SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em leve alta frente ao real nas primeiras negociações desta segunda-feira (26), em linha com a recuperação da divisa norte-americana no exterior, à medida que investidores demonstram cautela enquanto aguardam uma série de dados econômicos ao longo desta semana.
Às 9h04, o dólar à vista subia 0,29%, a R$ 5,49 na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,41%, a R$ 5,50.
Na sexta-feira (23), o dólar fechou em forte queda de 1,95%, aos R$ 5,479, e a Bolsa brasileira avançou 0,32%, aos 135.608 pontos. O dia foi marcado pelo discurso de Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), no simpósio de Jackson Hole.
Em meio à expectativa por sinalizações sobre a trajetória da política monetária americana, Powell afirmou que “chegou a hora” de reduzir os juros, confirmando as apostas de que o ciclo de afrouxamento monetário provavelmente terá início na próxima reunião da autarquia, em setembro.
Entre as justificativas, ele disse que os riscos crescentes para o mercado de trabalho não deixam espaço para os juros altos e a inflação está a caminho de alcançar a meta de 2%.
“Os riscos de alta para a inflação diminuíram. E os riscos de queda para o emprego aumentaram. Chegou a hora de ajustar a política. A direção a ser seguida é clara, e o momento e o ritmo dos cortes nos juros dependerão dos dados que chegarem, da evolução das perspectivas e do equilíbrio dos riscos”, disse.
O Fed trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto dados de inflação e do mercado de trabalho. O objetivo é atingir o chamado “pouso suave”, no qual o índice inflacionário converge para a meta sem maiores danos à empregabilidade do país.
Temores em relação aos números de desemprego criaram uma ansiedade adicional nas últimas semanas sobre o estado da economia americana, em meio à convergência da inflação à meta.
Em relatório divulgado na quinta-feira, os pedidos de auxílio desemprego aceleraram para 232 mil na semana encerrada em 17 de agosto, ante expectativa de 230 mil de analistas consultados pela Reuters. Na leitura semanal anterior, haviam sido 228 mil pedidos.
Os números vieram após uma revisão na quarta-feira mostrar que os EUA criaram 818 mil empregos a menos do que o divulgado anteriormente nos 12 meses até março.
“Faremos tudo o que pudermos para apoiar um mercado de trabalho forte à medida que progredimos em direção à estabilidade de preços. Com uma redução apropriada da restrição da política monetária, há boas razões para pensar que a economia voltará a ter uma inflação de 2%, mantendo um mercado de trabalho forte”, afirmou Powell.
Para os mercados, sobretudo emergentes, a perspectiva de um corte nos juros “aliviou a pressão, fortalecendo suas moedas e reduzindo as taxas de juros futuros”, disse Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital.
Além da cena brasileira, Wall Street reagiu com otimismo ao discurso. O Dow Jones subiu 1,14%, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq Composite avançaram 1,13% e 1,47%, respectivamente.
“Ele enfatizou a necessidade de cautela, sinalizando que os cortes nas taxas de juros acontecerão de maneira gradual e dependente dos dados econômicos”, afirma. A indefinição moderou as expectativas do mercado quanto a cortes mais agressivos, como de 0,50 ponto percentual, “especialmente diante de dados mistos, como o esfriamento do mercado de trabalho e consumo ainda resiliente”.
Na visão dele, os investidores esperavam um compromisso mais explícito com cortes maiores, ainda que os mercados acionários daqui e dos EUA tenham reagindo com otimismo.
Na ferramenta CME FedWatch, operadores passaram a ajustar apostas: 63,5% deles enxergam probabilidade de uma redução de 0,25 ponto percentual, ante 73% da véspera. O de maior intensidade, de 0,50 ponto, reúne agora 36,5% dos investidores, em comparação aos 28% de quinta-feira.
A perspectiva de juros mais baixos nos EUA derruba os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro americano, e gera um maior apetite por ativos de maior risco, porque aumenta os diferenciais de juros entre a maior economia do mundo e outros países.
Nos mercados de câmbio, isso significa o abandono do dólar e uma busca por moedas como o real e outros pares emergentes para operações de “carry trade”. A moeda norte-americana recuava mais de 1% contra o peso mexicano, o peso colombiano e o rand sul-africano.