BC da China lança pacote de estímulo mais agressivo desde a pandemia

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Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O banco central da China divulgou nesta terça-feira (24) seu maior pacote de estímulo desde a pandemia para tirar a economia de seu estado deflacionário e voltar a atingir a meta de crescimento do governo, mas analistas alertaram que a ajuda fiscal terá de ser maior para alcançar esse objetivo. O governo não divulgou quando as medidas anunciadas entram em vigor.

O pacote foi mais amplo do que o esperado, oferece mais financiamento e cortes de juros, e marca a mais recente tentativa das autoridades de restaurar a confiança na segunda maior economia do mundo, depois que uma série de dados decepcionantes levantou preocupações sobre uma desaceleração estrutural prolongada.

O presidente do banco central, Pan Gongsheng, disse que, em um futuro próximo, a autarquia reduzirá o montante de dinheiro que os bancos devem manter como reservas -a taxa de compulsório- em 0,50 ponto percentual, liberando cerca de 1 trilhão de iuanes (R$ 790 bilhões) para novos empréstimos.

Dependendo da situação de liquidez do mercado no final deste ano, a taxa de compulsório poderá sofrer uma nova redução entre 0,25 e 0,5 ponto percentual, afirmou Pan.

O BC da China também reduzirá a taxa de recompra reversa de sete dias, seu novo índice de referência, em 0,20 ponto percentual, caindo para 1,5%, bem como outras taxas de juros, com o intuito de injetar mais liquidez na economia e reduzir os custos de empréstimos.

A medida fará com que a taxa do instrumento de empréstimo de médio prazo (MLF) do país seja reduzida em 0,3 ponto percentual. A taxa primária de empréstimos (LPR) também deverá ser reduzida em cerca de 0,2 a 0,25 ponto percentual.

“A medida provavelmente chega um pouco tarde demais, mas antes tarde do que nunca”, comentou Gary Ng, economista sênior da Natixis. “A China precisa de um ambiente de taxas mais baixas para aumentar a confiança.”

MEDIDAS PARA A CRISE IMOBILIÁRIA

O pacote também incluiu suporte ao mercado imobiliário com uma redução de 50 pontos-base nas taxas de juros médias para hipotecas existentes, que será uma medida solicitada aos bancos comerciais.

Haverá também um corte na exigência de entrada mínima para 15% para quem quer adquirir uma segunda moradia. Hoje, essa exigência é de 25%.

O mercado imobiliário da China tem sofrido uma grave desaceleração desde seu pico em 2021. Uma série de incorporadoras deu calote, deixando para trás grandes estoques de apartamentos indesejados e uma lista preocupante de projetos não concluídos.

Pequim removeu muitas restrições à compra de moradias e reduziu drasticamente as taxas de hipoteca e os requisitos de entrada em resposta, mas até agora não conseguiu reanimar a demanda ou deter a queda dos preços das casas, que caíram no ritmo mais acentuado em mais de nove anos em agosto.

A crise imobiliária pesou muito sobre a economia e prejudicou a confiança do consumidor, uma vez que 70% das economias das famílias estão depositadas em imóveis. Apesar das medidas, analistas não estão convencidos de que elas terão um impacto significativo.

“As famílias que não têm certeza sobre suas perspectivas de renda em um mercado de trabalho fraco podem não estar dispostas a assumir uma alavancagem maior”, disseram os analistas da Gavekal Dragonomics em uma nota sobre as medidas mais recentes.

MEDIDAS PARA MERCADO DE CAPITAIS

O banco central chinês também introduziu duas novas ferramentas para impulsionar o mercado de capitais.

A primeira é um programa de swap com tamanho inicial de 500 bilhões de iuanes (R$ 393,5 bilhões) que permite que fundos, seguradoras e corretoras tenham acesso mais fácil a financiamento para comprar ações.

Já a segunda oferece até 300 bilhões de iuanes (R$ 236,1 bilhões) em empréstimos baratos do banco central a bancos comerciais para ajudá-los a financiar compras e recompras de ações de outras entidades.

