo falso associando Boulos ao uso de cocaína.

Nunes e Boulos disputarão o segundo turno, conforme projetou o Datafolha, com base nos dados da apuração divulgados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Após campanha agressiva, Marçal ficou em terceiro lugar, encostado em ambos.

Nas últimas semanas o influenciador havia se recuperado nas pesquisas de intenção de voto, beneficiado com o fim do horário eleitoral na TV e com apoios de figuras relevantes da direita, como os deputados Ricardo Salles (Novo) e Nikolas Ferreira (PL).

Vinha apresentando, por outro lado, altos índices de rejeição nos levantamentos.

Por semanas, adversários utilizaram a propaganda televisiva para atacar Marçal, expondo polêmicas e fatos negativos do seu passado, como a condenação do influenciador por furto qualificado em 2010, envolvendo sua participação em quadrilha de golpes digitais.

Sem tempo de TV por estar filiado ao PRTB, uma sigla nanica, Marçal estagnou nas pesquisas, mas seu eleitorado mostrou resiliência e ele tinha desidratado. Pelo contrário, na última semana voltou a desbancar Nunes nas pesquisas e assumir a dianteira entre eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que oficialmente apoia o prefeito e que foi responsável por indicar o ex-Rota Ricardo Mello Araújo (PL) para a vice.

Ao longo da campanha, o ex-coach ativou símbolos importantes para os bolsonaristas, como a defesa da família patriarcal, de uma vida regida por Deus e do livre mercado. Marçal se vendeu como o único candidato que combate o sistema e conseguiu até mesmo posicionar Bolsonaro como um líder que se dobrou a ele.

O ex-presidente manteve uma relação de morde e assopra com o influenciador, desfazendo elogios após pressão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e de líderes partidários que apoiam Nunes. Falas de Marçal que confirmaram a intenção de possivelmente concorrer à Presidência em 2026, ameaçando o espólio de Bolsonaro, também levaram o ex-mandatário a ensaiar críticas a ele.

Elas foram, porém, mal recebidas entre o próprio eleitorado do ex-presidente, que precisou recuar. Pela primeira vez, uma figura de direita que não se forjou no seio do bolsonarismo ameaçava a hegemonia de Bolsonaro entre seus eleitores, que não identificam em Nunes um líder de direita.

Na reta final, com o crescimento de Marçal, o ex-presidente voltou a criticá-lo, chamando o ex-coach de “fofoqueiro” e dizendo que ele “mente descaradamente”.

Durante a campanha, Marçal tornou-se conhecido pelo discurso agressivo, como quando disse que a deputada Tabata Amaral (PSB) foi responsável pelo suicídio do pai, e pela criação de factoides, como aquele que associava falsamente o deputado Guilherme Boulos (PSOL) ao consumo de cocaína.

Depois de passar meses prometendo que iria desmascarar o psolista no último debate antes do primeiro turno, o da TV Globo, o influenciador chegou ao evento com a versão esvaziada.

Primeiro, por reportagem da Folha que revelou que ele se baseava em um réu homônimo para acusar Boulos de uso de drogas. Depois, pelo próprio parlamentar, que contou que a internação no Hospital do Servidor mencionada pelo rival havia sido motivada por um episódio de depressão quando jovem.

Sem nada mais a mostrar, Marçal apelou na sexta-feira (4) para a falsificação de um laudo de uma clínica particular, cujo dono é próximo ao ex-coach. A Justiça determinou a remoção da postagem e a suspensão do perfil reserva do influenciador nas redes sociais. Boulos pediu a prisão de Marçal, que foi negada.

No fim, as provocações do influenciador ensejaram o clima bélico que marcou o período eleitoral, resultando na cadeirada do apresentador José Luiz Datena (PSDB) contra Marçal e no soco desferido pelo assessor do ex-coach, Nahuel Medina, contra o marqueteiro de Nunes, Duda Lima.

O influenciador adotou como estratégia a produção de polêmicas para se tornar conhecido entre os eleitores, uma tática transposta de seu império digital. Vendedor de cursos e mentorias com pitadas de auto-ajuda, Marçal ficou famoso a partir dos cortes –vídeos curtos nos quais ele aparece com alguma fala polêmica, agressiva ou inusitada e que logo viralizam.

A indústria dos cortes, inclusive, levou o influenciador a ter os perfis nas redes sociais suspensos ao fim de agosto. A Justiça entendeu que havia indícios de que o empresário estaria cometendo abuso econômico ao promover com recompensas financeiras cortes de vídeos produzidos por apoiadores.

Marçal alega não ter remunerado ninguém durante o período eleitoral. A Folha de S.Paulo mostrou, porém, que uma seguidora afirmou nas redes que ganhou uma competição de cortes do influenciador em maio deste ano, quando a pré-candidatura do ex-coach já havia sido anunciada.

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