SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O apresentador de TV e jornalista José Luiz Datena (PSDB) negou nesta terça-feira (6) ter traído a deputada federal Tabata Amaral (PSB) e disse que desta vez manterá a candidatura à Prefeitura de São Paulo, embora seu desejo seja de concorrer ao Senado.
A próxima eleição ao Senado será em 2026. Ou seja, caso Datena seja eleito prefeito e já queira entrar no Congresso na próxima disputa, precisará deixar seu mandato pela metade algo semelhante ao que ocorreu com João Doria, quando trocou a administração municipal pelo Governo de São Paulo.
Em entrevista ao podcast O Assunto, Datena afirmou que planejava ser vice na chapa de Tabata, mas que foi trocado pela deputada. Disse que, depois disso, resolveu concorrer ao Executivo paulistano pelo PSDB. Antes de se juntar aos tucanos, o jornalista estava filiado ao PSB.
“Em nenhum momento eu traí a Tabata. Queria ser vice dela, e eu só fiquei sabendo pela imprensa que ela já estava negociando, começou a negociar [com o PSDB] com a possibilidade de eu desistir”, disse.
Datena afirmou ainda que, após a publicação dessas notícias, conversou com Tabata e deixou claro que não pretendia se filiar ao PSDB.
“Eu não queria ser prefeito de São Paulo, o meu objetivo principal é ser senador. E ainda hoje o meu objetivo principal é ser senador, é o que sempre pensei. Queria começar como senador”, disse Datena.
“Mas no caminho ela [Tabata] me trocou por minutos de TV, e eu não sou relógio. Ela trocou um ativo importante do partido dela”, prosseguiu.
Tabata indicou em entrevista ao mesmo podcast, nesta segunda, que se sentiu traída por Datena e por parte do PSDB. Ao podcast Tabata disse que “aprendeu em Brasília que traições são comuns”.
Questionado pela jornalista Natuza Nery se de fato vai concorrer à prefeitura após o seu histórico de desistências, Datena demonstrou certa irritação com o tema.
“Estou dizendo que vou. Eu iria, se houvesse apoio do partido. Eu sinto que há apoio de grande parte do partido. Essa é uma outra eleição, vou até para calar a boca dessas pessoas. Eu tenho uma missão de ajudar o povo”, disse o tucano, que acumula quatro desistências de eleições anteriores.
O PSDB é o 11º em que o apresentador ingressa. Antes, Datena integrou o PT (de 1992 a 2015), PP, PRP, DEM, MDB, PSL, União Brasil, PSC, PDT e PSB.
Na entrevista ao podcast, Datena manteve fortes críticas à gestão do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e disse que pretende auditar contratos da prefeitura.
Afirmou que pelo menos os contratos com duas empresas de ônibus Transwolff e UPBus, suspeitas de envolvimento com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), serão rescindidos.
“Você tem sob ordem desse prefeito uma sombra enorme de que a maioria das licitações é conduzida de forma absolutamente criminosa, é criminosa essa forma de conduzir licitação aqui em São Paulo”, disse.
“Esse prefeito está desesperado atrás da reeleição porque, dependendo do que auditar, ele corre o risco de ir para a cadeia. Já está envolvido em máfia de creche, sendo investigado pela Polícia Federal”, completou.
Como a Folha de S.Paulo mostrou, Nunes é um dos alvos da investigação da PF segundo a qual ONGs que administram creches municipais teriam recebido de volta parte do dinheiro contabilizado como despesas com materiais.
As empresas faziam os repasses via cheques, depósitos e boletos, beneficiando pessoas ligadas à administração dessas entidades. O prefeito nega qualquer participação.
Entre as propostas sugeridas no programa, Datena se comprometeu em instalar câmaras nos agentes de fiscalização do município e da GCM (Guarda Civil Metropolitana). Também prometeu mais armas para a GCM agir com poder de polícia.
“Se o polícia usa câmera, por que que o fiscal não pode usar câmera de corpo? Ah, os fiscais são todos corruptos? Não, mas aqueles que são vão ser pegos e levados à cadeia”, disse o apresentador, que citou o suposto caso de um vendedor de cachorro-quente que teria sido forçado a pagar uma propina de R$ 10 mil.
HISTÓRICO DE DESISTÊNCIAS
Datena voltou atrás após ser pré-candidato à prefeitura pelo PP em 2016. Dois anos depois, ele anunciou que deixaria a televisão para concorrer ao Senado pelo DEM, mas voltou à grade da TV Bandeirantes.
Em 2020, o jornalista foi um dos principais nomes para ser o vice na chapa de Bruno Covas à prefeitura, mas resolveu voltar atrás para se preparar e se lançar a governador, senador ou até mesmo presidente da República em 2022 o que não aconteceu.
Por último, em 2022, o comunicador avaliou a chance de se candidatar ao Senado com apoio do então presidente Jair Bolsonaro (PL) na chapa do hoje governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na época, Datena era do PSC.
Bolsonaro chegou a falar a apoiadores que tinha “fechado com o Datena”. Horas depois de o ex-presidente declarar seu apoio, o apresentador desistiu da disputa.