AÇÕES TÊM MAIOR ALTA EM DOIS ANOS

Após o anúncio do pacote chinês, a Bolsa da China registrou a maior alta em mais de dois anos. O índice CSI300, que reúne as principais ações de Xangai e Shenzhen, fechou com uma valorização de 4,33%, a 3.351 pontos, na maior subida diária desde março de 2022. Já o índice SSEC, de Xangai, teve alta de 4,15%, a maior desde julho de 2020.

“A reação do mercado até agora é positiva”, disse Khoon Goh, chefe de pesquisa do ANZ na Ásia. “O pacote de medidas até agora, eu diria, é provavelmente maior do que o que o mercado estava esperando.”

Os títulos chineses subiram em uma reação inicial aos cortes maiores do que o esperado nas taxas, embora tenham reduzido os ganhos ao longo do dia, com os investidores realizando lucros.

O rendimento do título de 10 anos caiu para uma mínima de 2%, antes de ser negociado com alta de cerca de 6 pontos-base, a 2,065%.

VAI DAR RESULTADO?

Economistas questionaram até onde as injeções de liquidez do Banco do Povo da China serão produtivas, dada a demanda de crédito extremamente fraca por parte de empresas e consumidores, e observaram a ausência de quaisquer políticas destinadas a apoiar a atividade econômica real.

“Esse é o pacote de estímulo mais significativo do banco central desde os primeiros dias da pandemia. Mas, por si só, pode não ser suficiente”, disse Julian Evans-Pritchard, analista da Capital Economics, lembrando que pode ser necessário mais estímulo fiscal para que o crescimento retorne a uma trajetória em direção à meta oficial deste ano, de aproximadamente 5%.

Os dados econômicos de agosto não atenderam às expectativas, aumentando a urgência para que as autoridades implementassem mais medidas apoio.

Do ponto de vista fiscal, os governos locais têm acelerado a emissão de títulos para ajudar a financiar projetos de infraestrutura, mas analistas dizem que pode ser necessário mais.

“É necessária uma política fiscal agressiva para injetar uma demanda econômica genuína”, avaliaram os analistas do ANZ em uma nota sobre as medidas do banco central.

Veja abaixo as medidas anunciadas pelo BC chinês, que ainda não têm data para entrar em vigor.

Corte na taxa de compulsório: O BC da China reduzirá a taxa de compulsório dos bancos em 50 pontos-base no futuro próximo, liberando cerca de 1 trilhão de iuanes para novos empréstimos. Dependendo da situação de liquidez do mercado no final deste ano, a taxa poderá ser reduzida ainda mais, de 0,25 a 0,5 ponto percentual.

Corte de taxas: Redução da taxa de recompra reversa de sete dias em 0,2 ponto percentual, para 1,5%. A medida deve guiar a taxa do instrumento de empréstimo de médio prazo (MLF) para uma queda de 0,3 ponto percentual, e reduzir taxa primária de empréstimos (LPR) e a taxa de depósito em 0,2 a 0,25 ponto percentual.

Redução na taxa de hipoteca de moradia usada: Os bancos comerciais serão orientados a reduzirem as taxas de hipoteca de moradia usadas em 0,5 ponto percentual, em média, a fim de proporcionar algum alívio às famílias.

Entrada menor para comprar imóvel: A China reduzirá a taxa mínima de entrada para compradores de segunda residência a 15% em todo o país, em vez dos atuais 25%.

Reativação do mercado de ações: O órgão regulador de valores mobiliários da China emitirá orientações para a entrada de fundos de médio e longo prazos no mercado e medidas para promover fusões, aquisições e reorganizações. A instituição apoiará ainda mais o fundo estatal chinês Central Huijin Investment na compra de ações e na expansão do escopo de investimentos.

Financiamento para compra de ações: O BC chinês introduziu duas novas ferramentas para impulsionar o mercado de capitais. A primeira é um programa de swap com um tamanho inicial de 500 bilhões de iuanes que permite que fundos, seguradoras e corretoras tenham acesso mais fácil a financiamento para comprar ações. A segunda oferece até 300 bilhões de iuanes em empréstimos baratos do banco central a bancos comerciais para ajudá-los a financiar a compra e recompra de ações de empresas listadas.

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